Agência de notícias
Publicado em 9 de outubro de 2025 às 11h17.
A aprovação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE) no Conselho Europeu, inicialmente prevista para o final de junho, ainda não aconteceu.
Em entrevista ao GLOBO, o embaixador francês no Brasil, Emmanuel Lenain, indicou que, embora a votação deva ocorrer nas próximas semanas, não há uma data definida.
Lenain também abordou especulações sobre a possibilidade de a França se abster durante a votação, negando essa possibilidade e destacando o esforço da França para alcançar um consenso.
Segundo Lenain, a França é totalmente favorável ao acordo, dado que ele é essencial para fortalecer as relações comerciais entre a Europa e a América Latina, especialmente com o Brasil.
O embaixador ressaltou que a França é o segundo maior investidor no Brasil, com cerca de 1.500 empresas operando no país, e mencionou a necessidade de se criar novas oportunidades comerciais em um cenário de fechamento das fronteiras comerciais por países como os EUA.
"O comércio é uma parte importante da relação. Queremos um acordo mais forte para fomentar essas trocas comerciais e, ao mesmo tempo, jogar conforme as regras e garantir um comércio justo," explicou.
Lenain afirmou que um dos principais pontos de resistência por parte da França foi a necessidade de garantir que o acordo esteja alinhado com o compromisso europeu em combater as mudanças climáticas e preservar a biodiversidade. Após mais de 25 anos de negociações, a questão ambiental foi resolvida, o que é um avanço significativo, mas ainda existem preocupações com setores específicos da economia, como a indústria de carne bovina e aves.
"O que precisamos agora são salvaguardas para setores que poderiam ser prejudicados com a abertura do mercado, como a indústria automotiva brasileira e os setores agrícolas sensíveis," afirmou Lenain, acrescentando que as salvaguardas temporárias foram acordadas para proteger esses setores.
Quando questionado sobre a possibilidade de a França se abster na votação, Lenain foi enfático: "Não, esse não é o espírito da França." Ele explicou que, após tantos anos de negociações, o objetivo da França é chegar a um acordo que todos possam apoiar.
A França busca um consenso europeu que satisfaça as preocupações de todos os países da UE, sem pressa para fechar um acordo insatisfatório.
Embora a França tenha um papel crucial nas negociações, Lenain destacou que outras nações da UE, como Polônia e Irlanda, também têm preocupações semelhantes, principalmente em relação ao impacto do acordo em seus setores agrícolas.
Contudo, o embaixador acredita que não haverá novas demandas, pois todos os pontos cruciais já foram abordados e acordados.
Em relação à possível assinatura do acordo durante a cúpula do Mercosul, em dezembro, provavelmente em Brasília, Lenain afirmou que a UE também está trabalhando para concluir as negociações o mais rápido possível, mas sempre com a ênfase de garantir que o acordo seja bom para todos os envolvidos.
Lenain também abordou a qualidade das relações bilaterais entre Brasil e França, destacando a boa química entre os presidentes Lula e Macron e a cooperação em diversas áreas, como tecnologia, submarinos e inteligência artificial.
Ele ressaltou que a França tem se empenhado em transferir tecnologia para o Brasil e formar parcerias reais para a produção local.
O embaixador mencionou ainda a presença do presidente francês, Emmanuel Macron, na COP30, que ocorrerá em Belém, Brasil. Lenain destacou o compromisso de ambos os países com a bioeconomia e a preservação da Amazônia, com a promessa de investir 1 bilhão de euros para desenvolver a região.
"Uma COP no coração da floresta amazônica é um símbolo maravilhoso," afirmou, acrescentando que a União Europeia estará pronta para apresentar suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) antes da conferência.