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Eles se demitiram e foram morar em Pipa. De lá, criaram uma empresa global

Do Rio Grande do Norte, a BeGlobal conecta desenvolvedores brasileiros com startups e fundos do mundo inteiro

Pedro Cecilio, Stefano Angelero, Pedro Araújo e Guilherme Coelho, time fundador da BeGlobal

Pedro Cecilio, Stefano Angelero, Pedro Araújo e Guilherme Coelho, time fundador da BeGlobal

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 1 de novembro de 2025 às 09h00.

Trabalhando em uma startup em Nova York, o brasileiro Pedro Cecílio e o uruguaio Stefano Angelero perceberam o mesmo problema: o trabalho remoto virou regra após a pandemia, mas as startups americanas ainda não contratavam talentos fora das bolhas de São Francisco e Nova York.

Isso acontecia por dois motivos: primeiro, porque as empresas nos Estados Unidos e na Europa ainda não sabiam como validar a experiência de profissionais de fora desses polos; segundo, porque muitos desses talentos, mesmo qualificados, tinham dificuldade de atravessar barreiras culturais e geográficas.

Foi assim que nasceu a BeGlobal. Em pouco mais de um ano de operação, a startup já apoiou dezenas de engenheiros de software ao redor do mundo e mantém cerca de 1.000 talentos aprovados na base — todos com experiência prévia em startups investidas por grandes fundos de venture capital.

“Conhecemos muita gente talentosa e trabalhadora na América Latina. Gente que está infeliz no trabalho por não ser vista ou bem remunerada, mas não sabia como conseguir trabalhar para fora. Ao mesmo tempo, startups globais querem contratar remoto, mas não sabem como validar a qualidade da formação e das empresas em que trabalharam. Assim nasceu a BeGlobal”, diz Cecílio.

A empresa afirma ser lucrativa desde o primeiro dia e 100% bootstrapped — sem investimento externo. Com um time de apenas cinco pessoas, o negócio já apresenta receita anualizada de R$ 3 milhões.

Como tudo começou?

Filho de comerciantes, Cecílio empreende desde os tempos de faculdade. Abriu a Mahau, focada em nutrição, aos 19 anos. Depois criou a Designsquare, que conectava agências de design a pequenas empresas.

Os dois negócios não seguiram em frente, mas a experiência levou ele ao mercado de startups. “Acabei me apaixonando. Queria voltar a empreender, mas agora com uma empresa de tecnologia, escalável”, diz.

Para aprender como construir uma startup global, ele foi trabalhar na Firstbase, investida pela aceleradora Y Combinator, no Vale do Silício. Foi lá que conheceu Angelero.

O uruguaio trilhou um caminho inusitado: colheu kiwi para pagar os estudos, vendeu camisetas e eletrônicos entre Miami e Buenos Aires e, mais tarde, entrou na mesma startup de Cecílio.

“Trabalhávamos juntos em estratégias de crescimento. Desde o primeiro dia, sentimos que pensávamos parecido e podíamos confiar um no outro”, lembra.

De uma casa no Nordeste para o mundo

Em junho de 2024, os dois largaram tudo e se mudaram para a Praia do Pipa, região no litoral do Rio Grande do Norte com cerca de 17 mil habitantes.

“Decidimos ir para um lugar tranquilo, perto da praia. Era uma casa hacker, um espaço para nos mantermos isolados, focados e nos conhecermos melhor. Lá nasceu o primeiro projeto da BeGlobal”, explica Angelero.

Eles passaram os primeiros meses com pouco dinheiro e longas horas de trabalho. Foram oito meses de desenvolvimento até o produto final — do primeiro rascunho ao lançamento.

“Sabíamos que havia muita gente em outras regiões que não tinha as mesmas oportunidades que tivemos. Queríamos mudar isso. Passamos os dias conversando com fundadores, testando modelos e ajustando o produto até encontrar algo que todos queriam”, conta Cecílio.

Como a BeGlobal funciona?

A BeGlobal ajuda startups em estágio inicial a acertarem nas primeiras contratações técnicas — aquelas que definem o futuro do produto.

Em até 48 horas, a empresa apresenta três candidatos validados, todos com experiência em startups de alto crescimento.

O diferencial é o modelo de teste antes da contratação definitiva. O engenheiro ou engenheira trabalha por três meses dentro da startup, com salário pago pelo cliente.

Nesse período, é possível validar, na prática, o encaixe técnico e cultural. Se o profissional for efetivado, a BeGlobal recebe uma taxa de sucesso.

“Ser uma das primeiras contratações de uma startup não é só escrever código. É construir confiança, velocidade e compromisso. O teste permite que startup e profissional descubram isso juntos”, explica Angelero.

Quem está na BeGlobal?

A BeGlobal atende startups investidas por alguns dos maiores fundos de investimento do mundo, como Y Combinator, Andreessen Horowitz e Bessemer Venture Partners.

Na Europa, mantém parcerias com a Start2 Global — reconhecida pelo portal Financial Times como a principal rede de hubs de startups do continente — e a Ewor, apelidada de “Y Combinator europeia”.

A empresa conecta talentos de várias regiões, principalmente da América Latina, com startups dos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha.

“Não temos clientes no Brasil, mas muitos dos engenheiros contratados são brasileiros”, diz Angelero.

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