Agência de notícias
Publicado em 10 de julho de 2025 às 14h03.
Última atualização em 10 de julho de 2025 às 14h15.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou nesta quinta-feira a criação de um Fundo Europeu para a Reconstrução da Ucrânia. A ideia, apresentada durante a quarta Conferência para a Reconstrução da Ucrânia, que ocorre nesta quinta e sexta-feira em Roma, visa atrair investimentos privados para o que ela definiu como “o maior fundo de capital do mundo para apoiar” o governo de Kiev.
Na cúpula também foram anunciados novos acordos de financiamento para a Ucrânia no valor de € 10 bilhões (R$ 64 bilhões, na cotação atual) — inferior à quantia de € 16 bilhões (R$ 103 bilhões) mobilizada na conferência anterior, realizada em Berlim no ano passado.
— Poderemos construir bases sólidas — declarou Von der Leyen. — [A iniciativa] impulsionará o investimento em energia, transporte, matérias-primas críticas e indústrias de uso dual. Estamos nos comprometendo com o futuro da Ucrânia ao mobilizar recursos públicos para atrair grandes investimentos do setor privado e ajudar a reconstruir o país.
Von der Leyen também afirmou que Itália, Alemanha, França, Polônia e o Banco Europeu de Investimentos (BEI) já garantiram participação na iniciativa — e que “outros também irão se juntar”. Em comunicado, a Comissão Europeia detalhou que o fundo contará com um capital inicial de € 220 milhões (R$ 1,4 bilhão), com a expectativa de mobilizar € 500 milhões (R$ 3,2 bilhões) do setor privado até 2026.
— O povo ucraniano está pronto para impulsionar a economia do seu país rumo ao futuro. Agora é o momento de investir — incentivou a chefe da Comissão, sendo aplaudida por uma plateia onde estavam sentados os líderes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky; da Espanha, Pedro Sánchez; da Itália, Giorgia Meloni, anfitriã do evento; e da Alemanha, Friedrich Merz, além do presidente do Conselho Europeu, António Costa.
Mudanças no cenário geopolítico vêm afetando o financiamento para a reconstrução do país pós-guerra. A americana BlackRock Inc. suspendeu neste ano a busca por investidores para apoiar um fundo multibilionário de recuperação da Ucrânia após a reeleição de Trump nos EUA. O fundo, que seria apresentado nesta semana em Roma, estava perto de garantir apoio inicial de entidades com respaldo da Alemanha, Itália e Polônia.
O fato é que, ao começar a organizar a conferência de Roma, esperava-se que ela ocorresse em condições de paz ou ao menos com uma trégua, o que não se concretizou. A BlackRock, por exemplo, decidiu em janeiro pausar as negociações com investidores após o esfriamento do interesse e da crescente incerteza sobre o futuro da Ucrânia — que precisará de pelo menos € 500 bilhões (R$ 3,2 trilhões) para ser reconstruída.
Em seu discurso na conferência, Zelensky agradeceu o apoio ocidental, mas ressaltou que, apenas na noite de quarta para esta quinta-feira, a Rússia lançou 18 mísseis e 400 drones contra Kiev, evidenciando o que ele descreveu como “uma clara escalada do terror” por parte de Moscou. O mandatário ucraniano aproveitou o contexto para pedir o aumento no financiamento para a compra de drones e mísseis.
— Temos de bloquear essas ações. Isso deve ser feito com mais investimentos. Precisamos interceptar os drones. Precisamos de novos mísseis, novos sistemas de defesa. Peço a todos os aliados que aumentem os recursos — declarou ele à plateia de 3,5 mil participantes, 100 delegações oficiais, 40 organizações internacionais e 2 mil empresas.
Foi a segunda noite consecutiva de ataques intensos, em meio à recusa de Moscou em discutir a trégua. Trump, criticou duramente o presidente russo, Vladimir Putin, nesta semana, por “matar pessoas demais” e prometeu enviar mais armas para o território ucraniano — cenário que atrasa qualquer planejamento de reconstrução do país após o conflito. Em vez disso, os aliados se concentram em como reunir recursos para que Kiev continue lutando na guerra, que já entra em seu quarto ano.
A Alemanha — frequentemente criticada nos primeiros anos da guerra por seu apoio cauteloso a Kiev — confirmou na terça-feira que seu governo está em negociações com os Estados Unidos para garantir o envio de sistemas de defesa aérea Patriot à Ucrânia. Segundo apurado pela Bloomberg, Berlim está disposta a oferecer a Kiev dois sistemas Patriot adicionais, incluindo mísseis interceptadores, e cobrir integralmente os custos das entregas.
Von der Leyen, por sua vez, recordou que, desde o início da invasão russa, “a Europa tem sido e continua a ser o maior doador da Ucrânia, com quase € 165 bilhões (R$ 10 trilhões) em apoio”. Ela especificou que, neste ano, a UE cobrirá 84% do financiamento externo necessário, anunciando o pagamento de pelo menos € 1 bilhão (R$ 6,4 bilhões) — e aproveitou para ressaltar o caminho da Ucrânia rumo à adesão à UE.
— Durante nossa última reunião, os líderes da UE reconheceram o importante progresso da Ucrânia em termos de reformas, apesar das condições extremamente difíceis. A avaliação da Comissão é clara: a Ucrânia cumpriu todos os passos necessários para iniciar a primeira rodada de negociações de adesão. As negociações devem continuar — reforçou também Costa, o presidente do Conselho Europeu.
Em um apelo direto aos Estados Unidos para que reafirmem de que lado estão na guerra, Merz, o chanceler alemão, declarou a Moscou e a Putin que os aliados “não vão se render”. Ele pediu que Trump “fique com os europeus” porque eles têm “o mesmo objetivo: uma ordem política e econômica estável” para “construir uma nova história comum”. Em resposta, o enviado especial dos EUA, Keith Kellogg, disse:
— Quero agradecer e dizer que estamos com vocês.
Durante sua breve passagem pelo evento, o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, anunciou a criação de um novo Escritório para a Reconstrução da Ucrânia em Madri, vinculado ao Ministério da Economia e em contato com a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID), publicou o El País. Segundo Sánchez, a medida “garantirá a coordenação institucional e facilitará visitas regulares à Ucrânia por atores do setor privado”.
Como reação à conferência, a embaixada da Rússia em Roma divulgou uma nota em tom crítico, declarando que “o próprio nome escolhido para esta iniciativa reflete claramente a lógica cínica e mentirosa que seguem os atuais líderes dos países ocidentais, incluindo a Itália”: “Em vez de parar a guerra e abordar suas causas profundas, eles estão enfatizando suas consequências, demonstrando assim ao mundo inteiro seu desejo de dominação, sua ganância e sua gula”, enfatizaram.