O presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa (à esq.), e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen (à dir.), cumprimentam o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em março de 2025 (Nicolas Tucat/AFP)
Repórter de Negócios
Publicado em 18 de agosto de 2025 às 06h01.
Os principais líderes europeus desembarcam em Washington nesta segunda-feira, 18, para uma reunião na Casa Branca com três objetivos centrais, segundo a consultoria de risco político Eurasia: obter detalhes sobre possíveis garantias de segurança dos Estados Unidos à Ucrânia, avançar na preparação de um eventual encontro trilateral entre Donald Trump, Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky, e se posicionar contra a ideia de “troca de territórios” como solução para o conflito.
A estratégia europeia é empurrar a negociação para um terreno que Putin se recuse a aceitar, aponta a consultoria em análise.
A partir daí, a expectativa é criar espaço político para pressionar Trump a adotar sanções mais duras contra Moscou.
“O objetivo da Europa é levar a negociação para um ponto que Putin seja obrigado a rejeitar, seja em relação a um cessar-fogo, a garantias de segurança mais robustas ou às chamadas trocas de território”, diz trecho do relatório da Eurasia distribuído no domingo, 17.
A presença dos europeus, argumenta a Eurasia, também limitará a possibilidade de Trump e seu principal negociador, Steve Witkoff, tentarem isolar Zelensky e forçá-lo a concessões.
O presidente ucraniano já sinalizou que não aceitará propostas russas de cessão de territórios em Donetsk, no sudeste do país, ainda que em troca de congelar a linha de frente no sul do país.
O desafio de Zelensky será equilibrar a defesa da integridade territorial da Ucrânia sem provocar tensões com Trump que possam colocar em risco o apoio militar e de inteligência dos EUA — algo que já ocorreu em março.
“Zelensky não aceitará as propostas russas sobre território. Além de rejeitar a ideia de ceder parte de Donetsk em troca de congelar a linha de frente, ele buscará garantir que o cessar-fogo continue na mesa como condição prévia para negociações”, diz o relatório da Eurasia.
Entre os europeus, há divisões: enquanto Reino Unido, Holanda, Suécia e Irlanda ainda defendem a busca por um cessar-fogo como pré-condição para negociações. Nem o presidente francês Emmanuel Macron nem a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, mencionaram a possibilidade em suas últimas falas públicas.
Outro ponto sensível será a discussão sobre as chamadas “trocas de território”.
Os europeus pretendem deixar claro a Trump que não haverá aceitação de uma anexação permanente de áreas ucranianas pela Rússia.
“Os líderes europeus deixarão claro a Trump que não há qualquer possibilidade de aceitar uma anexação permanente de território ucraniano pela força”, diz a análise da Eurasia.
Ainda que haja abertura para reconhecer, de fato, a linha militar atual, a visão em Bruxelas e Kiev é de que dar mais território a Moscou seria legitimar suas reivindicações sobre o Donbass.
Relatórios da inteligência britânica reforçam essa posição: segundo as estimativas, caso mantivesse o ritmo atual, a Rússia levaria mais de quatro anos para conquistar todo o oblast de Donetsk.
Para um alto funcionário europeu ouvido pela Eurasia, “entregar Donetsk não faz sentido para a segurança da Europa e da Ucrânia”.
O presidente Donald Trump saúda o presidente Vladimir Putin, no início de reunião de cúpula no Alasca (Andrew Caballero-Reynolds/AFP)
No centro das conversas estará o debate sobre o que Washington entende por “robustas garantias de segurança”.
A expectativa europeia é que os EUA se comprometam, no mínimo, a apoiar tropas ucranianas, britânicas e francesas em campo com poder aéreo, logística e inteligência militar, já que a adesão plena da Ucrânia à OTAN continua fora de cogitação.
Zelensky, porém, deve pedir compromissos ainda mais fortes, próximos ao Artigo 5 da aliança militar.
Há, no entanto, preocupação de que Trump e Witkoff estejam oferecendo promessas vagas com o objetivo de pressionar Zelensky a aceitar termos mais favoráveis a Putin.
Macron, ao final de uma reunião da “coalizão dos dispostos” no domingo, antecipou que levantará em Washington a necessidade de um novo compromisso financeiro dos EUA com a manutenção de um exército ucraniano robusto.
Apesar da intensidade da agenda, analistas não esperam desfechos concretos imediatos.
O Eurasia Group mantém sua projeção-base: 50% de chance de que as negociações se prolonguem, 40% de risco de colapso das conversas e apenas 10% de probabilidade de um acordo entre EUA e Rússia à custa da Ucrânia.
Um cessar-fogo até o fim de 2025 é visto como improvável.