Negócios

Escola de SP leva alunos ao sertão para construir cisternas em comunidade carente

Jovens organizam a arrecadação de recursos e viajam por uma semana ao agreste pernambucano para erguer cisternas ao lado das famílias beneficiadas

Alunos da Beacon School constroem cisternas no sertão pernambucano em parceria com a comunidade local (Arquivo Pessoal)

Alunos da Beacon School constroem cisternas no sertão pernambucano em parceria com a comunidade local (Arquivo Pessoal)

Guilherme Santiago
Guilherme Santiago

Content Writer

Publicado em 24 de outubro de 2025 às 15h00.

Todos os anos, alunos do terceiro ano do ensino médio da Beacon School, na zona oeste de São Paulo, trocam a rotina das salas de aula pelo sertão pernambucano.

Lá, lado a lado com moradores locais, eles constroem cisternas destinadas a armazenar a água da chuva. O projeto, que começou em 2023 e virou tradição da escola, é a etapa prática de um ano de mobilização estudantil para financiar as obras.

Felipe Pregnolatto, coordenador do Programa de Anos Intermediários (MYP) da Beacon, explica que o projeto coloca adolescentes de alta renda diante de uma realidade marcada pela escassez de água e pela precariedade da infraestrutura.

Para ele, o maior aprendizado está na convivência diária com a comunidade. “O mais valioso é poder passar uma semana vivendo com essas famílias, compartilhando a rotina e compreendendo, de perto, a realidade delas”, afirma.

Em Riacho das Almas (PE), famílias e alunos trabalham lado a lado na construção de reservatórios que garantem água potável durante a seca (Arquivo Pessoal)

Como tudo começa

O ciclo do projeto tem início ainda no penúltimo ano do ensino médio, quando os alunos se mobilizam para arrecadar o valor necessário para construir as cisternas. Para ter ideia, cada reservatório custa, em média, R$ 25 mil.

Pregnolatto explica que a campanha mistura criatividade e engajamento. Na escola, os estudantes vendem kits de café da manhã aos pais na hora da entrada, organizam ações durante eventos como a Festa Junina, produzem vídeos e promovem leilões com doações da própria comunidade – de obras de arte a camisas autografadas.

“A maior parte do dinheiro vem da própria comunidade escolar”, explica. “Todo ano, eles precisam se reinventar para não cair na mesmice”, brinca.

Mas o esforço financeiro é apenas o início do aprendizado. A Beacon adota uma série de cuidados pedagógicos para que o real valor do projeto se concretize. Existe, por exemplo, a regra de não se levar presentes às famílias, justamente para impedir qualquer comparação.

“Embora os alunos arrecadem recursos, o papel deles não é doar o dinheiro. É construir a cisterna, entender a comunidade e, principalmente, doar o próprio tempo”, defende. “Se eu simplesmente fiz uma doação, não aprendi nada.”

A experiência no sertão

A etapa no sertão pernambucano é o ponto culminante do projeto. A ação é realizada em parceria com a ONG Habitat for Humanity, que garante a logística, fornece os materiais e equipamentos de proteção e oferece suporte técnico durante toda a obra.

Um engenheiro supervisiona as frentes de trabalho, enquanto um pedreiro local orienta alunos e moradores. A presença da família beneficiada é obrigatória para que todos participem da construção de sua própria cisterna.

O trabalho segue um ritmo rigoroso, dividido em etapas diárias: moldagem das placas de concreto, montagem da estrutura, acabamento e pintura. “São fases muito bem definidas para que, em cinco dias, a cisterna esteja concluída”, explica Pregnolatto.

Os estudantes se hospedam em um alojamento simples na periferia de Caruaru e, todos os dias, percorrem o trajeto até Riacho das Almas, onde as obras acontecem. O cotidiano combina esforço físico e aprendizado humano: manhãs e tardes dedicadas ao trabalho braçal, almoços compartilhados nas casas das famílias e noites de rodas de conversa e reflexão sobre temas como escassez de água e desigualdade social.

“O mais valioso é viver com essas famílias e entender sua realidade”, diz Felipe Pregnolatto (Arquivo Pessoal)

A seleção das famílias segue critérios de vulnerabilidade social, priorizando lares chefiados por mulheres, com crianças ou idosos e sem renda fixa. Embora cada cisterna beneficie uma única residência, o impacto é coletivo – a água é dividida com vizinhos e parentes próximos.

Em Riacho das Almas, o déficit ainda é expressivo: faltam cerca de 700 cisternas para atender toda a população. “Se dependesse só da Beacon, levaríamos décadas para cobrir essa necessidade”, reconhece Pregnolatto.

O impacto que fica

Ex-aluna da primeira turma a participar do projeto, em 2023, Luiza Chammas descreve a semana no agreste como um amadurecimento acelerado. Ela conta que chegou com incertezas, mas voltou com uma régua diferente para medir o que importa.

“A viagem para o sertão nordestino alimentou a minha alma e me ensinou mais do que qualquer outra experiência que eu já tive”

A experiência também redefiniu o sentido do trabalho para a estudante. “Não era “apenas uma cisterna”. Era uma fonte de vida que iria mudar gerações”, diz.

Para Pregnolatto, a frase ajuda a dimensionar o que fica quando o grupo retorna a São Paulo: não só um reservatório erguido, mas a convicção de que aprender é, também, participar. E que educação de qualidade forma para o vestibular e para a vida.

Acompanhe tudo sobre:Branded MarketingGraduaçãoImpacto socialEscolasEducaçãoGraduação Escola de Negócios Saint Paul

Mais de Negócios

Sonic é quase brasileiro, diz CEO da japonesa bilionária Sega

Esqueça o óbvio: o plano de três etapas deste gestor para construir riqueza — sem seguir a média

Pix parcelado é o novo ouro — e esta fintech quer chegar primeiro

Como transformar a luz natural em uma receita de R$ 50 milhões por ano