Donald Trump, presidente dos EUA, durante evento (Getty Images)
Repórter
Publicado em 8 de outubro de 2025 às 16h31.
Última atualização em 8 de outubro de 2025 às 17h10.
O presidente de Taiwan, Lai Ching-te, participou nesta semana do programa de rádio e podcast americano The Clay Travis and Buck Sexton Show, onde comentou sobre as políticas da ilha e a constante pressão chinesa. Ele citou ainda a possibilidade de o presidente dos EUA, Donald Trump, conquistar um Prêmio Nobel da Paz.
“Esperamos continuar recebendo o apoio de Trump. Caso o presidente consiga convencer Xi Jinping a abandonar permanentemente qualquer agressão militar contra Taiwan, o presidente Trump poderia ser sem dúvida nomeado ao Prêmio Nobel da Paz”, disse Lai.
O comentário vem após Trump ter anunciado que deseja o prêmio e que acredita merecê-lo. O Nobel da Paz é dedicado a líderes que ajudaram a pacificar o mundo e evitar guerras. O líder americano diz que conseguiu encerrar diversos conflitos desde que voltou à Casa Branca, mas em várias ocasiões houve apenas pausas pontuais, como no confronto entre Israel e Gaza, no qual os dois lados debatem um acordo proposto por Trump.
Ao mesmo tempo, Trump ordenou bombardeios a instalações nucleares do Irã neste ano e ataques a barcos na costa da Venezuela, pela acusação de que eles estariam levando drogas. Grupos de direitos humanos apontam que os Estados Unidos não possuem autoridade legal para afundar barcos, com o risco de matar pessoas, sem que elas antes tenham passado por um devido processo legal.
O líder americano também mudou o nome do Departamento de Defesa, órgão do governo americano que comanda os militares, para Departamento da Guerra, para enfatizar que o país está preparado para entrar em novos confrontos.
Trump já foi indicado ao Nobel da Paz pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Cabe ao comitê que organiza o prêmio decidir quem será premiado a cada ano, entre milhares de indicações. O vencedor do Nobel da Paz de 2025 será anunciado nesta sexta-feira, 10.
Os EUA continuam sendo os principais apoiadores internacionais de Taiwan.
A ilha de Taiwan recebeu os líderes que fugiram da China continental após a Revolução Comunista de 1949, e reivindica autonomia em relação a Pequim. Já o governo da China defende que Taiwan é parte de seu território, e há temores de que suas forças militares tentem ocupar a ilha no futuro. O apoio militar dos EUA a Taiwan, no entanto, ajuda a impedir que isso ocorra.
Os EUA também são os maiores fornecedores de armas para a ilha, mas o país não anunciou novas vendas para Taiwan desde que Trump assumiu a Presidência mais cedo neste ano. A China continua fazendo exercícios de patrulha com seus barcos e aviões nos mares ao redor de Taiwan.
Lai Ching-te diz que a autonomia de Taiwan é de suma importância para outros países, especialmente aos rivais da China. Ele alerta que, se a ilha for anexada, pode prejudicar a ordem internacional.
“O desafio vai além da simples anexação de Taiwan. Uma vez anexada Taiwan, a China ganhará maior força para competir com os Estados Unidos no cenário internacional, prejudicando a ordem internacional baseada em regras", defende.
Quando questionado sobre o que diria diretamente a Trump, caso pudessem se encontrar, o presidente adiciona:
“Eu o aconselharia a prestar especial atenção ao fato de que Xi Jinping não está apenas realizando exercícios militares cada vez mais amplos no Estreito de Taiwan, mas também expandindo as forças militares no Mar da China Oriental e no Mar do Sul da China.”
Além disso, Lai Ching-te anunciou um plano para aumentar a parcela do PIB de Taiwan para autodefesa, dos atuais 3,32%, projetados para o ano que vem, para 5% até 2030.
Todavia, Trump diz que o orçamento para a defesa deveria atingir 10% do PIB da ilha. A recomendação é endossada pelo Pentágono.
De acordo com o Ato de Relações com Taiwan, ratificado em 1979, os EUA têm obrigação legal de fornecer a Taiwan meios de autodefesa. Mesmo assim, o país sempre assumiu uma postura ambígua, nunca deixando claro se responderia a um ataque chinês na ilha.
Após a entrevista, o órgão chinês responsável por assuntos de Taiwan emitiu uma declaração repreendendo o presidente de Taiwan, com linguagem dura.
“Ele [Lai] se envolveu em negociações estrangeiras sem princípios e na venda sem limites de Taiwan, prostituindo-se e aliando-se a forças estrangeiras", diz a nota.
“Lai Ching-te e as forças da “independência de Taiwan” não passam de formigas sacudindo uma árvore: acabarão sendo jogados na lata de lixo da história”.
O depoimento agressivo vem pouco antes de 10 de outubro, dia em que a China comemora o aniversário da Revolução Comunista e Taiwan celebra sua data nacional. No ano passado, a China conduziu extensos exercícios militares e ‘jogos de guerra’ ao redor da ilha nesse dia, quando lançou aeronaves de porta-aviões e circulou a ilha com navios de guerra.