Donald Trump, presidente dos EUA (Brendan Smialowski/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 9 de julho de 2025 às 15h02.
Última atualização em 9 de julho de 2025 às 16h29.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quarta, 9, que divulgará mais cartas com novas tarifas de importação a outros países, incluindo o Brasil.
"Vamos ter mais [tarifas] saindo hoje. O Brasil, por exemplo, não tem sido bom para nós. Não tem sido bom mesmo. Vamos liberar um número para o Brasil, eu acho, logo mais, nesta tarde ou amanhã de manhã", disse Trump, em conversa com jornalistas durante um evento com líderes da África na Casa Branca.
"Eles [os números] são baseados em fatos muito substanciais e também no histórico", afirmou o presidente americano.
No tarifaço anunciado em abril, o Brasil havia ficado na categoria mais baixa, de 10% de taxas extras. Os EUA possuem superávit comercial com o Brasil. Ou seja: vendem mais produtos para cá do que os brasileiros enviam para os americanos.
No primeiro trimestre de 2025, os dois países trocaram US$ 20 bilhões em mercadorias, sendo que os EUA tiveram superavit de US$ 653 milhões, segundo dados da plataforma Comexstat, do governo brasileiro.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial brasileiro, atrás da China. Os principais produtos exportados pelo Brasil para os EUA no ano passado foram:
Desde o começo desta semana, Trump vem divulgando cartas com novas tarifas de importação a outros países, impostas de modo unilateral, ao contrário do que as regras internacionais determinam.
Nesta quarta-feira, 9, ele fez anúncios para mais seis países, ampliando para pelo menos 20 o número de nações que deverão ser afetadas pelas medidas a partir de 1º de agosto.
Os novos comunicados foram enviados por meio de cartas publicadas na rede social de Trump, a Truth Social. Os países citados nesta nova rodada são Filipinas, Brunei, Moldávia, Argélia, Iraque e Líbia.
As mensagens seguem o mesmo padrão das cartas enviadas dois dias antes a outras 14 nações, entre elas Japão, Coreia do Sul, Malásia, Indonésia, África do Sul e Sérvia.
Nos textos, Trump informa que os produtos exportados por esses países para os EUA passarão a enfrentar tarifas de 20% a 40%. As cartas indicam que os EUA “talvez” considerem ajustar os novos níveis tarifários, “dependendo do nosso relacionamento com seu país.”
Desde que tomou posse, em janeiro, Trump passou a aumentar tarifas de importação sobre outros países, sob argumento de que eles estariam trazendo problemas aos EUA.
Trump quer que as empresas voltem a produzir nos Estados Unidos, em vez de ter fábricas no exterior, como fazem há décadas para cortar custos. Assim, ao encarecer as exportações por meio de novas taxas, ele espera que mais indústrias se mudem para os EUA e gerem empregos no país.
Além disso, Trump reclama do déficit comercial dos EUA com os outros países, e usa as tarifas como meio de pressionar os parceiros a comprarem mais itens americanos. Em vários casos, houve acordos nesse sentido: um compromisso de maiores compras ou abertura de mercados a produtos dos EUA em troca de Trump desistir de novas taxas.
Assim, analistas apontam que Trump usa as novas taxas como um elemento de pressão. Ele cria um problema que não existia antes, as novas taxas, e exige que os outros países mudem de postura para não implantá-las.
Em abril, Trump anunciou uma tarifa geral de 10% extras a quase todos os países do mundo e outra taxa extra, que variava entre os países de acordo com o déficit que os EUA tinham com cada um. Na época, houve uma crise nos mercados e o líder americano adiou as novas taxas por país até 9 de julho, sob o argumento de que daria tempo para negociações.
Nesta semana, ele adiou novamente o prazo, para 1º de agosto, e passou a anunciar novos percentuais de taxas para alguns países, que poderão ser negociados até o final de julho. A tarifa geral de 10% segue em vigor, além de outras taxas para países específicos, como China, Canadá e México, e para produtos, como aço e alumínio.
Os EUA possuem superávit comercial com o Brasil. Assim, o país foi enquadrado na tarifa geral de 10% extras. Representantes brasileiros negociam com os americanos como as cobranças poderiam ser revistas.
Além disso, o Brasil é um grande exportador de aço aos Estados Unidos. O produto recebeu taxas extras, primeiro de 25% e depois de 50%. O percentual mais alto entrou em vigor em junho.
As exportações brasileiras aos EUA ganharam força a partir de 2021. Após a pandemia, os americanos buscaram reduzir as compras da China e diversificar fornecedores. O recorde histórico no comércio bilateral foi registrado em 2022, quando a corrente de comércio (soma de importações e exportações) atingiu US$ 88,7 bilhões, sendo US$ 51,3 bilhões em vendas, segundo dados da Câmara de Comércio Brasil-EUA (Amcham).
Em 2023, houve queda e as vendas foram de US$ 38,9 bilhões. No ano seguinte, 2024, houve uma retomada e a corrente de comércio superou US$ 80,9 bilhões de dólares, o segundo maior valor da história,
Já as importações brasileiras bateram recordes em valor e volume. Foram US$ 40,3 bilhões em vendas, alta de 9,2% em relação a 2023, e 40,7 milhões de toneladas, avanço de 9,9% sobre o ano anterior.