O empreendedor catarinense Mohamad Abou Wadi, mais conhecido como Moha, viu uma lacuna no mercado educacional que poucos enxergavam.
Quando ainda era dentista, ele enfrentou as dificuldades que muitos profissionais da saúde enfrentam: a escassez de cursos de especialização acessíveis e de qualidade.
Essa percepção, que surgiu em suas viagens constantes entre Lages, sua cidade natal, na região serrana de Santa Catarina, e centros de ensino em outras cidades, o motivou a largar o consultório e, em 2000, fundar o que se tornaria um império educacional.
Com a previsão de um faturamento de R$ 500 milhões em 2025, Moha não apenas transformou a educação odontológica no Brasil, mas também ampliou seu império para outras áreas da saúde.
Tudo começou quando Moha, ainda jovem, era um dentista com uma ambição: se especializar. Mas havia um obstáculo claro: cursos de especialização eram poucos e difíceis de acessar, especialmente em Santa Catarina.
Para estudar ortodontia, por exemplo, ele precisava viajar centenas de quilômetros, às vezes pegando ônibus por dias para frequentar as aulas em cidades distantes.
"Numa dessas viagens, a madrugada estava fria, e eu olhei para o meu colega ao lado e falei: 'Cara, vou montar uma escola de odontologia para que ninguém mais passe pelo que estamos passando'."
Esse foi o ponto de virada que o fez trocar o dia a dia de clínica para se dedicar ao ensino.
A base de tudo
O primeiro passo de Moha foi criar o Instituto Orofacial das Américas (IOA), que nasceu com um único objetivo: proporcionar especialização acessível e de qualidade para dentistas.
A decisão de fundar a instituição foi pessoal e estratégica. Moha sabia que não poderia ser apenas mais uma escola no mercado saturado de educação médica e odontológica.
Ele queria criar algo concreto, com resultados práticos que atendesse à crescente demanda de dentistas que, como ele, tinham dificuldades de acesso à especialização. O IOA começou pequeno, com poucos cursos, mas rapidamente conquistou seu espaço no setor.
No começo, ele usava sua própria clínica e sua experiência acadêmica para dar a estrutura necessária ao curso.
"Com minha titulação e experiência de ser um dos primeiros mestres em ortodontia de Santa Catarina, eu vi uma oportunidade de mudar a vida de outros profissionais", explica Moha.
E foi exatamente isso que ele fez. O IOA cresceu, se espalhou pelo Brasil e se tornou uma referência no setor.
O surgimento do Grupo Kefraya
À medida que o IOA ganhava notoriedade, Moha percebeu que a demanda por educação prática e de qualidade na área da saúde estava aumentando.
O sucesso do IOA abriu portas para a expansão de seu modelo de negócio. No início dos anos 2010, ele fundou o Grupo Kefraya, que viria a englobar outras marcas e unidades educacionais, como o Lapidare, focado em estética e cirurgia plástica, o ITC (Instituto de Treinamento em Cadáveres), e a FaceU, com foco na odontologia estética.
No meio disso tudo, Moha foi convidado para o conselho de administração da UniAvan, um dos centros universitários mais tradicionais de Santa Catarina.
O centro universitário tem hoje um portfólio robusto de cursos presenciais e a distância. Após a chegada de Moha, passou a focar em áreas de saúde, com destaque para a Medicina, Biomedicina e Enfermagem.
Hoje, o grupo Kefraya conta com 73 unidades no Brasil, sendo 31 próprias e o restante franquias, com presença em 16 estados.
A previsão de faturamento para 2025 é de R$ 500 milhões, uma projeção ambiciosa que reflete a expansão e o modelo consolidado de ensino prático, com laboratórios e clínicas que oferecem o treinamento necessário para as mais diversas especializações na área de saúde.
Em 2024, o Kefraya recebeu investimentos do Grupo SEB, do empresário Chaim Zaher, e do private equity Crescera Capital.
Agora, o Grupo aguarda a autorização do Ministério da Educação (MEC) para lançar um curso de graduação em Medicina em Florianópolis, iniciando uma nova etapa de expansão.
Além disso, se prepara para um novo ciclo de crescimento, com o lançamento de novas unidades e a expansão para outros países, como México, Colômbia e Espanha, previstas para 2026.
O diferencial do Grupo Kefraya é a ênfase na educação prática. "Na nossa metodologia, o aluno está em contato direto com o paciente, em laboratório e clínicas, o que é impossível de ser feito no modelo EAD", explica Moha.
O grupo foi pioneiro ao trazer para o Brasil o uso de peças anatômicas frescas, ou "cadáveres congelados", importados dos Estados Unidos e da Europa, permitindo que os alunos treinassem procedimentos em condições extremamente realistas.
A mudança nas regulamentações do MEC, que aumentaram a exigência de cursos presenciais, foi um fator que favoreceu o Grupo Kefraya, já preparado para oferecer esse tipo de ensino. "Para a gente, as mudanças no MEC não foram um desafio, pelo contrário, nos colocaram em uma posição ainda mais favorável", afirma Moha.
A estratégia de Moha sempre foi focada em nichos de mercado. O IOA, por exemplo, não oferecia apenas cursos comuns de especialização, mas criava programas inovadores, como a pós-graduação em rejuvenescimento íntimo e transplante capilar, áreas ainda pouco exploradas na época.
Com isso, ele não apenas preenche uma lacuna no mercado, mas também se tornou um líder nesse segmento. A inovação no portfólio de cursos tem sido um pilar fundamental para o crescimento do grupo.
Além disso, Moha identificou um mercado altamente segmentado dentro do ensino médico e odontológico e fez questão de lançar produtos educacionais de alta qualidade que atendessem diretamente às necessidades de profissionais que buscavam formação específica.
Além disso, o grupo está atento às necessidades de mercado e desenvolve constantemente novos cursos e especializações, como a graduação em odontologia estética com foco em estudo facial, e a educação para biomédicos e farmacêuticos em estética corporal.
"O nosso foco está em continuar inovando e trazendo para o mercado os melhores cursos de especialização, com ensino prático de qualidade", diz ele.