Apoiador de Maduro usa camisa com a estampa "Yankee go home" (Ianque vá para casa), em Caracas, Venezuela (Frederico Parra/AFP)
Repórter
Publicado em 3 de novembro de 2025 às 18h04.
O presidente americano Donald Trump, apesar de um acúmulo intenso de forças americanas nos mares perto da Venezuela, nega a intenção de uma declaração de guerra contra país, mas continua ambíguo em relação às intenções dos Estados Unidos.
O republicano diz que os navios de guerra estão presentes apenas para o combate ao tráfico de drogas na região. Suas forças têm conduzido ataques rotineiros em embarcações que os americanos suspeitam de envolvimento com o narcotráfico.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no poder desde 2013, acusa os EUA de agressão e de buscarem uma mudança de regime no país.
Donald Trump, por sua vez, continua dando sinais mistos sobre a intenção militar dos EUA na Venezuela, apesar da concentração de forças enquanto as atividades se intensificam.
Apesar da intensa presença militar na Venezuela, Trump disse em entrevista ao canal CBS nesse domingo, 2, que duvida que os EUA irão à guerra contra a Venezuela, mas que acredita que Nicolás Maduro está com seus “dias contados”.
Ao programa 60 minutes, quando questionado sobre uma possível guerra, Trump disse: “Eu duvido. Acho que não”. Todavia, quando o assunto da pergunta era se os dias de Maduro como presidente estavam contados, a resposta foi “Eu diria que sim, é. Acho que sim.”
Os depoimentos de Trump parecem contradizer o que ele mesmo disse pouco tempo antes, especialmente sobre possíveis ataques no território venezuelano.
A sua linguagem vaga se estende a um depoimento no qual alertou que deu autorização para que a CIA, serviço de inteligência americano, começasse a operar na região. Quando questionado sobre se a CIA teria autoridade para neutralizar Maduro, Trump não respondeu, mas disse que a “Venezuela está sentido o calor.”
Quando pressionado especificamente sobre ataques aéreos, disse: “Eu não diria que faria isso... Não vou dizer o que pretendo fazer com a Venezuela, se vou fazer ou não.”
Mesmo assim, de acordo com reportagem da BBC, bombardeiros do tipo B-52 fizeram exercícios nos mares da Venezuela, e o republicano também ordenou o reposicionamento do USS Gerald R. Ford, o maior porta-aviões do mundo, da Europa para a região.
A pressão militar de Trump é feita sob justificativa de combate ao narcotráfico, já que muitas drogas que chegam aos EUA são produzidas ou circulam pela Venezuela. Todavia, Washington ainda não forneceu provas concretas das acusações de laços entre o narcotráfico e os barcos atingidos, e deles com o governo venezuelano.
A oposição política na Venezuela acusa há tempos a administração de Maduro de envolvimento com cartéis e o narcotráfico, de acordo com reportagem da Reuters, especialmente na região oeste do país, perto da fronteira com a Colômbia.
Desde setembro, as forças americanas já conduziram 15 ataques contra barcos que supostamente pertenceriam ao narcotráfico, matando pelo menos 64 pessoas, segundo a mais recente apuração do jornal The Guardian. O último teria ocorrido no domingo, dia 2.
Os ataques geraram condenação por parte das Nações Unidas e de grupos de direitos humanos. Volker Türk, Comissário de Direitos Humanos da ONU, chegou a dizer que as mortes constituem “execuções extrajudiciais”, e que são uma violação do direito internacional e das próprias leis americanas, mesmo se tivessem como alvo traficantes conhecidos.
“Esses ataques – e seu crescente custo humano – são inaceitáveis”, disse Türk. “Os EUA devem interromper tais ataques e tomar todas as medidas necessárias para impedir a execução extrajudicial de pessoas a bordo dessas embarcações, independentemente da conduta criminosa alegada contra elas.”
No fim de outubro, quando questionado sobre uma eventual declaração de guerra, Trump disse na Casa Branca: “Bem, não acho que necessariamente pediremos uma declaração de guerra. Acho que simplesmente mataremos as pessoas que trazem drogas para o nosso país. Entendeu? Vamos matá-las.”
“Agora as drogas estão chegando por terra... sabe, a terra será o próximo alvo”, continuou, fazendo alusão a uma possível invasão.
Em resposta, Maduro avisou durante um evento em Caracas no dia 23 de outubro sobre uma intervenção americana que “a classe trabalhadora se levantaria e uma greve geral insurrecional seria declarada nas ruas até que o poder fosse recuperado", acrescentando que "milhões de homens e mulheres com rifles marchariam por todo o país”.
De acordo com o The Wall Street Journal, oficiais americanos já selecionaram possíveis alvos para um eventual ataque aéreo no território venezuelano. Os alvos seriam instalações militares que, alegadamente, estariam sendo usadas para a movimentação de narcóticos.
Além disso, as fontes, falando em condição de anonimato, teriam dito que os alvos foram escolhidos de tal forma que trariam uma mensagem clara de renúncia ao poder para Nicolás Maduro.
Os alvos incluem portos, aeroportos, pistas de pouso e complexos navais, todos controlados pelas forças armadas e todos são suspeitos de serem usados para o narcotráfico.
Além disso, os EUA vêm promovendo uma narrativa que emoldura toda a administração do país como sendo conectada ao tráfico de drogas. Quando perguntado sobre a expansão de atividade militar na região, o secretário de estado Marco Rubio disse a repórteres: “Na Venezuela, existe um narcoestado controlado por um cartel. Esta é uma operação contra narcoterroristas, a Al-Qaeda do ocidente... E eles precisam ser combatidos.”
Corroborando essa noção, está a porta-voz da Casa Branca, Anna Kelly, que diz: “O presidente Trump foi claro em sua mensagem a Maduro: pare de enviar drogas e criminosos para o nosso país. O presidente está preparado para usar todos os recursos do poder americano para impedir que as drogas inundem nossa pátria.”
Washington, estimulando essa narrativa, e apostando em uma mudança de lealdade a Maduro, estabeleceu em agosto uma recompensa de US$ 50 milhões por informação que levasse à prisão do presidente venezuelano, dobrada da quantia original de 25 milhões.
Todavia, essas apostas parecem não ter dado resultados, com depoimentos sugerindo pouco apoio público aos americanos na Venezuela.
Mesmo dentre a oposição, caracterizada pela vencedora do Nobel da Paz desse ano Maria Corina Machado e pelo candidato presidencial Henrique Capriles, há divisões.
Enquanto Machado se alia fortemente a Trump, Capriles condena a presença americana na região, e defende encontros entre os líderes, por mais que historicamente esses tenham visto pouco progresso, segundo reportagem da Reuters.
Maduro nega ter relação com o narcotráfico e acusa Trump de incitar uma mudança de regime para ter acesso ao petróleo da Venezuela.