Redatora
Publicado em 14 de julho de 2025 às 10h20.
O Vietnã foi um dos poucos países a fechar rapidamente um acordo comercial com os Estados Unidos para evitar as novas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump.
Inicialmente ameaçado com uma alíquota de 46%, o presidente Trump anunciou uma tarifa fixa de 20% sobre os produtos vietnamitas exportados para os EUA. O percentual foi anunciado por Washington, mas ainda não confirmado oficialmente por Hanói.
Segundo reportagem do Financial Times, empresas locais questionaram a falta de detalhes no acordo. Isso porque os termos finais do acordo ainda não foram divulgados por nenhum dos dois governos, alimentando incertezas sobre o que, de fato, foi negociado.
A principal preocupação do setor produtivo vietnamita é uma cláusula incluída pelos EUA que ameaça uma taxa de 40% sobre bens classificados como "transbordo", prática ainda não claramente definida. O temor é que a regra penalize produtos fabricados no Vietnã com insumos chineses, essenciais para indústrias como a têxtil, eletrônica e calçadista.
Fabricantes como a Thanh Cong Garment, que fornece para marcas como Adidas e Calvin Klein, já sentem os impactos. A empresa relatou queda de 15% a 20% nos pedidos de clientes americanos para o terceiro trimestre, após uma corrida para embarcar produtos antes do prazo final de 9 de julho.
Segundo Tran Nhu Tung, presidente da empresa, a cadeia têxtil do país depende fortemente da China: cerca de 70% dos insumos para a fabricação de vestuário, como fios, zíperes e elásticos, vêm do país vizinho.
O receio é que os EUA adotem uma interpretação ampla da cláusula, penalizando até mesmo produtos genuinamente fabricados no Vietnã, mas com componentes chineses. Isso poderia afetar a principal vantagem competitiva do país, que se tornou um polo global de manufatura justamente ao atrair empresas que buscavam se afastar da China em meio às tensões geopolíticas.
Outro ponto de atenção é o efeito inflacionário da tarifa de 20%, mesmo que inferior ao previsto inicialmente. Analistas e empresários temem que os custos sejam repassados ao consumidor americano, reduzindo a demanda por produtos vietnamitas.
Considerado um dos países mais dependentes do comércio global, com uma relação exportação/PIB de quase 90%, e com cerca de um terço de suas exportações destinadas aos Estados Unidos, o Vietnã tem muito a perder. Em 2024, seu superávit comercial com os EUA atingiu US$ 123,5 bilhões, sendo o terceiro maior déficit americano, atrás apenas de China e México.
Apesar disso, no primeiro semestre, o fluxo de investimento estrangeiro direto aumentou quase um terço, segundo dados oficiais, alcançando US$ 21,5 bilhões, impulsionado por incentivos fiscais e custos competitivos. Ainda assim, especialistas apontam que o sucesso do acordo dependerá de como as tarifas do Vietnã se comparam às de seus vizinhos, que têm até 1º de agosto para fechar acordos semelhantes com Washington.
Segundo o Financial Times, permanece a dúvida se Hanói garantiu condições vantajosas ao agir rápido, ou se cedeu demais em troca de previsibilidade.