Agência de notícias
Publicado em 14 de julho de 2025 às 12h01.
Última atualização em 14 de julho de 2025 às 12h40.
Autoridades mexicanas foram pegas de surpresa pela nova ameaça de tarifas do presidente Donald Trump, depois de realizarem visitas frequentes aos principais assessores do republicano em Washington para convencê-lo de que seus esforços no combate ao narcotráfico estavam dando resultados.
Durante meses, autoridades dos Estados Unidos elogiaram com entusiasmo a cooperação do México em temas relacionados à fronteira e à segurança. “Muito receptivo”, elogiou o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio. “Impulso positivo”, definiu o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent.
No sábado, Trump criticou duramente a resposta mexicana em uma carta que ameaça impor tarifas de 30%. “O que o México fez não é suficiente”, escreveu. “O México ainda não parou os cartéis.”
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, pediu ao país que mantivesse “a cabeça fria”, mas, segundo fontes próximas às negociações com os EUA, um sentimento de exasperação tomou conta daqueles envolvidos nas conversas. A abordagem cordial parecia, por ora, ter surtido pouco efeito.
O país vizinho tenta convencer Trump de que México e EUA têm economias complementares, e que os mexicanos estão dispostos a cooperar contra os cartéis de forma inédita, segundo pessoas com conhecimento das discussões internas.
A ameaça de Trump de aplicar uma tarifa de 30% — com exceções para produtos certificados sob o acordo comercial trilateral entre os dois países e o Canadá — dificilmente terá um impacto significativo além da taxa de 25% já em vigor, segundo a Bloomberg Economics. Em maio, quase 83% das importações dos EUA vindas do México foram isentas de tarifas, principalmente por atenderem aos critérios do USMCA.
Ainda assim, a tarifa de 30% proposta por Trump não representa uma condição muito melhor que a taxa de 35% anunciada para o Canadá — país que tem adotado um tom mais confrontador com Trump, enquanto o México manteve uma postura conciliatória.
Alguns funcionários dos EUA tentaram sugerir que a cooperação poderia continuar apesar da carta.
O embaixador dos EUA no México, Ronald Johnson, disse no sábado, na Cidade do México, que Sheinbaum e Trump têm “um relacionamento maravilhoso” e que nenhuma parceria deveria ser mais fácil do que entre os dois países.
“America First não significa América sozinha. Na verdade, estou aqui no México de braços abertos, com uma mensagem de verdadeiro respeito pela soberania do México”, afirmou durante um evento de gala em sua homenagem, com presença de nomes importantes da política, negócios e mídia mexicana.
Tarifas setoriais, como as sobre o aço — e em breve sobre o cobre —, deram ao México motivos, nas últimas semanas, para apelar aos assessores de Trump por um acordo mais justo, na tentativa de proteger sua posição como principal parceiro comercial dos EUA. O país conseguiu blindar parte de sua indústria exportadora ao negociar a limitação de uma tarifa automotiva anteriormente anunciada apenas à parte dos veículos produzidos fora dos EUA.
“As autoridades mexicanas provavelmente continuarão se engajando de forma construtiva com o governo dos EUA, no controle de fronteiras e, até certo ponto, também endurecendo a postura contra os cartéis de drogas e o fluxo de fentanil para os EUA, com o objetivo de preservar o acesso ao mercado americano em condições competitivas”, escreveu Alberto Ramos, chefe de economia latino-americana do Goldman Sachs Group Inc., em nota.
As concessões mexicanas incluem a extradição de dezenas de presos de alto perfil ligados ao narcotráfico e o aumento das apreensões ao longo das rotas de drogas. O ministro da Segurança do país foi um dos que participaram das conversas em Washington, e, internamente, o governo tem pressionado por legislação que aumente as investigações de crimes não resolvidos.
No entanto, os laços bilaterais também se desgastaram recentemente após o anúncio dos EUA de que três instituições financeiras mexicanas seriam alvo de sanções por suposto envolvimento com lavagem de dinheiro para cartéis de drogas.
Por ora, o México mantém sua estratégia. Em comunicado no sábado, o Ministério da Economia informou que o ministro Marcelo Ebrard estava em Washington desde sexta-feira para negociações com a Casa Branca, o representante comercial dos EUA e o Departamento de Comércio, e que o México defenderia seus interesses. O ministério classificou como “injusto” o aumento tarifário proposto por Trump, com entrada em vigor prevista para 1º de agosto.
O México trabalhará para encontrar “uma alternativa que nos permita proteger empresas e empregos de ambos os lados da fronteira”, disse a pasta.