Visto de estudante nos EUA: estudantes com entrevistas já marcadas não devem ser afetados
Agência de notícias
Publicado em 29 de maio de 2025 às 12h21.
Última atualização em 29 de maio de 2025 às 12h49.
Em mais um episódio da disputa entre a Casa Branca e as universidades americanas, o governo do presidente Donald Trump suspendeu o agendamento de novos vistos para estudantes estrangeiros. Segundo o texto, a medida faz parte de uma reformulação do processo de triagem, incluindo uma verificação mais ampla das redes sociais dos solicitantes — que passaram a ser exigidas em 2019, durante o primeiro mandato do republicano. A mensagem foi enviada a consulados e embaixadas americanos na terça-feira com assinatura do secretário de Estado americano, Marco Rubio.
“Com efeito imediato, em preparação para a expansão da triagem e verificação obrigatórias nas redes sociais, as seções consulares não devem adicionar mais nenhum visto de estudante ou visitante de intercâmbio (F, M e J) até que novas orientações sejam emitidas, o que prevemos para os próximos dias”, diz a mensagem, revelada pelo jornal americano Politico.
— O F é visto-padrão para estudantes que queiram fazer cursos acadêmicos nos EUA, incluindo cursos de idioma, graduação e mestrado. Cerca de 80% dos estudantes vão para o país com o visto F-1, e também é possível levar cônjuge e filhos com o F-2 — explica ao O Globo Gustavo Nicolau, advogado especialista em imigração nos Estados Unidos. — O visto M é mais raro, voltado para cursos vocacionais e técnicos. Já os vistos J geralmente são para estudantes de nível Ph.D., pós-doutorado, que ganharam uma bolsa de estudos (fellowship) ou estão fazendo um intercâmbio acadêmico (visiting scholar). Uma grande diferença para o visto F é que o cônjuge com visto J-2 pode pedir autorização de trabalho nos EUA, enquanto o portador do F-2 não.
Até o momento, a Casa Branca não anunciou oficialmente a medida, mas fontes do consulado americano ouvidas pelo O Globo confirmaram a suspensão de agendamentos até que novas ordens venham de Washington.
No entanto, estudantes com entrevistas já marcadas não devem ser afetados, dizem as fontes. Nesta quarta-feira, as entrevistas agendadas transcorreram sem problemas e não há previsão de cancelamentos para os próximos dias, confirmaram à reportagem.
Em nota ao O Globo, a assessoria de imprensa da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil afirmou que "desde 2019, o fornecimento de identificadores de redes sociais passou a ser exigido como parte do processo, reforçando o controle contínuo de elegibilidade dos solicitantes". Segundo a embaixada, "o processo de verificação se estende além da emissão do visto, com revisões durante todo o período de validade do documento".
Para Nicolau, os consulados devem verificar primeiramente possíveis incongruências entre as informações fornecidas no formulário DS-160, utilizado na aplicação do visto, daquelas expostas nas redes sociais.
— Minha primeira recomendação seria para as pessoas não mentirem em nada nas aplicações para visto nos consulados — pontua Nicolau. — A segunda é, infelizmente, aguardar. Eu não creio que uma suspensão dessa natureza vá se prolongar por tanto tempo.
No entanto, diante do atual contexto de tensões, ele orienta a estudantes que estejam se candidatando a um visto americano para que sejam cautelosos nas postagens.
— Se a prioridade da pessoa é fazer um curso nos EUA, é de bom tom que, pelo menos num primeiro momento, siga uma linha de conduta de cautela. Não me parece inteligente afrontar o governo ou o pensamento do país no qual você está querendo ir morar e estudar — afirma. — Eu quero crer que seja difícil a imigração negar ou aprovar um visto com base em ideologia, salvo se for algum apoio a uma rede terrorista oficial.
Perguntas sobre associação a terrorismo são de praxe em processos de solicitação de visto para os Estados Unidos há bastante tempo. No entanto, a possível mudança nas orientações aos consulados acontece no momento em que o termo aparece no centro da disputa entre a Casa Branca e as universidades de elite. A mensagem enviada pelo Departamento de Estado não faz menção a quais critérios deverão ser considerados pelas equipes consulares, mas faz referência a decretos anteriores do presidente voltados ao combate ao terrorismo e ao antissemitismo.
Desde que retornou à Casa Branca, Trump tem usado a bandeira do combate ao terrorismo e antissemitismo para exigir que universidades americanas forneçam informações de estudantes estrangeiros. No ano passado, os campi de diversas instituições de ensino no país foram tomados por protestos anti-Israel e alunos internacionais que marcaram presença nos atos estão sendo alvos de retaliação do governo. De acordo com a CNN americana, mais de mil vistos estudantis foram revogados pela administração de janeiro até abril, atingindo pelo menos 130 universidades.
O alvo mais recente da cruzada trumpista é a Universidade Harvard. Após se negar a fornecer dados dos seus alunos estrangeiros, a prestigiosa universidade foi surpreendida com a decisão do governo de suspender a matrícula de estudantes estrangeiros, que representam um quarto do seu quadro de alunos.
O Hamas é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos. Em 7 de outubro de 2023, o grupo palestino impetrou um ataque em larga escala contra o Sul de Israel, deixando mais de mil mortos e fazendo centenas de reféns. Em resposta, o governo israelense lançou uma guerra na Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, que, de lá para cá, deixou mais de 50 mil mortos. Não está claro se manifestações em apoio à causa palestina poderão ser consideradas um endosso ao Hamas.