Plínio Pereira, presidente da DHL Supply Chain no Brasil: “Esses produtos têm um custo altíssimo e infelizmente ficam na mira de quadrilhas especializadas em roubo de carga. Nosso trabalho é trazer tecnologia para inibir a ação dessas quadrilhas” (DHL/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 30 de setembro de 2025 às 11h36.
Última atualização em 30 de setembro de 2025 às 13h38.
Pouca gente imagina que um frasco de remédio possa virar alvo de roubo em rodovias.
Mas é exatamente isso que acontece hoje no mercado brasileiro, especialmente com medicamentos de alto valor, como as famosas canetas de emagrecimento, como Ozempic e Mounjaro — um dos produtos mais disputados da indústria farmacêutica atualmente.
Para transportar essas cargas sensíveis e caras, a DHL Supply Chain, braço de logística doméstica da gigante alemã no Brasil, decidiu investir pesado em infraestrutura.
A empresa acaba de anunciar um aporte de 100 milhões de reais no Brasil para renovar e expandir sua frota de veículos refrigerados e blindados, usados no transporte de medicamentos, vacinas e insumos médicos.
Além disso, a companhia rebatiza a Polar, transportadora especializada em cadeia fria adquirida em 2017, que agora passa a operar como DHL Health Logistics.
“Esses produtos têm um custo altíssimo e infelizmente ficam na mira de quadrilhas especializadas em roubo de carga. Nosso trabalho é trazer tecnologia para inibir a ação dessas quadrilhas”, afirma Plínio Pereira, presidente da DHL Supply Chain no Brasil.
O novo investimento marca a primeira etapa de um plano maior. A meta é reforçar a presença da DHL no setor de logística da saúde, que cresce dois dígitos ao ano e exige controle rigoroso de temperatura e rastreabilidade total.
“Estamos falando de produtos que precisam ser mantidos entre 2°C e 8°C durante todo o trajeto, por quatro dias se necessário, sem nunca sair dessa faixa. Isso exige um nível de controle absurdo”, diz Leonardo Alfaro, head de transportes da DHL.
O plano da DHL é incorporar 60 caminhões refrigerados com tecnologia de ponta até o fim de 2025, e mais 50 em 2026.
Os veículos já saem de fábrica com motores Euro 6, telemetria embarcada, rastreamento com redundância, câmeras com inteligência artificial e sistemas de refrigeração monitorados em tempo real.
Mas o destaque fica por conta dos veículos blindados, tanto com proteção física (placas de aço) quanto com blindagem elétrica, que torna o caminhão inviolável.
“Não estamos falando de blindagem em carro de passeio. É blindagem em VUCs, caminhões e até carretas. A combinação de alto valor agregado e temperatura controlada torna esse transporte extremamente visado”, diz Pereira.
Segundo a empresa, o transporte de medicamentos exige uma operação de contingência a cada etapa — se houver qualquer falha no equipamento, a carga precisa ser redirecionada ou reembalada sem romper a cadeia de frio.
“Tem que ter câmera, rastreio, backup de refrigeração e motorista treinado. É quase um laboratório sobre rodas”, afirma Alfaro.
O movimento da DHL acontece em meio ao crescimento acelerado do setor de saúde — puxado por vacinas, medicamentos biológicos, tratamentos oncológicos e as canetas para emagrecimento, como as usadas para controle de diabetes e GLP-1.
Esses produtos são sensíveis à variação de temperatura e demandam cadeias logísticas altamente especializadas.
Hoje, a DHL Health Logistics opera com mais de 300 veículos no Brasil, 500 profissionais e bases em Guarulhos, Campinas, Anápolis e Rio de Janeiro.
“A DHL já atuava com armazenagem e transporte, mas agora temos uma solução completa e integrada. Desde a importação até a última milha, tudo com controle de temperatura e rastreabilidade”, afirma Pereira.
Segundo ele, parte do diferencial da operação está na diversidade de modais — com uso de frota rodoviária refrigerada, transporte aéreo e caixas térmicas reutilizáveis.
Apesar de a maior parte da demanda estar concentrada em São Paulo, Espírito Santo, Goiás e Minas Gerais, por motivos fiscais e proximidade com portos e aeroportos, os medicamentos transportados pela DHL chegam a todos os estados brasileiros.
“Imagina um tratamento oncológico numa cidade pequena do interior. Esse produto precisa manter a temperatura ideal da origem até o destino, e a gente precisa garantir isso. Não importa se é via rodoviária, aérea ou com caixas térmicas”, diz Alfaro.
O investimento no Brasil é apenas uma fração de um movimento global. Em abril de 2025, a DHL anunciou um plano de 2 bilhões de euros (mais de 12 bilhões de reais) para ampliar suas operações em logística da saúde ao redor do mundo.
A operação já conta com 600 centros e armazéns em 130 países, com mais de 2,5 milhões de metros quadrados de espaço refrigerado. O foco da nova fase é criar cadeias de suprimento mais resilientes e escaláveis, em resposta às transformações do setor.
“A gente chama isso de um compromisso com a indústria da saúde. E esse compromisso é global. A DHL Health Logistics nasceu para consolidar tudo isso sob um único guarda-chuva, oferecendo uma solução de ponta a ponta”, diz Pereira.
Apesar do crescimento do setor e da sofisticação da operação, a logística farmacêutica enfrenta um dilema central: altíssimo custo fixo e pressão por eficiência.
O transporte refrigerado exige investimentos contínuos em tecnologia, rastreamento e segurança — mas a margem por entrega segue apertada, especialmente com a pulverização da demanda em regiões remotas.
“Não existe uma solução única. Cada trajeto exige uma engenharia logística diferente, e qualquer falha compromete a integridade do produto”, diz Leonardo Alfaro.
Além disso, o setor ainda lida com burocracia tributária, variação cambial (que afeta insumos importados) e um consumidor cada vez mais exigente em relação à velocidade de entrega — mesmo quando o produto transportado exige cuidados extremos.
Apesar da aposta na saúde, a DHL não pretende parar por aí. O setor de e-commerce continua sendo o mais aquecido da operação no Brasil. E o segmento automotivo, especialmente com a entrada das montadoras chinesas, também tem gerado novas demandas.
“O e-commerce não só cresceu na pandemia — ele manteve o ritmo. Hoje os marketplaces operam com volumes gigantescos e continuam expandindo. A gente cresce junto”, diz Pereira.
A empresa também tem crescido em aftermarket, o setor de peças de reposição automotiva, e avalia novos investimentos estruturais no país.
“Temos apetite para investir. Seja em saúde ou em outros setores, o Brasil está no radar da DHL global como um mercado relevante”, afirma o executivo.