Os presidentes Donald Trump e Lula, durante reunião na Malásia, em 26 de outubro (Ricardo Stuckert/PR)
Repórter
Publicado em 28 de outubro de 2025 às 20h47.
Última atualização em 28 de outubro de 2025 às 21h10.
O Senado dos Estados Unidos, sob liderança dos republicanos, aprovou na noite de terça-feira, 28, um projeto de lei que pode revogar as tarifas impostas ao Brasil durante o governo de Donald Trump, incluindo sobre produtos como petróleo, café e suco de laranja.
A resolução foi aprovada por 52 votos a favor e 48 contra. Era necessária maioria simples para ser aprovada. A informação foi divulgada pela agência de notícias Associated Press (AP).
A decisão também anula o estado de emergência nacional declarado por Trump em julho, em resposta à investigação e ao processo movido pelo Brasil contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, relacionado a uma suposta tentativa de golpe.
Com a aprovação do projeto de lei, as tarifas e o estado de emergência, considerados controversos, foram desfeitos, sinalizando uma mudança nas relações comerciais entre os dois países.
Apresentada pelo senador democrata Tim Kaine, a proposta visa revogar os estados de emergência nacional que Donald Trump declarou para justificar a imposição de tarifas, incluindo aquelas aplicadas ao Brasil. A medida visa desfazer as tarifas sobre produtos como petróleo, café e suco de laranja, que foram implementadas durante o governo Trump.
"As tarifas do presidente Trump sobre produtos brasileiros, que ele impôs na tentativa de impedir que o Brasil processasse um de seus amigos, são ultrajantes", disse Kaine em um comunicado.
E acrescentou: "Os preços de todos os tipos de produtos de uso diário — incluindo o café, grande parte importado do Brasil — estão subindo. Precisamos impedir que Trump inicie essas guerras comerciais incompetentes e caóticas que estão enfraquecendo nossa economia. Peço a todos os meus colegas que defendam o princípio de que nossa política econômica deve promover os melhores interesses dos americanos, não queixas pessoais ridículas."
Além disso, Kaine anunciou que pretende apresentar resoluções semelhantes para encerrar tarifas aplicadas a outros países, como o Canadá, ainda nesta semana, segundo a Associated Press. Essas ações refletem a tentativa de modificar a política comercial dos Estados Unidos em relação a vários países, para reduzir tensões comerciais.
Apesar da aprovação no Senado americano, o projeto de lei tem poucas chances de avançar. A proposta será analisada agora pela Câmara dos Representantes, de maioria republicana, que adotou recentemente novas regras, permitindo à liderança barrar sua tramitação.
Para Tim Kaine, as votações têm caráter simbólico e pretendem demonstrar insatisfação com a política tarifária do governo federal, de acordo com informações da emissora americana ABC. O parlamentar afirmou ainda que as medidas buscam provocar um debate sobre os impactos negativos à economia dos EUA causados pelas taxações.
O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Donald Trump, realizado no domingo, 26, em Kuala Lumpur, estendeu-se por quase uma hora.
Tanto Lula quanto Trump estavam na Malásia para participar da 47ª reunião de cúpula da Asean, a Associação de Nações do Sudeste Asiático.
Em um rápido pronunciamento aos jornalistas, Trump afirmou que acredita que as relações entre Brasil e EUA culminarão em um "bom acordo".
"Acho que conseguiremos fechar alguns bons acordos, como temos conversado, e acho que acabaremos tendo um ótimo relacionamento", declarou o republicano.
Quando questionado sobre uma possível diminuição das tarifas americanas contra o Brasil, Trump respondeu de forma cautelosa: "Vamos discutir isso por um tempo. Sabemos que nos conhecemos. Sabemos o que cada um quer".
Um dia após se reunir com Trump, Lula demonstrou otimismo em relação a uma solução rápida para as questões envolvendo tarifas impostas às exportações brasileiras por parte dos Estados Unidos.
