Alunos do Colégio Pentágono participam do projeto Voz do Aluno, criado para mapear bem-estar e aprendizagem (Arquivo Pessoal)
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Publicado em 25 de novembro de 2025 às 17h10.
Última atualização em 25 de novembro de 2025 às 17h10.
Engajamento em queda. Saúde mental fragilizada. Uma rotina escolar que, após a pandemia, passou a reunir cansaço, ansiedade e novas disputas de atenção – especialmente com o celular. Esses são alguns dos desafios que, na visão de especialistas, atravessam a educação brasileira
No Colégio Pentágono, essa preocupação levou a uma decisão simples, mas rara: perguntar diretamente aos estudantes o que estava acontecendo.
Em vez de buscar respostas apenas em metodologias, tendências tecnológicas ou soluções externas, a escola decidiu começar pelo ponto mais básico do processo educativo: ouvir quem vive a experiência todos os dias.
“Escutar os alunos é uma premissa da educação”, defende João Marcello Almeida, coordenador pedagógico do Pentágono.
O projeto foi institucionalizado em 2022, impulsionado pelo pós-pandemia. Segundo Almeida, o instrumento nasceu da necessidade de “entender como esses estudantes estavam e como passaram por aquele período.”
O questionário é aplicado duas vezes ao ano: em fevereiro, para mapear as turmas no início do ciclo, e em novembro, antes das provas finais. As perguntas são as mesmas nas duas aplicações, o que permite comparar percepções, identificar mudanças e antecipar problemas.
O instrumento reúne blocos de questões sobre metacognição e aprendizagem, como motivação, dificuldade, importância atribuída às disciplinas e hábitos de estudo; e sobre saúde emocional, com perguntas sobre satisfação com a vida, isolamento, relações com colegas e percepções do ambiente escolar.
Em casos sensíveis, como notas baixas de bem-estar, a equipe faz acompanhamentos individuais. “Se temos uma nota muito baixa, é um aluno que precisa de atenção especial”, diz o coordenador.
Os dados são consolidados em um relatório. A partir disso, coordenadores e orientadores analisam turmas, componentes curriculares e situações individuais. “Esse filtro traz para nós um retrato e um foco de ação”, avalia.
Aplicação do Voz do Aluno em 2026 deve incluir novas questões sobre protagonismo estudantil
A análise dos dados tem levado o colégio a decisões práticas – e, em alguns casos, antecipadas em relação ao debate público. O uso de telas é um exemplo. “Os alunos estavam se distraindo muito, ficando muito tempo em tela, causando dependência”, relata Almeida. A partir desse diagnóstico, a escola regulou o uso de celulares e reforçou o equilíbrio entre o digital e o analógico, com caderno e livro impresso, antes mesmo da regulamentação nacional.
A saúde mental também emergiu como prioridade. Respostas que indicavam baixa satisfação dos estudantes com o próprio bem-estar mobilizaram ações de acompanhamento e a criação de projetos para tratar conflitos de forma estruturada, envolvendo estudantes, professores, gestão e famílias.
O questionário também influenciou ajustes curriculares. Disciplinas com poucas aulas semanais eram percebidas como menos importantes. Com base nisso, a escola revisou a matriz do ensino médio. “Hoje filosofia vai ter nas três séries”, diz o coordenador. História da Arte também ganhou mais espaço e visitas culturais foram incorporadas ao trabalho pedagógico.
Em áreas percebidas como difíceis, como Física, o Pentágono revisou abordagens e reforçou a comunicação com os estudantes.
“Às vezes basta um ajuste de comunicação para reduzir barreiras e engajar a turma”, diz Almeida.
Com a quinta aplicação prevista para 2026, o colégio pretende aprimorar ainda mais o instrumento. A equipe analisa anualmente quais perguntas precisam de ajustes. “A gente consegue olhar para o questionário e repensá-lo, entendendo quais perguntas não ficaram tão claras e onde houve distorção?”, explica.
O próximo ciclo deve ampliar questões sobre convivência e protagonismo estudantil, acompanhando a reformulação da disciplina de projeto de vida.
Para o coordenador, essa escuta torna o trabalho mais preciso e mais humano, especialmente em um cenário educacional marcado por desafios complexos e mudanças rápidas.