José Ricardo de Souza, diretor de operações da Whoosh: "“Temos mais de 30 cidades pedindo para receber nossas operações" (Carolina Oliveira / Whoosh/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 21 de outubro de 2025 às 09h36.
Na calçada do Edifício Pátio Victor Malzoni, um dos ícones da Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, uma fileira de patinetes elétricos estacionados lado a lado chama a atenção.
O cenário, que parecia enterrado desde o colapso das startups de patinetes elétricos em 2019, agora reflete um novo momento do setor. Eles estão de volta — mais discretos, organizados e conectados à lógica da cidade.
Por trás do movimento está a Whoosh, uma empresa de origem russa, radicada no Brasil e com sócios europeus.
Em dois anos e meio de operação no país, a companhia se espalhou por quatro cidades — Florianópolis, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo — e já contabiliza mais de 1 milhão de usuários ativos e 15 milhões de quilômetros rodados.
“Nosso modelo foi pensado para durar. Já investimos mais de 100 milhões de reais e viemos para ficar”, afirma José Ricardo de Souza, diretor de operações da empresa.
A empresa está em plena expansão — com planos para dobrar de tamanho até abril de 2026, chegando a dez cidades e 50.000 patinetes.
Além disso, discute com prefeituras a integração da tarifa com o transporte público, o que pode colocar o patinete no mesmo patamar de ônibus, metrô e trem nas grandes capitais.
“Temos mais de 30 cidades pedindo para receber nossas operações. A decisão, agora, não é mais empurrar a solução. É responder à demanda”, diz Souza.
No futuro, a Whoosh quer se firmar como parte do ecossistema urbano, e não como um serviço isolado de mobilidade.
“Estamos conversando com a prefeitura de São Paulo para integrar o patinete ao bilhete único. Essa é a direção: transformar o patinete em um modal de verdade”, afirma.
O ano de 2019 marcou o auge — e o colapso — da primeira onda dos patinetes no Brasil.
Empresas como Grin e Yellow dominaram as ruas das capitais, mas desapareceram rapidamente. Faltavam regras, modelo de negócio e viabilidade operacional.
“Aquilo era o faroeste. Os patinetes eram largados em qualquer lugar, sem nenhuma regulamentação. Virou uma bagunça”, diz Souza. “Hoje o cenário é outro. Temos uma regulamentação nacional aprovada pelo Contran, com revisão em 2023. Só operamos com pontos de estacionamento fixos, mapeados com as prefeituras.”
A operação da Whoosh também é diferente na base.
O patinete atual tem vida útil média de cinco anos, contra três meses dos modelos usados em 2019. A bateria é removível e pode ser trocada na rua por uma equipe de suporte, o que elimina a necessidade de recolher os veículos para recarga.
“Isso muda tudo em termos de eficiência e custo operacional”, afirma o executivo.
Tecnologia também ajuda a prevenir acidentes e desorganização. O sistema da empresa permite controlar a velocidade em tempo real, com base em geolocalização e condições climáticas.
“Se começa a chover, diminuímos a velocidade da frota inteira. Se o patinete entra numa área de aglomeração, limitamos a velocidade a 15 km/h automaticamente.”
A Whoosh opera com três formatos de cobrança: corrida avulsa, pacote de minutos e assinatura mensal ou anual.
O modelo por assinatura representa hoje 60% da base de usuários, número que reforça o uso cotidiano do serviço, e não apenas eventual ou turístico.
“Quem realmente usa no dia a dia prefere a assinatura. Ela elimina a taxa de desbloqueio e reduz o custo por minuto”, diz Souza.
A tarifa por minuto funciona com dinâmica semelhante à do Uber: oscila de acordo com a demanda, mas dentro de limites pré-definidos.
Além do usuário final, a empresa também mira no público corporativo.
Recentemente, fechou parceria com a Pluxee, programa de benefícios flexíveis, permitindo que corridas sejam pagas com vale-transporte ou benefícios corporativos.
A presença em São Paulo é recente, mas impactante.
Hoje, a empresa atua em três subprefeituras (Pinheiros, Sé e Vila Mariana) e deve chegar a oito nos próximos meses.
Faria Lima e Avenida Paulista concentram o maior volume de uso, com perfis diferentes. Durante a semana, o patinete é meio de transporte. Aos domingos, especialmente na Paulista, ganha ares de lazer e turismo.
“Cada cidade tem sua lógica. Em Florianópolis, o uso é mais ligado ao lazer. Em Porto Alegre, 60% da base usa o patinete de forma recorrente, para ir e voltar do trabalho”, diz.
Segundo a empresa, prefeituras de mais de 30 cidades já procuraram a Whoosh para implantar o serviço.
“Nosso desafio não é convencer ninguém. É avaliar se temos estrutura para crescer com qualidade. Até abril, devemos mais que dobrar nossa operação no país.”
A meta é chegar a 50 mil patinetes até 2026, com foco nas grandes capitais, mas também em cidades médias com alta demanda por transporte alternativo. Hoje, a empresa tem cerca de 7.000 patinetes ativos.
Uma das principais preocupações do setor é com a segurança — tanto dos usuários quanto do espaço urbano.
A Whoosh afirma manter uma equipe dedicada à organização dos pontos de estacionamento, além de uma política de manutenção preventiva programada.
O sistema inclui monitoramento em tempo real e seguro embutido em todas as corridas.
O índice de acidentes, segundo a empresa, é 0,004% — um dos mais baixos entre os modais de mobilidade urbana.
“Nós temos controle total sobre cada patinete: onde está, a velocidade, a duração da corrida, se há falhas técnicas. Tudo é monitorado em tempo real”, afirma Souza.
Há regras claras para o uso: apenas maiores de 18 anos podem alugar; é proibido andar com duas pessoas; capacetes são recomendados.
Mas a adesão ainda depende de conscientização, um desafio e tanto. Quem é de São Paulo, por exemplo, certamente já viu o patinete sendo compartilhado por duas pessoas ao mesmo tempo, um perigo para os usuários e para quem está ao redor.
“É um trabalho de educação do usuário. O produto não foi feito para levar garupa, e isso compromete a segurança.”