“Logo, logo não haverá problema entre Estados Unidos e Brasil. O que interessa numa mesa de negociação é o futuro, é o que você vai negociar para frente. A gente não quer confusão, a gente quer negociação. A gente não quer demora, quer resultado”, resumiu Lula, em conversa com jornalistas.
O presidente também enfatizou que questões ideológicas não serão barreiras para que as negociações avancem para um desfecho favorável aos dois países.
“Fiz questão de dizer ao presidente Trump que o fato de termos posições ideológicas diferentes não impede que dois chefes de Estado tratem a relação com muito respeito. Eu o respeito porque ele foi eleito presidente dos Estados Unidos pelo voto democrático do povo americano e ele me respeita porque fui eleito pelo voto democrático do povo brasileiro. Com isso colocado na mesa, tudo fica mais fácil”, ponderou.
Eu volto para o Brasil satisfeito com a reunião que tive com o Presidente Trump. Se depender dele e de mim, teremos um acordo. Estamos dispostos a fazer com que Brasil e Estados Unidos continuem com a relação que já cultivamos há 201 anos. pic.twitter.com/X9m9yQM6z0
— Lula (@LulaOficial) October 27, 2025
No final de julho, Donald Trump assinou uma ordem executiva que oficializa a tarifa de importação de 50% sobre os produtos brasileiros.
A medida, no entanto, isenta uma série de produtos que o Brasil exporta aos EUA, incluindo suco de laranja, minérios, aeronaves e petróleo. A lista completa soma cerca de 700 itens.
Ao mesmo tempo, a taxa incide sobre outros itens importantes da pauta de exportações brasileiras, como a carne e o café, o que poderá inviabilizar exportações brasileiras.
A ordem coloca 40% adicionais de tarifas sobre a taxa de 10% anunciada em abril, adotada para todos os países, somando 50%. Assim, os itens isentos agora ficarão com tarifa de 10%.
Como justificativa, o governo americano disse que a medida é uma "resposta a políticas, práticas e ações recentes do Governo do Brasil que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos", disse a Casa Branca, em comunicado.
"O presidente Trump está defendendo empresas americanas contra extorsão, protegendo cidadãos americanos da perseguição política, salvaguardando a liberdade de expressão nos EUA contra a censura e salvando a economia americana de estar sujeita aos decretos arbitrários de um juiz estrangeiro tirânico", diz a nota.
Em 9 de julho, Trump havia enviado uma carta pública em que anunciava a medida contra o Brasil.
"Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como recentemente ilustrado pelo Supremo Tribunal Federal, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e despejo do mercado brasileiro de mídia social), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais. Mercadorias levadas a outros países para escapar dessa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta", disse Trump.
Além da tarifa, o presidente americano determinou uma investigação contra o Brasil por práticas comerciais desleais, com base na seção 301. O processo está andamento e deverá ser concluído nos próximos meses. Por meio dele, o Brasil poderá sofrer punições comerciais adicionais.
Desde então o governo brasileiro buscou negociar a nova tarifa com os Estados Unidos, mas não obteve sucesso. Apesar disso, membros do governo Lula avaliam que o espaço para negociações permanece aberto.
A nova taxa poderá inviabilizar a exportação de produtos brasileiros para os EUA, como a carne e o suco de laranja.
No tarifaço anunciado em abril, o Brasil havia ficado na categoria mais baixa, de 10% de taxas extras. Os EUA possuem superávit comercial com o Brasil. Ou seja: vendem mais produtos para cá do que os brasileiros enviam para os americanos.
No primeiro trimestre de 2025, os dois países trocaram US$ 20 bilhões em mercadorias, sendo que os EUA tiveram superavit de US$ 653 milhões, segundo dados da plataforma Comexstat, do governo brasileiro.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial brasileiro, atrás da China. Os principais produtos exportados pelo Brasil para os EUA no ano passado foram: