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South Summit e R$ 55 bilhões em jogo: como Madri quer virar capital da inovação

Evento deve movimentar 39 milhões de euros em 2025, reunir investidores de 22 países e consolidar Madri como destino estratégico para startups e scaleups globais

South Summit Madrid 2025: evento deve movimentar 39 milhões de euros nos próximos três dias (Daniel Giussani/Exame)

South Summit Madrid 2025: evento deve movimentar 39 milhões de euros nos próximos três dias (Daniel Giussani/Exame)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 4 de junho de 2025 às 06h00.

Última atualização em 4 de junho de 2025 às 06h58.

Madri, Espanha* — Madri quer mais do que ser a capital da Espanha. A cidade quer liderar o futuro da inovação na Europa. E está jogando pesado para isso.

Em 2025, duas iniciativas estratégicas colocam a metrópole no centro do mapa global de tecnologia: o South Summit, principal evento de empreendedorismo da Península Ibérica, organizado pela IE University, e o recém-anunciado Madrid Innovation District, que prevê um investimento de 8,5 bilhões de euros na cidade, algo como 55 bilhões de reais.

No papel, é um projeto ambicioso. Na prática, uma operação urbana, empresarial e acadêmica que mira transformar o perfil da cidade e da economia espanhola.

Com 850.000 metros quadrados de terreno em Valdebebas, cedidos pelo time de futebol Real Madrid, o novo distrito de inovação deve atrair empresas globais, startups, centros de pesquisa e universidades — tudo a poucos minutos do aeroporto internacional.

Mas o entusiamos da inovação vai bem além de um futuro bairro tecnológico. Está nos polos de startups como na região de La Nave, e em centros de educação como o da IE University, na zona norte da cidade.

A EXAME está em Madri para acompanhar o South Summit, evento de inovação que acontece entre os dias 4 e 6 de junho. Já é a 14ª edição da conferência, que gerou frutos como a bem sucedida versão brasileira, que acontece há quatro anos em Porto Alegre.

“O South Summit é a melhor janela de Madri para o mundo da inovação”, diz o prefeito José Luis Martínez-Almeida.

A fala, para além do entusiasmo institucional, condensa uma estratégia nacional: tornar Madri um ecossistema de startups internacionalizado, competitivo e preparado para captar talento global.

Ecossistema este que já começa a ser reconhecido por países vizinhos.

Durante o evento de abertura do South Summit numa região histórica da cidade, a EXAME conversou com investidores da Alemanha, um país cuja plataforma de inovação já está bem desenvolvida. "Na Europa, já temos países muito consolidados em tecnologia, como França, Alemanha e Reino Unido", disse um deles. "E a Espanha desponta como o próximo grande polo de inovação, neste sentido".

A máquina econômica do South Summit

A 14ª edição do South Summit acontece sob o lema “In Motion”, com foco em crescimento sustentável, impacto social da tecnologia e inovação disruptiva.

A estrutura é robusta: 400 palestrantes, 140 investidores (68% estrangeiros), mais de 3.443 empregos gerados e 39 milhões de euros de impacto econômico, segundo estudo da consultoria PwC.

O gasto médio por visitante ultrapassa os 1.899 euros, um aumento de 21% em relação ao ano anterior.

E 58% do público vem de fora da capital espanhola, reforçando o apelo internacional do evento.

“Este ano o foco está em fomentar crescimento. A Europa precisa de empresas maiores”, disse María Benjumea, fundadora do South Summit, presença constante também nos eventos de Porto Alegre.

No palco, nomes de peso: Greg Hoffman (ex CMO da Nike), Marc Randolph (fundador da Netflix), Dennis Hong (UCLA), Pedro Duque (Hispasat), entre outros.

A grade é reforçada por três espaços de conexão para negócios. A ideia é acelerar os contatos entre startups e fundos de investimentos.

O impacto é mensurável. Desde 2012, as startups finalistas do South Summit já levantaram 17,6 bilhões de euros. Só em 2024, as participantes da etapa de Madri captaram 311 milhões — um aumento de 63% após o evento. Mais da metade desse montante veio de startups espanholas, com destaque para Madri, que recebeu cerca de 31 milhões de euros.

O distrito de 8,5 bilhões de euros

Anunciado oficialmente há cerca de um mês, o Madrid Innovation District (MID) é uma extensão urbana da Cidade Real Madrid. São 850 mil metros quadrados dedicados à tecnologia, inovação e conhecimento.

A localização é estratégica: próximo ao aeroporto de Barajas, ao centro de convenções IFEMA e ao estádio Santiago Bernabéu.

O plano é construir um ecossistema onde se possa “viver, trabalhar e inovar” com sustentabilidade, mobilidade elétrica, ciclovias e integração com o transporte público.

A proposta inclui espaços residenciais, corporativos, áreas verdes e infraestrutura digital de última geração.

A estimativa é de atrair 25.000 empregos qualificados e investimento estrangeiro massivo.

IE University e a formação de talentos

Por trás da organização do South Summit, a IE University também é peça-chave da ambição espanhola.

A instituição lidera a IE School of Science and Technology, voltada para a formação em deep tech, ciência de dados, IA, robótica e sustentabilidade.

A universidade criou o IE Sci-Tech Impact Xcelerator (iX), um programa de aceleração que conecta empresas, pesquisadores e alunos para desenvolver soluções em saúde, fintech, meio ambiente e blockchain.

“Nós colocamos o conhecimento e a inovação em movimento para transformar o mundo”, diz Diego del Alcázar Benjumea, CEO da IE University. A IE também lidera o Rise Europe, um consórcio europeu para fortalecer o ecossistema de deep tech.

O ecossistema madilenho em números

Madri concentra 28% das startups espanholas e 34% dos investidores. Em 2024, foram investidos mais de 821 milhões de euros em projetos da cidade — um crescimento de 6% em relação ao ano anterior. Desde 2021, só as startups finalistas do South Summit em Madri já levantaram 4,2 bilhões de euros.

Hoje, a cidade conta com mais de 1.700 startups ativas.

Além do tech, Madri aposta em inovação em setores tradicionais, como o turismo. A cidade é palco da FITUR 2025, feira que reforça a digitalização da experiência do visitante e a gestão inteligente de destinos turísticos.

Na análise da PwC, a Espanha teve um salto de 35% no volume de investimentos em startups em 2024, superando a média europeia, que caiu 9%. Madri lidera esse crescimento, mas outras cidades como Palência começam a despontar, impulsionadas por casos como o da Zunder, startup de carregamento rápido de veículos elétricos que levantou 225 milhões de euros.

Para os próximos anos, a cidade mira mais do que visibilidade. Madri quer ser referência global em como construir um ecossistema de inovação completo, com talento, infraestrutura, capital e visão de longo prazo.

*O repórter viajou a convite da IE University

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