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Cadê o tráfego que estava aqui?

Fundador e CEO do fundo BR Angels, Orlando Cintra argumenta que a IA já está mudando radicalmente a maneira como as pessoas encontram informações na web — e isso impactará o marketing digital de todas as empresas

Orlando Cintra: Parece inevitável que quem permanecer dependente da estratégia de ranking no Google sofrerá o efeito devastador da aceleração da IA (alphaspirit/Thinkstock)

Orlando Cintra: Parece inevitável que quem permanecer dependente da estratégia de ranking no Google sofrerá o efeito devastador da aceleração da IA (alphaspirit/Thinkstock)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 10 de julho de 2025 às 13h37.

Última atualização em 10 de julho de 2025 às 13h54.

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Orlando Cintra é fundador e CEO do BR Angels

Entre as várias revoluções que a inteligência artificial está promovendo em toda a sociedade, há uma silenciosa que está criando um baita desafio para as empresas em marketing e vendas.

Nas últimas décadas, os sites de venda e de informação confiaram nas buscas do Google para gerar a maior parte do tráfego orgânico.

Acontece que o surgimento do ChatGPT, Gemini e outros chatbots tem mudado essa dinâmica radicalmente.

No Brasil, desde agosto de 2024, o Google começou a apresentar os “AI Overviews”, o que representou um grande salto na transição: o líder soberano das buscas na internet passou a devolver respostas com um resumo e não com links de sites originais, como costumava oferecer.

Se para o usuário geralmente faz pouca diferença de onde vem a resposta, para quem usava tráfego orgânico para vender em seus sites e e-commerces foi uma guinada brusca.

Os “AI Overviews” no Google e resumos do ChatGPT condensam conteúdo de diversos sites e demandaram mudanças profundas nas estratégias de captar o tráfego orgânico na internet.

O outrora tão falado SEO (Search Engine Optimization), que visava colocar seu site no topo das buscas, vai abrindo caminho para versões mais atuais como o AEO (Answer Engine Optimization) ou GEO (Generative Engine Optimization).

Essas novas versões buscam conseguir incluir conteúdos dentro das respostas da IA, ensinando como conseguir melhor resultado dentro dos LLM (Large Language Models).

O desafio é grande porque os chatbots de IA acessam e retiram conteúdo dos sites, mas não levam necessariamente o usuário a acessar a fonte original, sem gerar visitantes ou receita para o autor.

O impacto sobre os acessos orgânicos

Sites noticiosos e de vendas dos EUA registraram quedas significativas no fluxo de visitantes direcionados por sites de buscas desde maio de 2024 (quando começou o Google AI Overview nos Estados Unidos).

O tráfego de pesquisa orgânica caiu pela metade em sites como HuffPost e Washington Post, segundo a Similarweb — empresa de dados de mercado digital.

No caso do The New York Times, o percentual de tráfego de pesquisas orgânicas vindos do computador e celular caiu de 44%, há três anos, para 36,5% do total de acessos em abril de 2025.

E-commerce e negócios online também sofrem: estudo da consultoria Bain & Company aponta redução do fluxo orgânico de 15% a 25%.

José Augusto, CEO da Get Commerce, investida do BR Angels, me contou que a ascensão das ferramentas de IA Generativa representa uma mudança de paradigma na forma como os consumidores buscam por produtos e serviços.

A empresa percebeu que o tráfego vindo de buscas, antes predominantemente via links tradicionais do Google, tem migrado para respostas diretas geradas por IA.

Só que na avaliação dele, essa mudança não é apenas uma evolução, que obrigou adaptar a estratégia de marketing digital do tradicional SEO para o GEO.

O foco agora é garantir que as informações sobre os produtos e serviços estejam claras, detalhadas e bem estruturadas para que as IAs possam encontrá-las e recomendar a empresa como a melhor solução para as necessidades dos usuários.

Isso significa ir além de palavras-chave e investir na criação de conteúdo autêntico e útil: descrições de produtos mais ricas, blogs informativos e seções de perguntas frequentes bem elaboradas.

A chave para o sucesso nesta nova era deixou de ser apenas ser encontrado. O objetivo agora é se tornar a resposta mais completa e confiável.

Outra investida BR Angels, a Novvo, também vê a mudança como oportunidade. A startup que desenvolveu suplemento alimentar natural para combater a ressaca de bebidas alcoólicas tem no ambiente digital a principal arena para explicar o que é e como funciona a novidade.

O cofundador da Novvo, Rodrigo Hidaka, lembra que, para a Gen Z, por exemplo, o Tik Tok é a principal fonte de buscas, superando o Google.

Portanto, não é uma mudança por causa da IA apenas. Rodrigo admite que se adaptar às mudanças não é trivial, mas também possui iniciativas para navegar essas novas oportunidades.

Com relação ao Google Ads, a estratégia da empresa é adaptar o conteúdo, mudando o foco das buscas por palavras-chave para buscas por contexto, visando um bom ranqueamento pela IA, além de testar novas funcionalidades do Google com IA embarcada.

No momento, eles avaliam como as LLMs “veem” a página da empresa e textos do blog para que as IAs consigam interpretar corretamente o site visando ser uma fonte de informação confiável para que apareça nas respostas dos chats como Gemini e ChatGPT.

Como se adaptar à revolução estrutural em marcha

É um grande desafio, pois tudo está em rápido desenvolvimento e, além do Google AI Overview, ChatGPT, Gemini, em breve a Meta também deve anunciar mudanças nas buscas por IA.

A startup Scaleup, que desenvolve uma plataforma para creators distribuírem e criarem novos produtos digitais com poucos cliques, a partir de seus próprios vídeos, tem investido em novos canais além da busca orgânica.

O founder, Frederico Flores, detectou há algum tempo a queda consistente no tráfego por meio de buscas genéricas no Google.

Eles estão focados em produzir mais conteúdo educativo no YouTube, que tem se mostrado o ponto de conversão melhor para quem inicia a jornada de pesquisa em ferramentas de IA.

Segundo me explicou Frederico, “enquanto o volume de cliques em buscas genéricas no Google reduz, direcionamos nossos esforços para conteúdos em vídeo e iniciativas de fidelização que convertam melhor no fundo do funil”.

Isso inclui tutoriais em vídeo, webinars e atendimento direto em canais como WhatsApp, garantindo que eles continuem visíveis e relevantes mesmo com a popularização das IAs como parte influente na jornada de decisão-conversão.

O ChatGPT atingiu recentemente 800 milões de usuários ativos semanais, e o Bing Chat integrou GPT-4, reduzindo também a dependência do Google. Esse número evidencia que temos uma revolução estrutural em marcha que vai requerer adaptação.

Se por um lado esse novo modelo oferece eficiência e uma melhor experiência aos usuários, por outro mina o modelo de tráfego orgânico tradicional.

Parece inevitável que quem permanecer dependente da estratégia de ranking no Google sofrerá o efeito devastador da aceleração da IA. Os que abraçarem a mudança, inovarem e monetizarem adequadamente, poderão transformar a crise em fortalecimento!

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