Mundo

Voos supersônicos voltam aos EUA: a revolução do transporte aéreo que enfrenta desafios

Boom Supersonic quer lançar jato comercial Mach 1.7 até 2029; custos, regulação e eficiência são obstáculos no caminho

Publicado em 11 de junho de 2025 às 12h41.

Os voos comerciais supersônicos podem estar prestes a retornar e, desta vez, até sobre o território dos Estados Unidos. A proposta de retomada desse modelo de transporte aéreo mais veloz ganha força com o avanço de novos projetos e com uma possível mudança regulatória que pode derrubar a proibição histórica de ultrapassar a velocidade do som sobre solo americano, válida desde a década de 1970.

Durante a era do Concorde, o jato anglo-francês que voava a Mach 2 e operou entre 1976 e 2003, esse tipo de viagem era permitido apenas sobre oceanos, devido ao barulho dos estrondos sônicos. Mesmo no auge da operação, voos supersônicos foram banidos no espaço aéreo continental dos EUA. Agora, propostas no Congresso americano tentam reverter esse cenário.

O momento é estratégico: o X-59, jato experimental da NASA que promete reduzir os estrondos sônicos a um “baque” mais suave, deve iniciar testes em 2025.

Já a Boom Supersonic, empresa com sede no Colorado, avança no desenvolvimento do Overture, jato que deve atingir Mach 1.7, reduzindo pela metade o tempo de voos transcontinentais. A previsão da empresa é entregar os primeiros modelos a American Airlines, United e Japan Airlines até o fim da década.

Apesar do entusiasmo do CEO Blake Scholl, o projeto enfrenta obstáculos técnicos e financeiros. O alcance limitado de cerca de 7.865 quilômetros inviabiliza rotas pelo Pacífico sem escalas. A autonomia é suficiente para voos dentro dos Estados Unidos ou rotas transatlânticas, como entre Nova York e Londres, mas não permite, por exemplo, cruzar o Oceano Pacífico entre Tóquio e Los Angeles sem uma parada para reabastecimento.

Além disso, o Overture pode consumir até sete vezes mais combustível do que jatos como o Airbus A350, segundo estimativas do International Council on Clean Transportation. Para compensar esse custo, as passagens deverão ser vendidas com um preço cerca de 38% acima do atual cobrado para a classe executiva, segundo estudo da Universidade Worms, na Alemanha.

O mercado de viagens corporativas também mudou. A digitalização e a conectividade em voos comerciais reduziram a necessidade de deslocamentos urgentes, diminuindo o apelo de um avião mais rápido.

Especialistas ainda alertam para o desafio regulatório: desde os acidentes com o modelo 737 MAX, da Boeing, a FAA tem conduzido processos de certificação com mais cautela e demora, o que pode comprometer o cronograma agressivo da Boom.

Mesmo assim, Scholl mantém o otimismo. Ele diz que o Overture não será acessível para todos, assim como os modelos de carro da Tesla, mas terá público suficiente para viabilizar o negócio.

“A tecnologia existe, o mercado existe, os passageiros estão aí. Agora, só precisamos executar”, disse. Mas reconhece: “estatisticamente, o fracasso é o resultado mais provável.”

Acompanhe tudo sobre:AviõesEstados Unidos (EUA)

Mais de Mundo

Sobe para 13 o número de israelenses mortos após retaliação do Irã

Trump ameaça responder com 'força total' ao Irã se os EUA forem atacados: 'Níveis nunca vistos'

Estados Unidos, China e Rússia: o jogo de poder nuclear entre as potências

Itamaraty tenta retirada de políticos brasileiros via Jordânia