Manifestação de opositores no Marrocos (Spencer Platt/Getty Images)
Repórter
Publicado em 3 de outubro de 2025 às 06h01.
Protestos protagonizados pela Geração Z vêm tomando conta de Marrocos há 4 dias. Com milhões investidos em estádios para a copa do mundo FIFA 2030, a juventude expressa raiva e insatisfação com o estado de escolas e hospitais no país.
As manifestações se iniciaram devido às mortes de 8 mulheres grávidas admitidas para cirurgia cesariana em hospitais públicos, e começaram em cidades de baixo desenvolvimento, como Oujda, no leste, e Inzegane, no sul, onde as mortes ocorreram.
Os protestos foram organizados por um grupo denominado GenZ 212, em referência ao código de discagem do país. Nas manifestações, pelo menos dois jovens foram mortos pela polícia, que diz ter agido em legítima defesa.
Em entrevista à BBC, um manifestante anônimo comparou o estado de hospitais com presídios: sujos, lotados e onde é necessário subornar guardas e enfermeiros para conseguir ver um médico.
Todavia, as manifestações já se alastraram pelo país inteiro, incluindo a capital Rabat, o centro comercial de Casablanca e o polo turístico de Marrakesh.
O porta-voz do Ministério do Interior, Rachid El Khafi, disse que 409 pessoas foram presas. Além disso, informou que 263 policiais foram feridos durante os protestos, e que 142 de seus veículos foram vandalizados. O número de feridos entre os civis é de 23, e duas pessoas morreram até então, de acordo com o Ministério.
Na cidade de Oujda, a Associação Marroquina de Direitos Humanos reportou que um total de 37 pessoas foram presas somente nessa segunda-feira, 29. Dentre elas, 6 menores de idade.
A GenZ 212 se originou na plataforma de comunicação Discord, que funciona como um espaço de encontro e debate para a Gen Z. É a partir de redes sociais a juventude se mobiliza sem líderes ou figuras de autoridade.
Esse sistema segue tendência de manifestações semelhantes que assolaram governos na Ásia em países como o Nepal e Bangladesh, onde jovens se organizaram também pelo Discord e outras redes para conduzirem intensos protestos, muitos dos quais resultaram em violência e mortes.
Em muitos casos, essas manifestações causaram a renúncia de líderes e a dissolução de governos e parlamentos.
Seguindo esses exemplos, juventudes insatisfeitas com seus países vêm se mobilizando e indo às ruas. Tendência saiu da Ásia e agora vê protestos semelhantes na África, em Marrocos e Madagascar.