Macron: "ninguém deve ignorar o risco de um Irã com armas nucleares" (Ludovic MARIN/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 20 de junho de 2025 às 10h04.
Os ministros europeus reunidos em Genebra nesta sexta-feira, 20, farão "uma oferta de negociação completa, diplomática e técnica" ao Irã, que inclua a questão do programa nuclear, para acabar com o conflito crescente entre Israel e a República Islâmica, informou o presidente da França, Emmanuel Macron.
Segundo ele, esta solução pacífica será "colocada sobre a mesa", mas o Irã precisará "mostrar sua disposição de aderir à plataforma".
— É essencial priorizar o retorno a negociações substantivas [com o Irã] que incluam questões nucleares, para chegar a zero enriquecimento [de urânio], balística, para limitar as capacidades iranianas, e o financiamento de todos os grupos terroristas que desestabilizam a região — declarou em entrevista coletiva a repórteres no Salão Aeronáutico de Paris.
Ainda segundo o chefe do Palácio do Eliseu, a oferta que será apresentada pelo ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, e seu pares, ao seu homólogo iraniano, Abbas Araghchi, em Genebra, terá quatro aspectos.
O primeiro prevê a retomada do trabalho da agência atômica da ONU, com “a capacidade de ir a todos os locais”, para que o Irã passe a zero enriquecimento de urânio, disse Macron. O segundo e o terceiro aspectos compreenderiam a supervisão das atividades balísticas do Irã e como ele financia seus representantes na região, acrescentou. O quarto seria a libertação de “reféns” pelo Irã, indicou, referindo-se aos estrangeiros presos pela república islâmica, entre os quais dois cidadãos franceses.
— Ninguém deve ignorar o risco de um Irã com armas nucleares — declarou Macron, chamando-o de “ameaça real”.
Ao mesmo tempo, “ninguém pode acreditar seriamente” que os ataques atuais de Israel sejam capazes de eliminar essa ameaça, afirmou, observando que algumas das instalações de enriquecimento do Irã eram “extremamente protegidas” e que não estava claro onde o Irã mantém todo o seu urânio enriquecido.
— Considero que os ataques que atingem instalações civis ou energéticas e atingem populações civis devem parar imediatamente. Nada justifica isso — disse Macron.
A reunião prevista para esta sexta-feira em Genebra envolve os ministros das Relações Exteriores de França, Reino Unido e Alemanha, três potências europeis, além da chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, que conversarão com seu homólogo iraniano, Abbas Araghchi.
— Existe uma janela nas próximas duas semanas para alcançar uma solução diplomática — afirmou o ministro britânico das Relações Exteriores, David Lammy, após um encontro em Washington com o secretário de Estado americano, Marco Rubio.
Alemanha, França e Reino Unido assinaram, em 2015, com Estados Unidos, China e Rússia, um acordo com o Irã para garantir a natureza civil de seu programa atômico, em troca da suspensão progressiva de sanções econômicas. Mas em seu primeiro mandato, Donald Trump retirou Washington do acordo e Teerã deixou de cumprir o compromisso de limitar o enriquecimento de urânio a 3,67%.
Nas últimas semanas, negociadores americanos e iranianos participaram de várias rodadas de conversações para um novo acordo, interrompidas pelo ataque israelense. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, porém, afirmou que, se houver uma oportunidade para a diplomacia, Trump a aproveitará. Mas destacou que o Irã tem "tudo o que precisa para conseguir uma arma nuclear em duas semanas".
Já o ministro iraniano das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, afirmou em uma entrevista exibida nesta sexta-feira que se recusa a negociar com os EUA enquanto Israel prosseguir com os ataques contra seu país.
— Os americanos enviaram mensagens pedindo negociações sérias. Mas deixamos claro que, enquanto a agressão não terminar, não haverá espaço para a diplomacia e o diálogo — disse o chanceler iraniano à televisão estatal do seu país, referindo-se aos EUA como “parceiros neste crime”.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na quinta-feira por meio da porta-voz da Casa Branca que decidirá "nas próximas duas semanas" se envolverá seu país na ofensiva israelense.
Além de se reunir com seus homólogos europeus, Araghchi discursará no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, nesta sexta-feira. A fala está prevista para ocorrer às 13h (10h em Brasília), segundo o porta-voz do conselho, Pascal Sim.
— Já tivemos discussões com os europeus anteriormente e agora vou me reunir com eles para ouvir a sua posição. Não vamos perder nenhuma oportunidade de defender os direitos do Irã — disse Araghchi.
Daniel Meron, embaixador de Israel na ONU em Genebra, vai falar com os jornalistas um pouco antes, segundo uma porta-voz da ONU. O Conselho de Segurança da ONU também se reunirá nesta sexta-feira, em uma sessão solicitada pelo Irã com o apoio da Rússia, China e Paquistão.
Israel iniciou em 13 de junho uma campanha de ataques aéreos contra o Irã, alegando que Teerã estava prestes a produzir uma arma nuclear. Os iranianos responderam com lançamentos de mísseis e drones.
A primeira semana de confrontos entre os dois rivais do Oriente Médio deixou pelo menos 224 mortos no Irã e 25 em Israel, que também matou vários comandantes militares e cientistas iranianos e danificou a infraestrutura nuclear do país.
Atualmente, o Irã enriquece urânio a 60%, ainda longe dos 90% necessários para desenvolver uma arma nuclear, e garante que a medida tem apenas fins civis. Israel, por sua vez, não nega, nem confirma que possua um arsenal nuclear. Mas o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo calcula que o país possui 90 ogivas deste tipo.