Major-General Ali Shadmani, da Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC) (AFP)
Agência de notícias
Publicado em 17 de junho de 2025 às 13h19.
Última atualização em 17 de junho de 2025 às 13h33.
Apenas quatro dias depois de assumir o cargo de comandante da Base Central Khatam al-Anbiya, um dos principais centros de comando operacional das Forças Armadas do Irã em tempos de guerra, o general de divisão Ali Shadmani foi morto em um ataque israelense, segundo as Forças Armadas de Israel.
Em nota, o Exército declarou nesta terça-feira que Shadmani era o mais alto comandante militar iraniano — e uma das figuras mais próximas do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.
O general havia sido nomeado pelo próprio Khamenei após o antecessor, Gholamani Rashid, também ter sido morto em uma ofensiva israelense na semana passada. Na ocasião, o texto da nomeação de Shadmani ressaltava sua “competência e valiosa experiência” antes de afirmar que, com a escolha, era esperado que a “formulação e a condução estratégica e operacional na resposta às ameaças” externas fossem realizadas em “sinergia com o Estado-Maior das Forças Armadas”.
"Na continuidade das operações vitoriosas das poderosas e preparadas Forças Armadas da República Islâmica do Irã, esta série de operações [contra Israel] seguirá de forma muito mais ampla e devastadora do que antes, até que o inimigo criminoso e agressor sionista chegue ao completo arrependimento", disse Shadmani após sua nomeação.
A escolha de Shadmani para comandar a Base Khatam al-Anbiya, considerada o cérebro operacional da defesa iraniana, sinalizava uma tentativa do regime de manter a continuidade estratégica em meio à crescente tensão com Israel. Sua morte amplia o vácuo de comando nas Forças Armadas iranianas e expõe a vulnerabilidade da elite militar em um momento de escalada sem precedentes entre Teerã e Tel Aviv.
Shadmani, de trajetória longa e marcada pela guerra, era uma figura conhecida dentro da hierarquia militar iraniana. Nas últimas décadas, ocupou cargos estratégicos no Exército e na Guarda Revolucionária, sempre próximo de operações em regiões de fronteira e em áreas de conflito. Desde 2016, era vice-coordenador da Base Khatam al-Anbiya, comandando operações conjuntas em situações de crise.
Sua história militar começou logo após a Revolução Islâmica de 1979. Natural de Hamadã, no oeste do país, Shadmani abandonou os estudos de hematologia na Universidade de Mashhad — uma das maiores do Irã — para se juntar ao movimento revolucionário. Durante os primeiros anos da República Islâmica, combateu grupos opositores no Curdistão iraniano, numa das fases mais violentas do início da nova ordem no Irã.
Aos 21 anos, sobreviveu a um confronto decisivo em Sanandaj e Saqqez, quando apenas três dos 64 combatentes de sua unidade voltaram vivos. A experiência foi o início de uma escalada em sua carreira: depois disso, foi responsável pelo treinamento de novas tropas em Hamadã, liderou operações durante a tentativa de golpe de Estado de 1980 e, com o início da guerra Irã-Iraque, assumiu funções de comando em diversas frentes.
Shadmani comandou a Guarda Revolucionária na província de Ilam, uma das mais expostas ao conflito com o Iraque, e foi vice-comandante da Brigada Ansar al-Hossein, ao lado do também influente general Hossein Hamadani, morto na Síria em 2015. Participou ainda de operações extraterritoriais da Guarda Revolucionária na chamada Base Ramadan, destinada a ações além das fronteiras iranianas.
Em janeiro deste ano, durante uma visita ao Centro de Genética Noor, foi informado da identificação do corpo de seu irmão Jalil Shadmani, desaparecido há 41 anos depois de morrer na Guerra Irã-Iraque. A confirmação veio por meio de testes de DNA.