Erin Patterson: australiana mudou diversas vezes sua versão sobre a origem dos ingredientes (Getty Images / Edição EXAME)
Repórter
Publicado em 29 de junho de 2025 às 11h42.
O que começou como um almoço de domingo virou um dos julgamentos mais midiáticos da história recente da Austrália. Três pessoas morreram e uma sobreviveu após comer beef Wellington, um prato britânico à base de carne e cogumelos, preparado por uma australiana que agora enfrenta acusações de triplo homicídio e tentativa de assassinato.
O caso, ocorrido em 2023 em Morwell, uma cidade pacata do interior do estado de Victoria, ganhou proporções globais. Isso não apenas pelo inusitado do crime — um suposto envenenamento com death cap, cogumelo altamente tóxico — mas também pelas camadas de mistério, contradições e reviravoltas no tribunal.
A acusada é Erin Patterson, 50 anos, mãe de dois filhos e ex-editora de um jornal comunitário. Ela nega ter envenenado propositalmente os quatro convidados que sentaram à sua mesa naquele dia: seus ex-sogros Don e Gail Patterson; a irmã de Gail, Heather Wilkinson, e o marido dela, Ian Wilkinson. O último é o único sobrevivente, após passar por um transplante de fígado de emergência.
Segundo o Ministério Público, Erin teria mentido sobre estar com câncer para garantir a presença dos familiares no almoço. O prato servido teria sido preparado com uma mistura de cogumelos comuns e death caps desidratados, ocultos em uma pasta que faz parte da receita tradicional. A promotoria argumenta que Erin teria separado seu próprio prato usando louça de cor diferente, como estratégia para evitar a ingestão acidental do veneno.
A defesa, por sua vez, contesta que os pratos eram todos misturados e que a acusada também se sentiu mal, embora não tenha apresentado sintomas tão graves quanto os outros. Ela chegou a ir ao hospital, mas saiu contra a orientação médica, retornando apenas horas depois.
No tribunal, os promotores apontaram quatro supostos enganos cometidos por Erin:
Único sobrevivente dos 'cogumelos letais', Ian Wilkinson chega ao Tribunal de Latrobe Valley em Morwell, Austrália (Asanka Ratnayake/Getty Images)
A defesa sustenta que o envenenamento foi um acidente trágico e não um crime premeditado. Erin alegou ter usado cogumelos desidratados guardados em casa, que poderiam ter sido contaminados acidentalmente. Ela também mudou diversas vezes sua versão sobre a origem dos ingredientes, o que levantou dúvidas entre os investigadores.
Sobre o desidratador descartado, a ré afirma que agiu em pânico, temendo perder a guarda dos filhos após as visitas de serviços sociais.
O caso é repleto de contradições. A promotoria diz que não precisa provar por que Erin faria isso, mas sugere que havia tensões antigas entre ela e a família do ex-marido, Simon Patterson, que havia recusado o convite para o almoço.
O julgamento virou obsessão nacional. Pessoas fazem fila por horas para assistir à audiência, cafés da cidade enchem de jornalistas e ao menos dois documentários estão em produção. O caso já é apelidado pela imprensa local como “The Mushroom Murders”, ou "os assassinatos do cogumelo".
A decisão está agora nas mãos de um júri popular. Caso seja considerada culpada, Erin Patterson poderá ser condenada à prisão perpétua. Se for absolvida, sairá em liberdade após quase dois anos detida preventivamente.
As informações são do podcast "World News", da americana Reuters.