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Electrolux investe R$ 700 mi em nova fábrica no Brasil. E não teme tarifaço: 'Não vão nos impactar'

Localizada em São José dos Pinhais, no Paraná, a nova fábrica da companhia sueca vai inaugurar a produção de linhas de ventiladores e liquidificadores no país, que até então eram importadas

Leandro Jasiocha: CEO do Electrolux Group na América Latina (Electrolux/Divulgação)

Leandro Jasiocha: CEO do Electrolux Group na América Latina (Electrolux/Divulgação)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 23 de agosto de 2025 às 08h05.

Última atualização em 23 de agosto de 2025 às 08h23.

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SÃO JOSÉ DOS PINHAIS (PR)* - Não tem um setor que não esteja em estado de tensão com as tarifas anunciadas pelo presidente americano Donald Trump aos produtos do Brasil. Nem o setor de eletrodomésticos escapa desse alerta, que se soma à volatilidade que encara pela crescente concorrência de players asiáticos.

Por outro lado, a multinacional sueca Electrolux se mostrou disposta a navegar contra a maré ao inaugurar nesta sexta-feira, 22, sua nova fábrica no Brasil, visando a nacionalização de seus principais produtos e ganho de market share, principalmente em um momento de concorrência acirrada.

Com um investimento de cerca de R$ 700 milhões, a unidade industrial, lançada em São José dos Pinhais (PR), marca a maior expansão da gigante dos eletrodomésticos na América Latina. A quinta planta da empresa no Brasil foi projetada dar à luz a fabricação local de duas linhas de produtos até então importados: liquidificadores e ventiladores. E a expectativa é que esse seja o trunfo da empresa para se consolidar como a "queridinha" do setor.

"É o nosso maior investimento no Brasil. É um passo essencial para nosso plano de expansão. A empresa vem crescendo bastante nos últimos anos, atingimos a liderança no setor de eletrodomésticos no país, estamos em mais de 70% dos lares e vendemos mais de 15 milhões de produtos por ano", disse Leandro Jasiocha, CEO do Grupo Electrolux na América Latina, em entrevista à EXAME.

O executivo disse ainda a nova unidade abre portas para outras categorias de produtos, como ventiladores e liquidificadores e eleva a competitividade no mercado. Até então, este tipo de produto eram importados de países asiáticos, onde a companhia tem outras unidades fabris.

A projeção é que, a partir de 2027, a unidade de São José dos Pinhais se torne capaz de fabricar mais de 5 milhões de produtos por ano, o que representará 25% do faturamento de eletroportáteis da empresa no Brasil. Para dar um gás nesta missão, ele conta que foram investidos R$ 37 milhões em Pesquisa e Desenvolvimento de novos produtos.

De olho nos resultados de longo prazo, Jasiocha afirmou que o volume de eletrodomésticos desenvolvidos na nova unidade já está ajudando a trazer perspectivas positivas de receita.

"O investimento de R$ 700 milhões é coerente com as necessidades locais, mas precisamos crescer para garantir que o negócio se pague. Em dois meses, já fabricamos mais de 100 mil produtos. O projeto já está começando a dar frutos e temos a confiança de que logo vamos entregar o retorno aos acionistas da Electrolux."

Imune ao tarifaço?

Nascida em 1919, em Estocolmo, a companhia vende mais de 40 milhões de produtos anualmente em 120 países. Em 2024, suas vendas globais alcançaram US$ 14,2 bilhões. A América Latina representa cerca de 25% da receita total do grupo. No entanto, a multinacional não divulga dados sobre os resultados da operação brasileira.

A Electrolux tem fábricas e centros de desenvolvimento na Europa, América do Norte, América Latina, Ásia e Oceania. No Brasil, a empresa celebrará 100 anos em 2026 e opera atualmente com fábricas em Curitiba (PR), São Carlos (SP) e Manaus (AM), produzindo desde refrigeradores e lavadoras até micro-ondas e aparelhos de ar-condicionado.

Apesar dos temores de muitos empreendedores com os efeitos das taxas de 50% aplicadas pelo governo Trump ao Brasil, o CEO Latam da Electrolux afirma que a medida não causará danos à companhia. A Electrolux do Brasil não realiza exportações para os EUA, tanto que a empresa conta com a Frigidaire para manter sua presença no mercado norte-americano. Diante deste cenário, ele reforça que as disputas entre as marcas tendem a aumentar.

"As tarifas não vão impactar diretamente nossa operação no Brasil e em outros países da América Latina. Como o mercado americano está se fechando e dificultando as possibilidades de negócios para as empresas, a tendência é que as vendas e os volumes de produtos antes focados nos Estados Unidos sejam redirecionados a outros mercados. E como consequência, haverá oportunidades para novas marcas ganharem espaço", pontua Leandro Jasiocha. "O momento que passamos gera incertezas e medo, mas acredito muito no potencial do Brasil."

A operação brasileira não exporta bens manufaturados em larga escala em razão dos custos de logística. A pequena parcela reservada a este propósito é direcionada a países como México, Peru, Colômbia, Equador e Porto Rico, que segundo o CEO acompanha as normas comerciais dos EUA. Mesmo assim, ele se sente seguro. "Hoje o índice de exportação das fábricas no Brasil é relativamente pequeno, em torno de 5%. Então, o objetivo da expansão em São José dos Pinhais é atender o mercado local".

