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De bancárias a donas de fintech: amigas miram R$ 1 bilhão em transações para o agronegócio em 2025

Agree, fundada em 2022 por Rayssa de Melo e Thays Moura, atua como consultoria financeira especializada em captação de recursos financeiros para produtores rurais e empresas do agro

Rayssa de Melo e Thays Moura, fundadoras da Agree: fintech somou R$ 800 milhões em transações no ano passado e quer ultrapassar a casa do R$ 1 bilhão em 2025.

Rayssa de Melo e Thays Moura, fundadoras da Agree: fintech somou R$ 800 milhões em transações no ano passado e quer ultrapassar a casa do R$ 1 bilhão em 2025.

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 4 de julho de 2025 às 14h00.

Por mais de uma década a brasiliense Rayssa de Melo e a goiana Thays Moura trabalharam juntas em um banco de Brasília e observaram a dificuldade dos trabalhadores do campo em conseguir crédito. Justamente para atender a essa demanda e pela afinidade com o setor, deixaram a estabilidade do emprego CLT para mergulhar no empreendedorismo e criaram a Agree, em 2022, com o investimento-anjo do fundo Bela Juju Ventures. A fintech, que atua como uma consultoria financeira especializada em captação de recursos financeiros para produtores rurais e empresas do agro, somou R$ 800 milhões em transações no ano passado e quer ultrapassar a casa do R$ 1 bilhão em 2025.

“Sempre tivemos uma conexão muito forte com o agronegócio. Durante nossa trajetória no banco, passamos por diversas áreas, mas foi no atendimento ao produtor rural que encontramos nossa verdadeira motivação. Foi esse vínculo que nos inspirou”, diz Thays.

Por outro lado, Rayssa ressalta que a relevância do setor no Brasil e, ao mesmo tempo, as dificuldades que produtores enfrentam para acessar empréstimos nas instituições financeiras, foram os fatores que impulsionaram a decisão de apostar em um negócio próprio que pudesse funcionar como uma ponte. “Tínhamos o desejo de construir algo nosso, com propósito. Sabíamos que poderíamos unir nossa experiência técnica com tecnologia e, assim, criar uma solução que fizesse diferença real na vida de quem está no campo e precisa de financiamento”.

Autoridade na área e inovação para se diferenciar

Sair da estabilidade proporcionada pelo setor financeiro para empreender, no entanto, foi desafiador e contou com o adicional da atuação em um setor majoritariamente masculino. “Nossa melhor resposta sempre foi a entrega. Quando mostramos resultado, a percepção muda”, diz Thays.

Nesse sentido, a bagagem de mais de uma década atuando no agronegócio dentro do banco foi essencial. “Entendemos o sistema financeiro e as regras de crédito para a cadeia produtiva do segmento, sabemos como os bancos funcionam e como os produtores se sentem. Isso nos deu clareza para desenhar um modelo de negócios eficiente e sustentável desde o início”, afirma.

Outro pilar importante foi ir além da conexão para a concessão de recursos. As sócias criaram uma plataforma que analisa o perfil do cliente, entende sua necessidade, organiza toda a documentação e apresenta a operação para os bancos de forma estruturada e estratégica. Já são cerca de 20 instituições financeiras parceiras. Usando tecnologia e IA, a Agree centraliza as informações do cliente em um sistema próprio que automatiza boa parte do processo, gera planilhas no modelo que o banco exige, organiza os documentos em um drive seguro e facilita a tomada de decisão dos parceiros financeiros. Segundo as fundadoras, isso acelera a aprovação e reduz o retrabalho das partes envolvidas. “Nossa assertividade aumentou consideravelmente”, diz Rayssa.

Os planos para chegar a R$ 1 bilhão

O objetivo da empresa é claro: não apenas apoiar o fechamento de uma operação financeira, mas criar uma relação de longo prazo com o produtor e o banco. Por isso, entre os próximos passos para chegar ao R$ 1 bilhão transacionado em 2025 está a criação de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). “É um passo estratégico para aumentarmos a flexibilidade na concessão de crédito. O projeto está em fase de estruturação e ainda não temos a data exata do lançamento. Com ele, vamos conseguir atender uma base ainda maior de clientes, com mais agilidade e autonomia”, explica Thays.

A ideia é que o FIDC já seja conectado à plataforma, com análise automatizada e monitoramento da empresa integrado, combinando tecnologia com inteligência financeira para oferecer crédito mais acessível e com menos burocracia.

Atualmente, a carteira de clientes conta com mais de 200 agricultores, sendo a maioria de Goiás, Bahia e Distrito Federal. Também há revendas e cooperativas que usam o serviço da empresa. Na prática, capta recursos em bancos e fundos de investimentos com finalidades variadas: custeio, investimento de irrigação, armazenagem ou até para adquirir uma fazenda. Como modelo de receita, cobra uma taxa de sucesso do negócio entre o banco financiador e o produtor beneficiado.

Para os produtores rurais, o acesso ao capital financeiro por meio da fintech tem sido essencial para superar os momentos de incertezas econômicas. “É um passo importante para manter o fluxo de caixa e viabilizar novos investimentos. Quando oferecemos prazos mais longos e taxas competitivas, ajudamos os trabalhadores do campo a reestruturar suas finanças e a planejar o futuro com mais segurança”, explica Rayssa.

Coragem para começar, consistência para crescer

O sucesso da Agree em tão pouco tempo, segundo a dupla, é resultado da ousadia de tirar o sonho do papel. “Aconselho às empreendedoras a começar com os recursos disponíveis. O caminho se constrói andando. Aprenda com os erros, seja consistente, ajuste a rota e siga. O crescimento vem com o tempo e com a coragem de continuar, apesar de tudo”, afirma Rayssa.

Nesse sentido, Thays ressalta a importância de acreditar na ideia – esse é o primeiro passo. “Mesmo que o cenário pareça desafiador, vá em frente. Você não precisa saber tudo no início; precisa começar”.

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