Ariel Grunkraut, CEO da Kraft Heinz Brasil: “O Brasil sempre foi um celeiro de talentos para a companhia. Hoje, cerca de 50% dos VPs globais da Kraft Heinz são brasileiros” (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter
Publicado em 20 de setembro de 2025 às 10h16.
Última atualização em 20 de setembro de 2025 às 12h39.
Nerópolis (Goiás)*: A Kraft Heinz anunciou no início deste mês um movimento estratégico que dividirá sua operação global em duas companhias: Taste Elevation, responsável por marcas icônicas de molhos e condimentos (ketchup, mostarda e maionese), e Groceries North America, focada em marcas tradicionais do mercado americano, como Oscar Mayer e cafés. A mudança, que deve ser concluída entre o final de 2026 e o início de 2027, já movimenta o setor de alimentos — mas, no Brasil, o impacto será menos sobre o financeiro.
“Não muda nada para a operação brasileira. Trabalhamos com marcas que estão 100% dentro do portfólio de Taste Elevation, e assim vamos seguir”, afirma Ariel Grunkraut, CEO da Kraft Heinz Brasil, em entrevista à EXAME direto da fábrica em Nerópolis, Goiás (a maior e mais antiga fábrica da companhia no Brasil).
Com o Brasil sendo um dos principais países dentro da Kraft Heinz, ficando entre 4º e o 5º lugar no ranking global, com essa cisão, a operação brasileira pode ganhar ainda mais representatividade global.
“O Brasil sempre foi um celeiro de talentos para a companhia. Hoje, cerca de 50% dos VPs globais da Kraft Heinz são brasileiros”, diz o CEO.
Com a criação de duas empresas independentes, novas estruturas de liderança precisarão ser formadas em nível global, o que, segundo o CEO, deve abrir espaço para mais profissionais brasileiros assumirem posições estratégicas.
“Se antes havia um CEO, agora serão dois; se antes havia um CFO, agora também serão dois. Isso multiplica as oportunidades para o nosso time”, afirma Grunkraut.
O executivo, que assumiu a cadeira de CEO da Kraft Heinz Brasil em novembro de 2024, também reforça que os produtos como ketchup Heinz, molho de tomate, Philadelphia, temperos Kero e Hemmer compõem a frente de negócios com maior potencial de crescimento global, e por isso, ele segue otimista com o desempenho do Brasil nos próximos anos, - afinal, é um dos poucos países que não depende da importação de matéria-prima dos Estados Unidos para produzir o ketchup e o molho de tomate.
"Hoje, já somos autosustentáveis com a produção de pasta de tomate Heinz aqui no Brasil. A nossa expectativa é que daqui a 3 a 5 anos o Brasil consiga evoluir a ponto de exportar a pasta Heinz para os países da América Latina", diz o presidente.
O movimento, segundo Grunkraut, traz ganhos financeiros e estratégicos, reduzindo custos com importação, exposição cambial e riscos logísticos.
Ariel Grunkraut, CEO da Kraft Heinz Brasil, na plantação de tomates em Cristalina, Goiás. Cerca de 7 bilhões de tomates são colhidos por ano pela empresa (Evandro Bueno/Divulgação)
O racional por trás da cisão, de acordo com Grunkraut, é dar clareza às estratégias de cada frente de negócio. Taste Elevation, que fatura cerca de US$ 15 bilhões anuais, tem como prioridade crescer em mercados internacionais e inovar em portfólio. Já Groceries North America, com US$ 10 bilhões em receita, foca na rentabilidade e geração de caixa com marcas centenárias.
“Quando estavam juntas, as duas empresas se apresentavam como uma companhia média. Separadas, cada uma terá mais força para mostrar seu verdadeiro valor: uma de alto crescimento e outra altamente rentável”, afirma o CEO.
Os valores de mercado das duas novas companhias só serão conhecidos após a cisão estar concluída e as ações começarem a ser negociadas em bolsa, diz o CEO. O cronograma aponta para o último trimestre de 2026, entre 12 e 18 meses a partir de agora.
