A Netflix House Philadelphia fica no shopping King of Prussia (Divulgação Netflix House)
Redação Exame
Publicado em 20 de novembro de 2025 às 16h57.
Última atualização em 20 de novembro de 2025 às 17h13.
A Netflix e o criador de conteúdo MrBeast, dois dos nomes mais influentes da indústria do entretenimento, estão entrando em um território que até pouco tempo parecia exclusivo da Disney: experiências presenciais e parques temáticos. Ambos buscam transformar suas marcas em novas formas de engajamento.
Neste mês, o streaming inaugurou a Netflix House, no shopping King of Prussia, na região da Filadélfia. É a primeira de um conjunto de instalações projetadas para receber fãs, oferecer jogos, experiências imersivas e ambientes instagramáveis inspirados em séries como Wednesday e One Piece. A segunda, prevista para ser lançada em dezembro desse ano, ficará na Galeria Dallas, no Texas.
MrBeast, por sua vez, lançou na última semana o Beast Land, um mini parque temático temporário na Arábia Saudita, aberto por 45 dias, com atrações que reproduzem desafios famosos de seus vídeos - incluindo o recurso de "alçapões", marca registrada de suas competições.
Beast Land é um mini parque temático na Arábia Saudita (Reprodução/Redes Sociais)
Mas a pergunta que não quer calar é: por que dois gigantes digitais estão seguindo a trilha da Disney?
Segundo especialistas entrevistados pelo Business Insider, duas forças explicam esse movimento. Uma delas é o desejo crescente por experiências físicas após anos consumindo apenas conteúdo digital.
"Há muita saturação de conteúdo em frente às telas", disse Mike Ellery, diretor de criação da Sparks, que trabalhou com a Netflix em ativações presenciais. "As pessoas querem fazer coisas ao vivo."
MrBeast e os fãs na inauguração do mini parque
Dados da Deloitte mostram que eventos ao vivo (shows, espetáculos e esportes) voltaram ou até superaram o nível pré-pandemia. A MG2 Advisory identificou que a Geração Z, após os anos de isolamento, tem buscado cada vez mais interações presenciais. Em 2025, dois em cada cinco jovens entre 18 e 26 anos fizeram compras principalmente ou exclusivamente em lojas físicas.
A outra força é econômica. A Netflix enfrenta desaceleração no crescimento de assinantes nos EUA, e o tempo dedicado aos seus conteúdos tem caído. Já MrBeast corre para tornar a Beast Industries lucrativa.
Ambos buscam ampliar o retorno sobre o investimento bilionário em conteúdo permitindo que fãs vivenciem suas marcas no mundo real.
"É um reconhecimento de que a batalha pelo tempo é uma espécie de missão inútil", disse o analista de mídia Doug Shapiro, consultor sênior da BCG. "O tempo é finito."
As primeiras iniciativas têm preços acessíveis e são flexíveis.
Na Netflix House, os jogos variam entre US$ 25 e US$ 40 (equivalente e de R$ 133 a R$ 213). O Beast Land cobra US$ 7 (R$ 37) pela entrada e até US$ 66 (aproximadamente R$ 352) pelo acesso completo.
É um ticket inferior ao de parques tradicionais, como a Disney World, onde os ingressos começam em US$ 120 por dia (equivalente a R$ 640).
A escolha de shopping centers reforça a estratégia da Netflix de criar locais de retorno fácil, com atividades que mudam de acordo com a cidade.
Ala "Wednesday: Eve of the Outcasts" na Netflix House (Divulgação Netflix House)
"A forma como isso foi projetado torna as coisas naturalmente 'instagramáveis'. Isso alimenta a economia da experiência. A geração mais jovem quer isso", afirma Melissa Gonzalez, fundadora e diretora da MG2.
MrBeast também reproduz no Beast Land a lógica de seus vídeos. Segundo o Youtuber, o objetivo era permitir que os fãs experimentassem como é competir em um desafio do canal.
A comparação com a Disney é inevitável. O conglomerado transformou seu universo de personagens em um negócio de parques de US$ 36 bilhões (em torno de R$ 192 bilhões). MrBeast, inclusive, apresentou a investidores planos inspirados nesse modelo.
Por ora, porém, tanto Netflix quanto MrBeast agem de forma cautelosa. A Netflix enfatiza que as "Casas" têm foco mais na conexão com fãs do que na receita.
O Beast Land, por sua vez, está integrado ao festival saudita Riyadh Season, o que reduz o risco financeiro.
Segundo Jason Ambler, diretor de conteúdo da Falcon's Beyond, esses projetos têm um limite natural de escala em comparação com parques temáticos maiores, que dependem de um grande número de visitantes que ficam por mais tempo e gastam muito.
Especialistas alertam que experiências físicas exigem execução impecável. Conteúdos da Netflix precisam funcionar no mundo real sem parecer artificiais, e diferentes localidades podem trazer desafios de licenciamento e adaptação.
Mesmo assim, o objetivo não é criar um império de parques da noite para o dia, mas encantar fãs, reduzir cancelamentos e ampliar consumo dos próprios produtos.
Fãs com produtos do MrBeast na Beast Land (Reprodução/Redes Sociais)
"Trata-se de criar uma experiência compartilhável que você pode ter na vida real com seus amigos e pessoas queridas, e você pode amplificar isso facilmente nas redes sociais", disse Ellery.
No longo prazo, porém, não há como descartar que essas experiências possam se transformar em algo maior.
"Todas as franquias de sucesso começam a pensar em como podem monetizar ainda mais", disse Scott Purdy, consultor da indústria de mídia da KPMG US. "Elas estão trilhando um caminho já percorrido por outras empresas em termos de maturidade empresarial. Quando as empresas desaceleram após um crescimento frenético, começam a explorar outras possibilidades. Não acho que seja apenas uma questão de marketing."