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ONU aponta que mais de 500 pessoas morreram em distribuições de alimento em Gaza

Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos afirma que 613 pessoas morreram durante distribuições de ajuda humanitária, a grande maioria em centrais de organização americana

Ajuda em Gaza: Distribuição de alimentos é marcada por violência, com centenas de mortos e acusações de disparos intencionais (Eyad Baba/AFP)

Ajuda em Gaza: Distribuição de alimentos é marcada por violência, com centenas de mortos e acusações de disparos intencionais (Eyad Baba/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 4 de julho de 2025 às 15h24.

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O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos afirmou nesta sexta-feira que 613 pessoas morreram durante distribuições de ajuda humanitária na Faixa de Gaza desde o final de maio, sendo 509 delas nas proximidades de instalações da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), apoiada por EUA e Israel.

O modelo de distribuição concentrado na organização privada tem atraído críticas de agências internacionais e entidades humanitárias ao redor do mundo, incluindo denúncias de que parte das mortes durante as distribuições tenham sido propositais — o que tanto a GHF quanto o Exército israelense negam.

"Registramos 613 mortos desde o início das operações da fundação até 27 de junho, dos quais 509 nas proximidades dos pontos de distribuição da GHF", declarou Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado em uma coletiva de imprensa em Genebra, acrescentando que a outra parte das mortes foram registradas "perto de comboios da ONU e de outras organizações".

Críticas ao modelo de distribuição de ajuda e alegações de mortes intencionais

A GHF começou a distribuir alimentos em Gaza no dia 26 de maio, em um arranjo costurado pelos EUA e por Israel após mais de dois meses de um bloqueio total à entrada de ajuda humanitária no enclave, iniciado após o Estado judeu abandonar o cessar-fogo obtido no começo do ano com mediação de Washington e de Catar e Egito.

Desde então, toda a ajuda humanitária foi enviada a centros de distribuição da organização, em áreas pré-determinadas pelo Exército de Israel — um formato que entidades disseram violar princípios como imparcialidade e neutralidade, inerentes ao direito internacional humanitário. Autoridades israelenses defenderam o modelo, afirmando que ele foi pensado para impedir o Hamas de se apossar dos itens essenciais.

O desafio mortal para os palestinos ao acessarem a ajuda

O ponto que tem se mostrado mais crítico até o momento é a determinação de que para ter acesso aos insumos, os palestinos precisam se deslocar até os centros da fundação. Se antes da entrada em funcionamento, a preocupação por parte de observadores internacionais era de que principalmente as pessoas mais vulneráveis não conseguiriam se deslocar em meio à guerra, após o início da operação, a obtenção de ajuda se mostrou um desafio mortal.

As Forças Armadas de Israel admitiram na segunda-feira que civis palestinos foram mortos e feridos por disparos israelenses nas proximidades de centros de distribuição de ajuda, após uma reportagem do jornal israelense Haaretz publicar depoimentos de integrantes do Exército que disseram ter recebido ordens para disparar contra multidões desarmadas.

A versão oficial das autoridades militares é de que as tropas em solo usaram munição real em casos em que houve "ameaça direta" aos soldados, incluindo situações em que dezenas de "suspeitos" se aproximaram das forças fora das rotas designadas para os centros de ajuda — ou fora do horário de funcionamento. Também reconheceram que em pelo menos três casos "trágicos" foram realizados bombardeios de artilharia em áreas próximas aos centros de distribuição, numa tentativa de impedir que palestinos se aproximassem de zonas específicas fora dos centros, matando entre 30 e 40 pessoas.

Denúncias de violência contra civis por parte de contratados da GHF

Testemunhas e organizações, no entanto, denunciam que pessoas sem qualquer atitude suspeita ou vínculo com organizações terroristas foram mortas. A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) condenou a morte de um ex-funcionário da organização, Abdullah Hammad, morto pelas forças israelenses no último dia 3 de julho no sul do território.

Em um comunicado, a MSF acusou as forças israelenses de "atacarem deliberadamente um grupo de pessoas que aguardavam por caminhões de ajuda, incluindo Abdullah", sem advertência prévia. Ao todo, 16 pessoas morreram no incidente.

"É provável que o número real de mortos seja muito maior, pois as forças israelenses se recusaram a permitir que os corpos fossem retirados do local. As forças israelenses então ordenaram que as pessoas que estavam tentando recolher farinha saíssem imediatamente", disse Aitor Zabalgogeazkoa, coordenador de emergência de MSF em Gaza, citado em um comunicado da ONG.

Militares israelenses alegaram que o número de mortos em incidentes envolvendo a entrega de alimentos apresentado pela administração do Hamas em Gaza eram superestimados — à época, a contagem apontava 549 mortos e cerca de 4 mil feridos, uma taxa de letalidade similar à apontada pela ONU.

— Quanto aos responsáveis, está claro que o Exército israelense bombardeou e atirou contra palestinos que tentavam chegar aos pontos de distribuição. Quantas pessoas morreram? Quem é o responsável? — disse Shamdasani na coletiva em Genebra.

Conflito continua a gerar morte e caos em Gaza

Apesar da colaboração israelense, que atua nas rotas de acesso e nas imediações das centrais de distribuição, a GHF possui contratados privados para atuar na segurança de suas instalações — e que, segundo um novo relato, podem estar ligados a violência contra os palestinos.

Um ex-contratado da fundação ouvido pela rede britânica BBC disse ter testemunhado colegas abrindo fogo diversas vezes contra pessoas que buscavam ajuda e não representavam nenhuma ameaça. Ele mencionou ter presenciado disparos de metralhadora, incluindo em um incidente banal, quando um grupo de mulheres, crianças e idosos estava se afastando muito lentamente do local.

Procurada pela emissora britânica, a GHF afirmou que as alegações eram categoricamente falsas. A fundação também afirmou que nenhum civil foi alvo de disparos nos locais de distribuição.

A Defesa Civil de Gaza afirmou que 40 pessoas morreram em decorrência de ações israelenses nesta sexta, incluindo cinco pessoas que foram alvejadas enquanto esperavam perto de um ponto de distribuição na região de Rafah, e outra que esperava ajuda perto da ponte de Wadi Gaza, no centro do território.

(Com AFP)

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