Até lá, no Brasil, a agenda segue focada em manter o crescimento da operação, que já figura entre as maiores da Kraft Heinz no mundo, e em reforçar a imagem de país estratégico para o grupo.
“Essa decisão global mostra que as companhias entenderam que poderiam ser ótimas separadas, em vez de apenas boas juntas. E para nós, no Brasil, significa mais relevância, mais oportunidades e mais confiança no nosso mercado e nos nossos talentos”, afirma Grunkraut.A Kraft Heinz Company nasceu em 2015, nos Estados Unidos, da fusão entre duas gigantes da indústria alimentícia:
Em 2 de julho de 2015, Kraft Foods Group e H.J. Heinz Company se fundiram para formar The Kraft Heinz Company. A união, apoiada por Berkshire Hathaway e 3G Capital, consolidou uma das maiores companhias globais de alimentos e bebidas, dona de marcas icônicas como Heinz, Philadelphia, Quero, Kraft Heinz e Oscar Mayer.
Em setembro deste ano, a The Kraft Heinz Company anunciou a intenção de se dividir em duas empresas separadas:
Hoje, a Kraft Heinz está presente em mais de 40 países, com 79 fábricas espalhadas pelo mundo.
A entrada da Kraft Heinz no Brasil se deu com a compra da marca Quero, em 2013, garantindo acesso direto ao campo, aos produtores locais e à fábrica de Nerópolis, em Goiás, de 81 mil metros quadrados. A planta emprega cerca de mil funcionários fixos, mas no período da safra de tomate, que dura quatro meses, esse número se expande para mais de 300 trabalhadores temporários.
A empresa também tem outra fábrica no estado goiano, em Nova Goiás. Inaugurada em março de 2018, é a fábrica mais moderna da Kraft Heinz no mundo. Com pouco mais de 30 mil metros quadrados de área construída, a unidade abriga 14 linhas de produção distribuídas em três áreas, responsáveis por fabricar 45 produtos diferentes.
Em Blumenau, Santa Catarina, a Kraft Heinz Brasil tem desde 2021 a fábrica da Hemmer, que produz conservas, molhos e mostardas. Com uma área construída de mais de 17 mil metros quadrados, tem mais de 700 funcionários, e é uma empresa importante para o desenvolvimento local.
Em 2024, o Brasil se destacou com um grande marco. No começo, a pasta de tomate utilizada no ketchup Heinz era importada da Califórnia, mas, após anos de desenvolvimento de sementes adaptadas e parcerias com produtores, o Brasil alcançou a autossuficiência em pasta Heinz em 2024.
“Pela primeira vez desde o ano passado, a gente pode dizer que 100% do ketchup Heinz é feito com tomates brasileiros”, diz Grunkraut, que afirma que o país integra um seleto grupo que mantém a cadeia completa de processamento de tomate, ao lado de Egito, Turquia, Polônia e Venezuela.
“Diferentemente dos Estados Unidos, que importam a pasta pronta de fornecedores externos, o Brasil realiza todo o ciclo, do cultivo ao envase”, diz o CEO da Kraft Heinz no Brasil.
Os resultados alcançados pela Kraft Heinz no Brasil já se destacam no cenário global. Enquanto a média de produtividade de tomate industrial varia entre 80 e 90 toneladas por hectare, a empresa chega a índices de 100, 110 e até 150 toneladas por hectare, segundo dados de associações ligadas ao setor. A companhia colhe cerca de 7 bilhões de tomates por ano no estado de Goiás e já investiu R$ 1 bilhão no Brasil nos últimos 5 anos.
Colheita de tomates em Cristalina, Goiás. Essa é uma das fazendas onde a Kraft Heinz planta tomates para molho e ketchup (Evandro Bueno/Divulgação)
*A jornalista foi convidada para visitar a plantação de tomates em Cristalina e as fábricas da Kraft Heinz Brasil em Goiás.