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Duralex: a marca dos pratos "inquebráveis" quebrou? Sim, mas não no Brasil; entenda

A linha âmbar (marrom) foi descontinuada em 2012, mas os produtos seguem presentes no mercado brasileiro

Duralex: itens feitos de vidro temperado deram à marca fama de "inquebrável" (Antiquiário na Vovó Tem/Reprodução)

Duralex: itens feitos de vidro temperado deram à marca fama de "inquebrável" (Antiquiário na Vovó Tem/Reprodução)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 18 de outubro de 2025 às 08h30.

Se você fizesse um retrato de uma cozinha brasileira no final do século passado, provavelmente registraria por ali uma Duralex. A verdade é que poucas marcas conseguiram ser tão onipresentes na vida dos brasileiros no final do século passado quanto a da empresa francesa.

Da merenda escolar ao prato feito no restaurante, ela estava sempre lá — firme, marrom e praticamente inquebrável.

Criada na França e adotada com entusiasmo no Brasil, a vidraria virou símbolo de resistência e praticidade.

Hoje, vive uma segunda vida nas mãos de colecionadores e fãs de design retrô.

E apesar da matriz ter passado por uma crise no país natal, a Duralex segue firme no Brasil.

Criada em 1945, no pós-guerra, pela francesa Saint-Gobain, a empresa ficou conhecida por seu vidro temperado, aquecido a 600 °C e resfriado rapidamente, o que o tornava mais resistente e seguro.

Em 2011, a operação brasileira passou ao controle da Nadir Figueiredo, maior fabricante nacional de vidros domésticos, que comprou a Santa Marina — empresa que produzia os itens da Duralex por aqui. Desde então, a marca no Brasil é totalmente independente da matriz francesa.

A linha âmbar (marrom) — a mais famosa entre os brasileiros — foi descontinuada em 2012.

Ainda assim, os produtos seguem presentes no mercado e, principalmente, na memória coletiva.

Hoje, copos e pratos antigos viraram peças de colecionador, encontrados por preços que chegam a 400 reais em sites de revenda.

Enquanto isso, a marca continua ativa com produção local e modelos atualizados em vidro temperado, nas cores transparente e azul.

A origem da resistência

A Duralex nasceu em La Chapelle-Saint-Mesmin, cidade do centro-norte da França, logo após a Segunda Guerra Mundial.

Criada pelo grupo Saint-Gobain, a empresa dominou a técnica do vidro temperado, que dava resistência mecânica e segurança aos produtos: ao quebrar, os pedaços se fragmentavam em pequenas lascas, evitando cortes profundos.

O nome veio do latim Dura lex, sed lex (“a lei é dura, mas é a lei”), numa tentativa de posicionar o produto como confiável, rígido, funcional.

Foi essa combinação que transformou a Duralex em alternativa viável à porcelana e à louça convencional, especialmente para famílias de menor renda.

Nos anos 1950, a marca começou a ser importada para o Brasil. E a explosão veio décadas depois, quando passou a ser fabricada por aqui.

De copo francês à mesa brasileira

A produção brasileira começou nos anos 1980 pela Santa Marina, empresa nacional especializada em vidros. A linha âmbar — pratos, copos e xícaras de vidro marrom — virou referência de durabilidade e presença garantida nas cozinhas da classe média.

Nos anos 1990, os produtos da Duralex já estavam por toda parte: escolas públicas, refeitórios, padarias, lanchonetes e restaurantes por quilo. Eram mais baratos, resistentes e podiam ir do fogão à pia sem risco de quebra.

A Duralex chegou a empregar 1.500 pessoas e produziu mais de 130 milhões de unidades ao redor do mundo.

No Brasil, a popularidade era tanta que o produto se tornou quase invisível — parte do cotidiano, sem ostentação. Até que, silenciosamente, começou a desaparecer das prateleiras.

Crise global, mas não no Brasil

Na matriz francesa, os problemas começaram nos anos 2000.

A concorrência chinesa, o aumento dos custos de energia e problemas técnicos com os fornos derrubaram a produção. A empresa entrou em recuperação judicial em 2008 e novamente em 2020, quando perdeu 60% do faturamento com a pandemia.

Em 2021, foi vendida por 3,5 milhões de euros para a International Cookware, dona da marca Pyrex. Para manter os empregos e a produção local, a fábrica foi transformada em uma cooperativa.

No Brasil, a situação era outra. A Nadir Figueiredo, que já fabricava produtos de vidro há mais de um século, comprou a Santa Marina e com ela os direitos da Duralex em 2011. Desde então, controla a marca em toda a América do Sul — com operação independente da França.

A nova Duralex

Apesar da crise internacional, a produção brasileira não parou. Mas a linha marrom — a mais icônica — foi descontinuada em 2012.

O portfólio atual foca em peças transparentes e azuis. A empresa aposta no apelo nostálgico, mas também na durabilidade como diferencial.

Em 2019, a Nadir foi vendida ao fundo americano HIG Capital por 836 milhões de reais. Desde então, passou por um processo de rebranding e agora se apresenta apenas como “Nadir”.

 

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