Iranianas com retrato do líder supremo do país, Ali Khamenei (Atta Kenare/AFP)
Redação Exame
Publicado em 17 de junho de 2025 às 18h14.
Última atualização em 17 de junho de 2025 às 19h22.
A autoridade máxima do Irã não é seu presidente, Masoud Pezeshkian, mas sim o aiatolá Ali Khamenei, que tem o título de líder supremo do país e ocupa o cargo desde 1989.
Khamenei foi ameaçado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump nesta terça-feira, 17. "Sabemos exatamente onde o chamado 'Líder Supremo' está escondido", escreveu Trump na rede social Truth Social. "Ele é um alvo fácil, mas está seguro lá — não vamos eliminá-lo (matá-lo!), pelo menos não por enquanto", escreveu. "Mas não queremos mísseis disparados contra civis ou soldados americanos. Nossa paciência está se esgotando."
O Irã é governado por um grupo de líderes religiosos islâmicos desde 1979. Naquele ano, uma revolução tomou o poder, depôs o governo do xá Reza Pahlevi, que era aliado dos Estados Unidos, e impôs um regime com base em tradições islâmicas de orientação xiita.
O modelo de governo adotado pela revolução foi o de criar um Estado chefiado por um líder religioso. A proposta se baseia no conceito velāyat-e faqīh (tutela do jurista islâmico), defendido pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, que liderou a revolução de 1979.
Khomeini defendia que o comando do país deveria ser feito por um especialista em leis islâmicas. Este lider supremo é eleito por uma assembleia de especialistas em leis islâmicas, com base em seu conhecimento da área e habilidades políticas. O próprio Khomeini foi escolhido para o cargo e ficou nele até sua morte, em 1989.
Para sucedê-lo, foi eleito o atual líder supremo, Ali Khamenei, que está no cargo desde então.
O líder supremo, com mandato vitalício, atua como chefe de Estado, líder religioso e tem poder para nomear os chefes militares do país. Ele supervisiona a atuação do presidente, que é eleito por voto popular e tem mandato de quatro anos.
Ali Khamenei enfrentou uma infinidade de momentos críticos à frente da República Islâmica, mas o conflito aberto com Israel representa sua prova mais difícil, pois ameaça tanto o sistema político que ele dirige quanto sua integridade física.
Khamenei, um veterano da guerra contra o Iraque (1980-1988), não viaja ao exterior desde que assumiu o cargo há 36 anos e, em 1981, sobreviveu a uma tentativa de assassinato que deixou seu braço direito paralisado. Qualquer um de seus movimentos está envolto em sigilo e um importante dispositivo de segurança.
O líder supremo enfrentou sanções, tensões internacionais e protestos reprimidos com sangue, os últimos ocorridos em 2022-2023, contra a política de obrigar mulheres a usarem véu.
Dada sua avançada idade, 86 anos, a questão da sucessão já está presente há algum tempo na cena política iraniana.
"Khamenei está no ocaso de seu reinado, com 86 anos, e boa parte do comando diário do regime já não está em suas mãos, mas sim nas de uma série de facções à espera do que acontecerá no futuro", explica Arash Azizi, da Universidade de Boston, à AFP. "Esse processo já estava em curso, e a atual guerra não faz nada além de acelerá-lo."
"É possível que [Israel] tenha seu próprio plano de mudança de regime, seja apoiando um golpe interno, seja eliminando o mais alto nível na esperança de que isso leve a uma mudança fundamental na postura em relação a Israel ou algo semelhante a uma mudança de regime", explica Azizi.
Karim Sadjadpour, associado da Carnegie Endowment for International Peace, comenta que Khamenei parece ter se autoinfligido um dilema difícil. E acredita que ele carece da "acuidade física e cognitiva necessária para conduzir o Irã em uma guerra com alto componente tecnológico".
"Uma resposta fraca a Israel diminuiria ainda mais sua autoridade. E uma resposta forte poderia colocar em risco sua sobrevivência e a de seu regime", acrescenta.
Durante décadas, Khamenei conseguiu manter o país a salvo de conflitos diretos, enquanto seu regime patrocinou os inimigos de Israel — o Hamas palestino, o Hezbollah libanês, os huthis do Iêmen — e o regime sírio da família Assad, derrubado em dezembro passado por uma coalizão de grupos islamistas.
Mas com os parceiros do Irã enfraquecidos por Israel desde que começou a guerra em Gaza em outubro de 2023 e os atuais ataques israelenses, essa situação mudou completamente.
"Desde que assumiu a liderança suprema em 1989, orgulha-se de ter afastado os conflitos das fronteiras do Irã", comenta Jason Brodsky, da organização United Against Nuclear Iran (UANI), com sede nos Estados Unidos. "Desta forma, Khamenei cometeu um grande erro de cálculo", acrescenta.
O que está acontecendo neste momento "está ocorrendo em uma velocidade que ameaça superar a capacidade de Teerã", enfatiza.
Israel lançou em 13 de junho uma campanha militar sem precedentes contra o Irã, matando o líder da Guarda Revolucionária, o chefe do Estado-Maior do Exército e vários cientistas nucleares, além de atingir instalações de seu programa atômico e locais militares.
Tudo isso com o objetivo de impedir que o Irã obtenha a bomba atômica, uma meta que a República Islâmica nega estar perseguindo.
A ofensiva israelense surpreendeu a liderança iraniana após anos de dificuldades econômicas devido às sanções internacionais impostas em decorrência do programa nuclear.
"Muitos iranianos querem que a República Islâmica termine. Mas a maioria não quer que isso seja alcançado às custas de sangue e guerra", explica Holly Dagres, associada sênior do Washington Institute.
Em sua entrevista à Fox News, Netanyahu sugeriu que a "mudança de regime" poderia ser o resultado da campanha militar israelense, insistindo que serão os iranianos que decidirão o destino de seu governo.
"Esse poderia ser efetivamente o resultado, porque o regime iraniano é muito fraco", declarou Netanyahu, afirmando que 80% da população está contra o governo dos aiatolás.
A oposição iraniana está muito dividida, dentro e fora do país. Reza Pahlavi, filho do último xá, deposto pela revolução islâmica em 1979, e uma destacada figura opositora no exílio, encorajou os iranianos: "mantenham-se fortes e venceremos".
Por enquanto, não foram relatados protestos maciços contra o governo, embora alguns canais em persa com sede no exterior tenham divulgado imagens de grupos entoando slogans contra Khamenei.
Azizi pede cautela: "A ideia de que tudo isso termine com um levante popular que propicie uma mudança de regime ou entregue o poder a alguém da oposição no exterior não tem nenhuma base".
Com AFP.