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Essas empresas se fundiram para formar um exército de cibersegurança e faturar R$ 1,5 bilhão

Empresas querem dobrar base de clientes até 2027 e exportar serviços para competir com players globais

Droander Martins e Josué Luz: "A gente percebeu que o mercado está pedindo alguém que consiga formar pessoas, treinar equipes, proteger empresas e auditar operações com visão estratégica” (Divulgação)

Droander Martins e Josué Luz: "A gente percebeu que o mercado está pedindo alguém que consiga formar pessoas, treinar equipes, proteger empresas e auditar operações com visão estratégica” (Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 8 de agosto de 2025 às 11h45.

Em um setor cada vez mais ameaçado por ataques digitais e carente de mão de obra qualificada, dois grupos brasileiros decidiram unir forças para acelerar a maturidade digital de empresas — e escalar um negócio com ambição de faturar 1,5 bilhão de reais nos próximos cinco anos.

O mercado global de cibersegurança, avaliado em mais de 200 bilhões de reais em 2024, segue em expansão, mas enfrenta dois gargalos: a fragmentação dos serviços e a escassez de profissionais.

No Brasil, o cenário é ainda mais delicado: o país figura entre os cinco mais atacados do mundo, segundo relatórios da Kaspersky e da Check Point, e sofre com a falta de estrutura técnica nas empresas, especialmente as de médio porte.

É nesse ambiente que surge a fusão entre a Acadi-TI, focada em educação em segurança da informação, e a IPV7 Security, especializada em serviços técnicos como auditoria, monitoramento e bug bounty, uma prática de recompensa para hackers éticos que identificam falhas em sistemas.

Juntas, as empresas querem formar o maior ecossistema privado de cibersegurança do país, com mais de 50.000 alunos formados, 2.600 empresas atendidas e cerca de 1.000 funcionários diretos e indiretos.

O movimento é uma resposta direta ao aumento da demanda por serviços de cibersegurança e à ausência de players consolidados no setor.

“Cada empresa faz um pedaço. A gente percebeu que o mercado está pedindo alguém que consiga formar pessoas, treinar equipes, proteger empresas e auditar operações com visão estratégica”, afirma Droander Martins, CEO e fundador da IPV7.

O grupo projeta alcançar 4.000 empresas atendidas em dois anos, dobrar a base de alunos e chegar a um faturamento de 1,5 bilhão de reais até 2030. Um IPO também está no radar.

No plano de expansão, estão novas aquisições, crescimento da base internacional de alunos e a criação de um selo de maturidade em cibersegurança.

Qual é a aposta a partir da fusão

A principal força da Acadi-TI na fusão é a educação. Fundada por Josué Luz, a empresa nasceu em 2012, depois que o ex-técnico de infraestrutura decidiu deixar o setor de data centers para criar um programa de formação prática em tecnologia.

Começou com cursos para idosos na zona leste de São Paulo. Hoje, fornece treinamento para Polícia Federal, Exército e grandes bancos.

“A gente forma profissionais que saem prontos para o mercado e, muitas vezes, são absorvidos pelo nosso próprio ecossistema. Alguns chegam a virar sócios, como um aluno nosso que recusou uma proposta de 27.000 dólares de uma empresa em Dubai para continuar com a gente”, afirma Josué.

O modelo da Acadi mistura trilhas práticas, certificações internacionais como CEH (Certified Ethical Hacker, ou hacker ético certificado) e simulações gamificadas, que aproximam a formação da realidade de campo.

“Temos uma plataforma que simula ataques reais. A pessoa aprende resolvendo problemas do mundo real. Isso engaja a nova geração, que não aprende como a nossa aprendeu”, diz Josué.

A fusão também prevê um projeto social para formar mil jovens em cibersegurança nos próximos dois anos. Eles serão preparados para proteger pequenas empresas, muitas vezes sem acesso a soluções profissionais. “Não é só formar mão de obra, é formar defensores da nossa infraestrutura digital”, afirma Droander.

Além disso, há conversas com governos estaduais para escalar o modelo educacional para escolas públicas. Só no estado de São Paulo, a meta é impactar 1,2 milhão de alunos do ensino fundamental e médio com conteúdo sobre segurança online, prevenção de crimes digitais e introdução à carreira.

Do lado da IPV7, o foco é serviço. A empresa atua com auditorias para fundos de investimento, testes de invasão (ou pentests, que simulam ataques para encontrar vulnerabilidades) e monitoramento de redes.

Segundo Droander, o grupo já realizou mais de 10 movimentos de compra e venda de empresas nos últimos anos e aposta em fusões como tese estratégica para o setor. “O mercado financeiro não quer empresas com ecossistemas frágeis. Um ataque cibernético pode acabar com um império. A cibersegurança passou a ser premissa básica para escalar qualquer negócio.”

A estratégia de expansão internacional prevê vender serviços para fora com preços mais competitivos.

“Tem produto que custa 1.000 dólares lá fora e a gente entrega por 1.000 reais. Com a variação cambial, temos margem e ainda somos mais acessíveis. É o que a Índia fez com software. O Brasil pode fazer com cibersegurança”, diz Droander.

Desafios do setor e uma tese de soberania digital

Apesar da fusão, as empresas continuarão operando com marcas e estruturas separadas pelos próximos 12 a 24 meses. O motivo: alinhar culturas, manter contratos estratégicos com governo e respeitar processos internos.

“A pressa é inimiga da integração bem-sucedida. Vamos seguir um modelo de conselho, com governança robusta, porque também estamos nos preparando para um IPO”, afirma Droander.

A leitura dos fundadores é clara: o setor de cibersegurança no Brasil ainda é pouco consolidado, e os riscos aumentam com a transformação digital.

“A gente está no top 5 dos países mais atacados do mundo, mas a maioria das empresas brasileiras ainda acha que segurança é só instalar antivírus”, diz Droander.

O grupo aposta que haverá uma mudança cultural nos próximos anos, em que empresas passarão a priorizar segurança como parte da operação — e vão preferir parceiros locais. “Vai chegar o momento em que empresas brasileiras não vão querer deixar seus dados nas mãos de estrangeiros. A gente vai ver um movimento claro de soberania digital, como já acontece em outros países”, afirma.

Josué reforça a tese: “A gente acredita no Brasil. Não estamos apostando no mercado porque ele está na moda. Estamos construindo algo que é necessário. E estamos investindo com capital próprio. É convicção, não oportunidade”.

Um mercado de R$ 50 bilhões e novas aquisições à vista

O mercado de cibersegurança no Brasil pode movimentar mais de 50 bilhões de reais nos próximos anos, segundo os executivos. Só o novo grupo projeta atender 4.000 empresas até 2027 e ampliar as operações em dólar, com clientes no exterior.

O plano inclui novas aquisições, principalmente de empresas menores com tecnologias complementares. “Ainda tem muita startup sem maturidade para esse tipo de ecossistema, mas nosso movimento vai servir como alerta para o mercado. Estamos dizendo: existe um grupo consolidando”, diz Droander.

Ele afirma que o grupo já atrai atenção de fundos estrangeiros, mas que, por enquanto, tudo está sendo feito com capital próprio. “Com mais uma ou duas aquisições, a gente destrava interesse de fundos internacionais e pode acelerar a consolidação. A América Latina tem mercado, mas o Brasil sozinho já representa a maior fatia em tecnologia.”

O movimento, segundo os executivos, é só o começo. “A cibersegurança não é mais uma vertical de TI. Ela é a base de qualquer negócio digital. Sem isso, não tem dado, não tem operação, não tem futuro”, resume Josué.

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