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Rússia recebe chanceler do Irã nesta segunda, mas deve evitar atuação militar no Oriente Médio

Moscou condena os ataques dos EUA ao Irã, mas evita confronto direto e tenta liderar negociações

Publicado em 23 de junho de 2025 às 06h58.

Diante dos ataques dos Estados Unidos contra instalações nucleares do Irã no fim de semana, a Rússia adota uma postura cautelosa, tentando se equilibrar entre a defesa de seu aliado, Teerã, e a preservação da reaproximação com o governo de Donald Trump. Até agora, o governo russo se limitou a condenar a ofensiva americana e a se oferecer como mediador, sem qualquer sinal de que vá fornecer ajuda militar ao Irã.

O ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araqchi, desembarcou em Moscou nesta segunda-feira, 23, levando uma carta do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, com um pedido de apoio a Vladimir Putin. Segundo fontes ouvidas pela Reuters, Teerã se mostra insatisfeita com o apoio russo.

Apesar de Rússia e Irã serem aliados estratégicos, a resposta de Moscou tem sido moderada. O Kremlin condenou os ataques dos EUA, afirmando que a ofensiva coloca todo o Oriente Médio “à beira do abismo” e agrava os riscos de uma escalada regional. Ao mesmo tempo, reforçou que seu papel é buscar uma saída diplomática para a crise, preservando sua relação tanto com o Irã quanto com Israel e os Estados Unidos.

Dilema para Putin

A situação coloca Putin em uma posição desconfortável. Analistas apontam que o presidente russo precisa evitar qualquer gesto que possa ser interpretado como hostil pela Casa Branca, justamente no momento em que Trump sinaliza uma reaproximação com Moscou.

"Se Putin contrariar Trump de forma significativa, corre o risco de enfrentar novas sanções ou outros movimentos que enfraqueçam sua posição", avaliou Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg Bank, em nota à CNBC.

Internamente, há pressão sobre o Kremlin para que forneça ao Irã o mesmo tipo de apoio que os EUA têm dado à Ucrânia, incluindo defesa aérea, inteligência por satélite e sistemas de mísseis. Empresários e figuras nacionalistas russas também cobram um posicionamento mais firme em defesa de Teerã.

Petróleo em alta

A crise também tem impactos econômicos para Moscou. De um lado, a disparada dos preços do petróleo beneficia a Rússia, grande exportadora da commodity. De outro, a escalada coloca em risco bilhões de dólares em investimentos russos no Irã, especialmente nos setores de energia, infraestrutura e logística.

Nos últimos três anos, a Rússia se consolidou como a maior investidora estrangeira no Irã, com aportes que somaram US$ 2,76 bilhões em 2024 e planos de investir até US$ 8 bilhões em projetos de petróleo e gás.

"A própria Rússia parece dividida sobre como lidar com uma nova guerra no Oriente Médio", afirmou Nikita Smagin, pesquisador do Carnegie Russia Eurasia Center, em entrevista à CNBC. "De um lado, investiu pesado no Irã; do outro, pode se beneficiar da alta do petróleo e do desvio da atenção do Ocidente da guerra na Ucrânia."

Risco nuclear

Moscou também expressou preocupação com a segurança de centenas de técnicos russos que trabalham na usina nuclear de Bushehr, no Irã, construída com apoio da Rússia. O chefe da estatal russa de energia nuclear, Rosatom, Alexei Likhachev, alertou que qualquer ataque ao complexo pode gerar um desastre semelhante ao de Chernobyl.

O Kremlin afirmou ter recebido garantias de Israel de que a usina e seus técnicos russos não seriam alvos dos bombardeios. Ainda assim, o alerta permanece.

O vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, foi mais duro nas declarações. Ele acusou Trump de ter iniciado “uma nova guerra” que, segundo ele, apenas fortalece o regime iraniano, unindo a sociedade em torno do líder supremo Khamenei.

Apesar do tom crítico, o Kremlin mantém as portas abertas para o diálogo. "Defendemos a desescalada o mais rápido possível", disse o porta-voz Dmitry Peskov. Ele reforçou que Moscou mantém comunicação ativa com Teerã, Washington e Tel Aviv, mas, até agora, não há sinal de que a Rússia esteja disposta a ir além da diplomacia.

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