Casa Branca não divulgou uma lista oficial com todos os beneficiados (Giuseppe CACACE / AFP)
Agência de notícias
Publicado em 29 de maio de 2025 às 12h39.
Última atualização em 29 de maio de 2025 às 12h55.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, concedeu uma série de ordens de clemência na quarta-feira, anulando condenações ou comutando penas de 25 pessoas, incluindo simpatizantes e aliados condenados na Justiça por crimes como corrupção, fraude fiscal, tráfico de drogas e até homicídio. Entre os beneficiados, segundo uma fonte da Casa Branca, estão políticos do Partido Republicano afastados do cargo e presos por recebimento de propina, e mesmo o fundador de uma gangue de Chicago.
A nova série de clemências concedidas por Trump é o sinal mais recente dos esforços do presidente para redefinir o abrangente universo dos perdões presidenciais. Em vez de seguir o processo formal do Departamento de Justiça para examinar os requerentes, que tem como objetivo identificar e avaliar pedidos de clemência de pessoas que cumpriram suas penas e demonstraram arrependimento, o republicano tem preferido usar o instituto para recompensar seus apoiadores, incentivar aqueles que reforçam a narrativa de que as autoridades ligadas ao governo de Joe Biden promoveram perseguição política.
A Casa Branca não divulgou uma lista oficial com todos os beneficiados na atual leva de perdões concedidos pelo presidente, mas alguns nomes confirmados por funcionários do governo mostram uma série de figuras condenadas por crimes graves, com penas altas, incluindo muitas que admitiram culpabilidade.
É o caso de Larry Hoover, um dos fundadores do grupo criminoso Gangster Disciples, que tinha quase 30 mil membros somente em Chicago e arrecadava US$ 100 milhões por ano com o tráfico de drogas em todo o país. "Rei Larry", como era conhecido, foi preso no estado de Illinois na década de 1970 pelo assassinato de um traficante rival. Apesar do perdão de Trump, não se espera que Hoover ganhe liberdade, uma vez que tem mais de 100 anos de pena a cumprir por acusações estaduais de homicídio, que não são alcançáveis pelas formas de clemência presidencial. Contudo, o benefício concedido por Trump pode tirá-lo da prisão de segurança máxima onde está detido.
Embora não tenha ficado imediatamente claro o interesse pessoal de Trump no perdão ao ex-gângster, figuras públicas com histórico no Partido Republicano foram beneficiados apesar de terem declarado culpa diante da Justiça. O ex-governador de Connecticut John Rowland (1995-2004), que renunciou ao cargo para evitar um impeachment em meio a uma investigação sobre corrupção no governo, foi um deles.
Naquele processo, ele se declarou culpado e foi condenado a um ano e um dia de prisão. Dez anos depois da primeira condenação, Rowland voltou a ser condenado por corrupção pública, incluindo obstrução da Justiça, conspiração, falsificação de documentos utilizados por órgãos reguladores federais e outras violações das leis de financiamento de campanha.
Os perdões aparentemente movidos por natureza política não são uma novidade desde o retorno de Trump à Casa Branca. Há cerca de quatro meses, o ex-senador estadual do Tennesse Brian Kelsey, que reconheceu ter participado de um esquema ilegal de financiamento de campanha, esteve em uma leva inicial de beneficiados pela política de perdões de Trump.
Depois de tentar, sem sucesso, retirar sua confissão, ele apresentou um pedido de perdão à Casa Branca após a eleição de Trump, alegando que os promotores o haviam processado para atingir um aliado próximo do presidente. Ele se apresentou à prisão em fevereiro para cumprir uma sentença de 21 meses, mas foi perdoado por Trump cerca de duas semanas depois. Em um artigo publicado na quarta-feira, Kelsey afirmou que "a administração Biden travou uma guerra jurídica sem precedentes contra o presidente" e que "também travou guerra jurídica contra apoiadores de Trump".
Muitos dos aliados que obtiveram perdão ou comutação de pena pressionaram o novo governo com a mesma justificativa, comparando seus casos particulares com os processos enfrentados por Trump ao fim do primeiro mandato. Réu em uma série de processos, desde fraude fiscal a incitação à insurreição durante a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, o presidente classificou as investigações jurídicas como uma caça às bruxas. O argumento dos aliados ressoou no Gabinete de Trump.
Outro republicano beneficiado com perdões mais recentes foi o ex-senador estadual do Arkansas, Jeremy Hutchinson, condenado a mais de quatro anos de prisão em 2023 por fraude fiscal e corrupção passiva. Filho do ex-senador Tim Hutchinson e sobrinho do ex-governador Asa Hutchinson, ele é considerado uma figura de linhagem política no partido.
Em uma carta ao presidente defendendo o perdão, os advogados de Hutchinson escreveram que "está absolutamente claro que os democratas do Departamento de Justiça e do FBI optaram por processar o caso porque ele era um legislador conservador de alto perfil, de família republicana".
Durante a campanha, Trump chamou os condenados por crimes relacionados ao 6 de janeiro de "reféns" e "prisioneiros políticos". No seu primeiro dia de mandato, perdoou quase todos eles. Uma justificativa semelhante foi usada, porém, para perdões concedidos a apoiadores condenados por crimes de colarinho branco.
Ao anunciar o perdão aos astros conservadores de reality show Todd e Julie Chrisley na terça-feira, Trump afirmou que suas longas sentenças de prisão, determinadas em 2022 por fraude bancária e evasão fiscal — que os promotores disseram ter financiado um estilo de vida luxuoso — foram "um tratamento severo demais" que "não deveria ter acontecido".
A clemência foi concedida após a filha do casal, Savannah Chrisley, ler uma carta pedindo a intervenção do presidente, descrevendo os pais como "apoiadores vocais do presidente Trump" e traçando uma ligação direta entre as condenações deles e as de Trump, que chamou de exemplo da "instrumentalização da justiça contra conservadores e figuras públicas, corroendo proteções constitucionais básicas".
Simpatizantes sem vinculação política também foram beneficiados. O rapper Kentrell Gaulden, mais conhecido como YoungBoy Never Broke Again ou NBA YoungBoy, que se declarou culpado em dezembro por porte ilegal de armas, foi perdoado por Trumo. Durante a campanha presidencial, o presidente apareceu ocasionalmente com artistas de hip-hop como parte de um esforço para se conectar com eleitores negros do sexo masculino.
"Quero agradecer ao presidente Trump por me conceder o perdão e me dar a oportunidade de continuar construindo — como homem, como pai e como artista" disse Gaulden, pai de 10 filhos, em um comunicado na quarta-feira.
Na quarta-feira, Ed Martin, assessor de Trump que ajuda a liderar os esforços que incluem as concessões de clemência escreveu nas redes sociais: "Nenhum MAGA será deixado para trás", indicando que novos perdões deveriam ser concedidos.
Primeiro nomeado político a ocupar o cargo de procurador de perdões em tempos recentes, Martin assumiu a função após a demissão de um funcionário de carreira do Departamento de Justiça que havia se recusado a recomendar a restituição dos direitos de porte de armas ao ator Mel Gibson, um conhecido apoiador de Trump. (Gibson teve seus direitos restituídos logo depois).
Martin havia sido anteriormente indicado para chefiar o poderoso escritório do procurador dos EUA em Washington. Sua nomeação foi retirada em meio a preocupações de que ele estaria usando o cargo para promover causas políticas de Trump e perseguir seus inimigos, inclusive tentando anular perdões que Biden havia concedido a membros de sua família no fim de seu mandato.