Negócios

Ele morou no Japão e nos EUA, mas escolheu o Brasil para ter uma startup de IA

A Escale, que já gerou R$ 2,1 bilhões em vendas para clientes em 2024, aposta em IA para transformar como empresas realizam vendas complexas

Ken Diamond, CEO da Escale: empresa quer triplicar número de clientes corporativos com novo agente de IA

Ken Diamond, CEO da Escale: empresa quer triplicar número de clientes corporativos com novo agente de IA

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 24 de agosto de 2025 às 08h45.

Quando Ken Diamond, fundador da Escale, chegou ao Brasil em 2013, ele já imaginava que aqui encontraria o terreno perfeito para empreender. Nascido no Japão e com grande parte de sua educação nos Estados Unidos, o executivo sempre teve uma visão global.

"Eu vim em busca de uma nova aventura. O Brasil era visto lá fora como a próxima grande economia, e senti que poderia contribuir com a minha experiência", diz Diamond.

Aos 25, o nipo-americano pousou em solo brasileiro com o colega Mathew Kligerman. Ambos se conheceram em Nova Iorque após a faculdade e decidiram vir juntos ao Brasil. Primeiro, tentaram uma agência de marketing num apartamento pequeno na Vila Madalena, mas o negócio não foi para frente.

Entre 2015 e 2016, a empresa acabou se transformando na Escale, uma sales tech voltada para ajudar grandes marcas a otimizar os processos de vendas. O foco estava nas vendas online e via WhatsApp. É estimado que, por aqui, o aplicativo de mensagens está presente no celular de 96% dos brasileiros.

"Nosso objetivo era ajudar empresas a descomplicar o processo de vendas, tirando a dependência de relatórios complexos e planilhas e trazendo a agilidade necessária para o mercado", explica.

De forma resumida, eles forneciam a tecnologia, mas também ajudavam grandes empresas a desenharem toda a jornada de vendas — desde a criação de planos de banda larga até colocar vendedores para finalizar o negócio.

Cinco anos depois, a Escale já havia conquistado clientes como o Banco Itaú e a Qualicorp, mas estava na procura de alguma tecnologia para otimizar a plataforma. Nesse contexto, conheceu Daniel Rosa, CEO da Cobmax, uma empresa em São José do Rio Preto que entregava "altas taxas de conversão" na área de telecomunicações.

"A Cobmax tinha muita experiência em venda humanizada, e nós tínhamos a tecnologia, então percebemos que juntos poderíamos gerar mais resultados", diz Diamond. A parceria evoluiu ao longo dos anos até que, em 2024, houve uma integração das duas empresas. Rosa entrou como sócio da Escale no mesmo ano.

Nova fase

Hoje, a empresa quer ir além com a chegada da Aisa, a nova agente de IA da empresa. Lançada em 2025, a Aisa foi desenvolvida para lidar com vendas complexas em setores como telecomunicações, financeiro, energia e educação.

O agente de IA conduz toda a jornada de vendas — da qualificação ao pagamento — integrando-se à plataforma conversacional e sistemas dos clientes. Os clientes têm à disposição uma plataforma, onde podem acompanhar toda a performance da Aisa em tempo real.

Segundo Diamond, o diferencial está no treinamento do sistema, que utiliza dados reais de vendas e técnicas comprovadas internamente durante os últimos dez anos em que a Escale estava no mercado.

“O nosso motor de IA se adapta a diferentes perfis de consumidores, oferece respostas contextualizadas e conta com atualizações contínuas, governança estruturada e equipes dedicadas ao monitoramento e à otimização das jornadas”, diz o executivo.

O impacto é imediato: segundo a empresa, a Aisa já mostrou uma melhoria de 40% na conversão de vendas em comparação com atendentes humanos e chatbots tradicionais.

O que vem por aí?

Com mais de 350 colaboradores e parcerias com grandes empresas, a Escale já alcançou R$ 2,1 bilhões em vendas para os clientes em 2024.

A meta para 2025 é continuar expandindo a presença no mercado e triplicar o número de clientes corporativos.

"O mercado já entendeu que não basta implementar um agente de IA simples. É preciso um agente robusto, bem treinado e que entregue resultados consistentes", diz Diamond.


Competição acirrada

Os agentes de IA são o assunto do momento no setor, um passo mais perto de alcançar uma tecnologia que trabalha sem qualquer auxílio humano.

As gigantes americanas Microsoft, IBM, Google, Salesforce e Amazon, por exemplo, já têm versões corporativas de chatbots ou agentes de IA para empresas. A OpenAI, dona do ChatGPT, e a startup francesa Mistral também estão criando ferramentas parecidas.

Por aqui, startups de todos os portes têm lançado agentes de IA. Alguns criaram uma ferramenta nichada: a brasileira Voll criou uma ferramenta para ajudar empresas a sempre economizarem em viagens corporativas, por exemplo.

A fintech Cloudwalk lançou o JIM, assistente de IA capaz de otimizar campanhas de venda, gerenciar fluxo de caixa e até gerar conteúdo para as redes sociais. Mais recentemente, a curitibana Olist anunciou a Lis, uma assistente conversacional capaz de emitir notas fiscais, atualizar preços e mais.

O que são agentes de IA?

Agentes de IA são como funcionários digitais superinteligentes, capazes de realizar tarefas do começo ao fim, sozinhos.

Enquanto um chatbot apenas responde a perguntas, um agente de IA vai além. Imagine que ele não só cria uma receita, mas também compra os ingredientes, agenda a entrega e ainda avisa quando a refeição está pronta.

Por que são importantes para as empresas?

O principal objetivo dos agentes de IA é liberar os humanos das tarefas repetitivas. Isso significa mais agilidade, mais inovação e uma operação mais eficiente para as empresas. É como um time invisível trabalhando 24 horas por dia.

Entusiastas acreditam que esta é a primeira etapa para a Inteligência Artificial Geral (AGI), sistemas que serão capazes de superar os humanos nas tarefas mais complexas e valiosas. Alguns, como o CEO da OpenAI, Sam Altman, apontam que o momento que a AGI tomará conta está próximo (mas ele dizer isso está mais atrelado ao sonho do IPO e o contrato da empresa com a Microsoft do que qualquer outra coisa).

Os críticos da IA dizem que a ideia de uma AGI aparecer 'logo ali na esquina' é uma promessa falsa e enganosa. Um estudo publicado na Computational Brain & Behavior indica que as IAs de hoje são apenas boas em imitar a inteligência humana de verdade. Em suma, acreditar que a AGI vai surgir rapidamente seria uma contradição lógica diante das limitações computacionais que existem.

Por enquanto, temos os agentes de IA — que já funcionam e impactam milhares de empresas pelo mundo. Hoje, esse setor é avaliado em US$ 5 bilhões e a previsão é que atinja US$ 47,1 bilhões até 2030, um crescimento impressionante de 44,8% ao ano.

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