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“É desanimador. O tarifaço impacta em 25% da nossa receita”, diz empresário do setor de cosmético

Criada em 2018 em São Roque, no interior de São Paulo, a B.O.B conquistou espaço com produtos de beleza sustentáveis, como xampus e condicionadores em barra, sem embalagem plástica. Empresa vende para os EUA desde 2021

Victor Lichtenberg, cofundador da B.O.B: “O grande risco é o encolhimento praticamente total da operação e, no limite, até inviabilizar o negócio internacional” (B.O.B/Divulgação)

Victor Lichtenberg, cofundador da B.O.B: “O grande risco é o encolhimento praticamente total da operação e, no limite, até inviabilizar o negócio internacional” (B.O.B/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 16 de agosto de 2025 às 09h29.

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Neste patamar de tarifa fica impossível ter uma proposta competitiva de preço.”

A avaliação é de Victor Lichtenberg, cofundador da B.O.B, uma startup paulista de cosméticos, como xampus, em barra.

A medida imposta pelos Estados Unidos, que eleva em 50% a taxação de centenas de produtos brasileiros, ameaça inviabilizar parte importante do negócio: um quarto do faturamento da empresa vem das exportações para o mercado americano.

Criada em 2018 em São Roque, no interior de São Paulo, a B.O.B conquistou espaço com produtos de beleza sustentáveis, como xampus e condicionadores em barra, sem embalagem plástica. O modelo de negócios chamou atenção pela proposta ambiental e pela facilidade de logística — característica que ajudou a marca a se inserir em marketplaces internacionais.

Desde 2021, a empresa participa do programa de vendas internacionais de empresas como a Amazon, que apoia pequenas e médias brasileiras na exportação para os Estados Unidos. O canal se tornou vital para a expansão internacional, e hoje já representa cerca de 25% da receita.

O problema é que a operação depende de competitividade em preço, algo que, segundo Lichtenberg, o tarifaço destruiu.

“Quando falamos principalmente de e-commerce, é tudo um jogo de custo-benefício para o comprador. Com 50% de imposto, não dá mais para competir.”

Sem escala para absorver a nova carga tributária, a B.O.B terá de repassar o aumento ao consumidor final.

Isso, na prática, compromete a operação digital da marca.

“Realisticamente falando, nossa operação vai encolher sensivelmente nos próximos meses, porque teremos de aumentar preços. Isso vai reduzir muito nossa presença online", diz.

Qual é a história da B.O.B

A trajetória da empresa começa em 2018, quando Lichtemberg e Andreia Quércia, colegas desde a adolescência, decidiram apostar em uma tendência que Andreia observava na Alemanha, onde mora: cosméticos sem água e em formato sólido.

A proposta era clara — mais sustentabilidade, menos plástico, melhor desempenho.

Nascia assim a B.O.B, sigla para Bars Over Bottles (“Barras em vez de garrafas”). Em pouco tempo, a startup expandiu o portfólio com sabonetes, desodorantes e condicionadores, sempre no formato sólido.

O passo seguinte foi a internacionalização.

Com nome em inglês e operação digital, a empresa foi uma das primeiras PMEs brasileiras a aderir ao programa da Amazon que cuida da logística e dá visibilidade aos produtos nos EUA.

O movimento rendeu frutos: a cada mês, a B.O.B lucrava cerca de 10 mil dólares com a operação americana, dinheiro reinvestido em novas fórmulas e marketing no Brasil.

Essa trajetória criou expectativas de crescimento contínuo no mercado externo — agora ameaçadas pelo tarifaço.

Leia também: 'Com tarifaço dos EUA, é inviável continuar exportando', diz empresário do setor de pescados

Quais são os impactos com o tarifaço

Para empresas pequenas e médias, o efeito da medida americana é devastador, na avaliação do fundador da empresa.

A alternativa de enviar grandes lotes por frete marítimo, para reduzir custos logísticos, é inviável no caso da B.O.B. Os produtos têm validade curta e o custo de armazenagem nos EUA é alto.

“O grande risco é o encolhimento praticamente total da operação e, no limite, até inviabilizar o negócio.”

Ele destaca que a força das PMEs no exterior está em oferecer produtos validados no Brasil a preços competitivos em marketplaces globais. Sem isso, sobra pouca margem de manobra.

A alternativa, na visão dele, seria tentar criar uma rede mais forte de vendas em canais físicos, onde a proposta de valor é maior e a competição pelo preço consegue ser driblada. O desafio para PMEs, como o caso da B.O.B, é ter capital para fazer essa entrada no varejo físcio.

Os impactos do tarifaço para a economia do Brasil

O caso da B.O.B reflete uma preocupação maior.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), o tarifaço atinge 35,9% do volume de mercadorias exportadas para os EUA, o equivalente a 4% de todas as exportações brasileiras.

Um estudo da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) calcula que a medida pode reduzir o PIB brasileiro em R$ 25,8 bilhões no curto prazo e em até R$ 110 bilhões no longo prazo, com setores como cosméticos, calçados, florestal, pescados e carne bovina entre os mais afetados.

Para tentar mitigar os impactos, o governo federal anunciou uma série de medidas, como alocação de R$ 30 bilhões do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) para crédito com taxas acessíveis, ampliação das linhas de financiamento às exportações, prorrogação da suspensão de tributos para empresas exportadoras, aumento do percentual de restituição de tributos federais via Reintegra, e facilitação da compra de gêneros alimentícios por órgãos públicos.

LEIA MAIS: Plano contra o tarifaço: veja as medidas do governo para ajudar PMEs

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