Cerca de 40% dos produtos da Electrolux vendidos na América Latina são provenientes de fornecedores asiáticos, que prestam dois serviços à multinacional: OEM (Original Equipment Manufacturer, fabricante de equipamento original) e ODM (Original Design Manufacturer, fabricante de design original). Mas, com a nova fábrica no interior paranaense, a proposta é lançar mais produtos "made in Brazil".

"A fábrica de São José dos Pinhais é verticalizada, com a cadeia de fornecimento bastante presente no país. Hoje, mais de 70% dos nossos produtos são montados com componentes de matéria-prima local. Então, poucos componentes virão prontos de fornecedores ODM e OEM fora do Brasil. É uma cadeia adensada e ela faz com que toda o nosso parque fabril se beneficie", acrescenta o CEO.

Essa tática também livra a empresa de custos como fretes marítimos e traz perspectivas de preços mais atraentes aos consumidores no varejo, o que pode contribuir para o incremento de seu market share. Segundo levantamento da consultoria Mordor Intelligence, o mercado de eletrodomésticos no Brasil deverá movimentar US$ 2,14 bilhões até 2029. Neste cenário, a Electrolux e a americana Whirlpool (dona das marcas Brastemp e Consul) detêm participações significativas no mercado brasileiro, superando as coreanas LG e Samsung.

No entanto, Jasiocha reforça que entrou nessa briga para levar a maior fatia do mercado: "Não temos medo de concorrência. Ela nos incentiva a sermos melhores e o consumidor se beneficia com melhores produtos e preços. Os produtos que serão desenvolvidos localmente chegarão às lojas com valores adequados à realidade do mercado. E estamos entrando em categorias que antes não estávamos."

Para o executivo, a preocupação com a qualidade, simplicidade e inovação — como parte do DNA escandinavo da companhia — é o que mais atrai os compradores.

"Sempre trazemos diferenciações nos nossos produtos, algo a mais a oferecer para estar a frente dos concorrentes. Por exemplo: produzimos ventiladores com ventos podem chegam a até 7 metros de distância. Além de liquidificadores que contam medidores nas tampinhas. Enfim, são pequenas coisas que a Electrolux prefira os nossos produtos".

Sustentabilidade no DNA

A unidade industrial de São José dos Pinhais foi projetada com foco total na sustentabilidade, alinhando-se à meta global da empresa de zerar as emissões de carbono em suas operações até 2033. A fábrica utilizará exclusivamente energia elétrica proveniente de fontes renováveis, e os veículos internos, como empilhadeiras e transpaleteiras, serão elétricos.

A cozinha da planta, que atenderá cerca de 400 pessoas por refeição, também seguirá esse padrão sustentável, operando apenas com equipamentos elétricos. Outro destaque importante é a inovação nos processos de soldagem, com a equipe de engenharia implementando uma nova tecnologia de solda alinhada aos princípios de economia de baixo carbono.

A nova unidade adotará tecnologias de reaproveitamento de água, o que resultará em uma economia de 83% no uso de água potável, com uma redução anual de mais de 2,6 milhões de litros. O projeto arquitetônico também foi pensado para promover o uso de iluminação natural, minimizando a dependência de luz artificial e criando um ambiente de trabalho mais saudável. A fábrica foi planejada para oferecer bem-estar aos seus colaboradores, com janelas que proporcionam vista para um bosque preservado e um sistema automatizado de venezianas que controla a temperatura interna de forma natural.

"Essa é a primeira planta 100% sustentável do grupo. A gente se preocupou com isso desde o início da construção dessa unidade. Faz parte da nossa cultura. A sustentabilidade é o ponto central de nossas ações. "Temos objetivos bem agressivos de descarbonização e estamos sendo bem sucedidos", declarou Ramez Chamma, COO do grupo sueco, durante a apresentação da unidade.

Com 50 mil m² de área construída, a fábrica tem como meta ser “Zero Aterro” desde o início, garantindo que nenhum resíduo seja enviado para aterros sanitários. Além disso, o terreno da fábrica inclui 138 mil m² de área de preservação, o equivalente a quase 20 campos de futebol, que será ampliada com o plantio de mais de 3 mil mudas de árvores. "São vários esforços e planejamentos para depender cada vez menos de recursos poluentes, gerar poucos resíduos e descarbonizar nosso trabalho", enfatiza o executivo.

A expectativa é que, nos próximos meses, a operação da nova unidade conquiste a certificação LEED, tornando-se a primeira planta da Electrolux a receber esse reconhecimento mundial.

Ganha-ganha

A fábrica faz parte de um acordo firmado em 2023 com o Governo do Paraná e a prefeitura de São José dos Pinhais.

A prefeitura contribuiu com a concessão do terreno e a execução da terraplanagem. Além dos incentivos fiscais oferecidos pelo programa Paraná Competitivo, que incluem facilidades no pagamento do ICMS sobre energia, gás, operações de e-commerce e importações, e a utilização do ICMS para aquisição de bens de ativo imobilizado.

De acordo com Ramez Chamma, a fábrica recém lançada terá um impacto significativo na economia de São José dos Pinhais, com a previsão de geração de cerca de 2 mil empregos – entre 400 e 500 diretos e de 1.400 a 1.500 indiretos.

A instalação também estimulará a atração de novas empresas, o fortalecimento do setor de serviços e o desenvolvimento de programas de capacitação profissional. Cerca de 90% dos colaboradores contratados residem nas cidades de São José dos Pinhais e Fazenda Rio Grande.

“Nosso compromisso é gerar impactos positivos nas comunidades em que atuamos, sempre colocando as pessoas e o planeta no centro do nosso desenvolvimento”, afirma Chamma.

*O jornalista viajou a convite da Electrolux Brasil

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