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Como a venda de um jogador do Flamengo para a Roma ajudará a pagar dívidas de empresa falida no RS

. Venda milionária de lateral-direito revelado pelo Tubarão deve render R$ 16 milhões para processos de falência no RS; empresas somam dívidas de mais de R$ 155 milhões

Wesley França: jogador foi vendido por 25 milhões de euros, uma das cinco maiores negociações da história do Flamengo (Roma/Divulgação)

Wesley França: jogador foi vendido por 25 milhões de euros, uma das cinco maiores negociações da história do Flamengo (Roma/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 7 de agosto de 2025 às 14h46.

A venda de Wesley França do Flamengo para a Roma entrou para o top 5 de maiores negociações da história do Flamengo.

O clube italiano vai pagar 25 milhões de euros, cerca de 163 milhões de reais, para contratar o lateral-direito de 21 anos. Mas o impacto da transferência vai além do futebol — e pode beneficiar credores de uma empresa em falência no Rio Grande do Sul.

Parte do valor da negociação será destinada às massas falidas da gaúcha K2 Soccer. O motivo: a empresa era administradora do clube catarinense Atlético Tubarão, que revelou Wesley antes da chegada ao Flamengo. O clube manteve o direito a 10% sobre qualquer venda futura do jogador. Como a K2 detinha 99% das cotas do Tubarão, a Justiça decidiu estender a falência à sociedade e incorporou o ativo ao processo.

A decisão judicial já foi expedida. O juiz Gilberto Schäfer determinou que o Flamengo deposite judicialmente, em até 30 dias a partir do registro da transferência, a quantia equivalente ao percentual de 10% do montante pago pela Roma.

“A gente descobriu esse direito no curso da administração da falência. O Atlético Tubarão tinha mantido um percentual da venda do Wesley, e, como a K2 Soccer controlava 99% do clube, fomos à Justiça pedir a extensão da falência para a SPE e garantir que esse ativo fosse incorporado à massa”, afirma Germano von Saltiél, administrador judicial do processo.

O que fazia a K2 Soccer

A K2 Soccer atuava como uma empresa de gestão de ativos voltada ao futebol. Ela foi fundada por Ung Kim.

Seu modelo consistia em captar recursos de investidores com a promessa de retorno baseado na valorização de jogadores. Para isso, estruturava fundos e sociedades de propósito específico (SPEs), como o Clube Atlético Tubarão.

“Era uma estrutura voltada a investimento em futebol. A empresa prometia retorno aos investidores. Parte do modelo era formar atletas e, em caso de valorização, gerar receita com as transferências. O Tubarão era uma peça central nisso”, diz von Saltiél.

Com a quebra da K2, decretada em 2023, e a posterior extensão da falência ao Atlético Tubarão, a administração judicial passou a identificar possíveis ativos ainda existentes — entre eles, o direito contratual sobre a venda de Wesley.

“A gente notificou o Flamengo dentro do processo para confirmar se havia percentual reservado ao clube. Eles confirmaram os 10%”, afirma o administrador judicial.

Além da cláusula de revenda, o Tubarão também será beneficiado pelo mecanismo de solidariedade da FIFA, que garante uma fração de transferências internacionais aos clubes formadores. Nesse caso, o percentual é de 0,92% sobre o valor da negociação, a ser pago diretamente pela Roma, via Câmara de Compensação da entidade.

Considerando apenas os 10% da parcela fixa da venda — 25 milhões de euros —, o valor estimado a ser transferido ao processo judicial é de cerca de 16 milhões de reais. O despacho da Justiça determina que o Flamengo realize o pagamento diretamente nos autos da falência do Atlético Tubarão.

“A decisão já foi proferida. Agora o clube tem até 30 dias para fazer o depósito. É um valor relevante, principalmente considerando que a massa falida tem poucos ativos com essa dimensão”, diz von Saltiél.

Mesmo que o valor não cubra o passivo total, ele representa um reforço importante para dar fôlego ao processo de falência e sinaliza a possibilidade de algum pagamento a credores.

Empresas em falência somam mais de 155 milhões de reais em dívidas

Os números do processo mostram a dimensão do problema. A K2 Soccer tem um passivo total de 144,4 milhões de reais, com mais de 250 credores listados. A maioria está na classe de credores quirografários, ou seja, sem garantias — mas há também mais de 6 milhões de reais em dívidas trabalhistas.

No caso do Atlético Tubarão, a massa falida reúne outros 142 credores, com passivo superior a 10,7 milhões de reais.

“O passivo do grupo é muito maior que esse ativo. Mas estamos falando de um dos poucos ativos relevantes e rastreáveis. É um caso raro de recuperação concreta de valor para uma massa falida nesse tipo de operação”, afirma von Saltiél.

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