Thais Costa, CEO da Nanica: “Passamos os últimos dois anos freando a expansão para entender o consumidor e adaptar o mix. Agora estamos prontos para acelerar de novo.” (Nanica/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 14 de julho de 2025 às 15h50.
Não é exagero dizer que a rede de cafeterias Nanica ajudou a popularizar a torta de banana com chantilly e doce de leite — a banoffee — no Brasil.
De um ponto minúsculo no fim de uma viela na Rua Augusta, em São Paulo, a marca virou franquia e fechou 2024 com 55 milhões de reais em faturamento.
A Nanica nasceu em 2018, quando os curitibanos Leonardo Macedo e Tito Barcellos decidiram apostar em uma receita caseira para criar um negócio. O ponto de virada veio quando o artista Tiago Abravanel, depois de experimentar a torta nos bastidores de um show em Curitiba, fez o que toda marca em formação sonha: disse “leva isso pra São Paulo, vocês vão ganhar dinheiro com isso”. Não demorou para virar sócio — e embaixador da marca.
O trio alugou um espaço de 40 metros quadrados na Rua Augusta, montou uma cozinha improvisada e abriu as portas com o que tinha em caixa: 13.000 reais. A produção era feita manualmente, e o que não vendia virava degustação gratuita na calçada.
“Essa foi nossa primeira ação de marketing. A gente não queria lucro no começo, só que as pessoas provassem”, afirma Thais Costa, CEO da Nanica.
Com o tempo, o improviso virou marca registrada. E a fama ganhou tração quando celebridades como Bruna Marquezine e Larissa Manoela passaram por lá, provaram a banoffee e postaram nas redes. “Tínhamos 2.000 seguidores. Em poucos dias, viramos 70.000. E começaram as filas.”
Numa fase bem mais consolidada agora, a empresa precisa, em partes, se desvincular da fruta que dá nome ao negócio para expandir.
“Nosso maior desafio hoje não é o produto. É comunicação. As pessoas acham que só vendemos doce de banana”, diz Thais. “Mas temos tortas com morango, uva, chocolate, leite ninho. Colocamos até salgado no cardápio.”
A virada já começou. No primeiro semestre de 2025, a Nanica vendeu quase 600 mil tortas e faturou 18 milhões de reais. A meta é chegar a 100 unidades até 2027, com foco em cidades médias, lojas compactas e delivery como canal estratégico.
O início da operação foi tudo menos estruturado. A primeira loja da Nanica, no fim de uma viela na Augusta, cabia dois funcionários e mal comportava a fila que começava a se formar.
“Produzíamos o que dava e, no fim do dia, o que sobrava a gente entregava na rua. Era isso ou jogar fora. E as pessoas voltavam no dia seguinte”, afirma Thais.
O ponto, inicialmente discreto, virou parada de influenciadores e artistas. “Uma coisa foi puxando a outra. A gente apareceu numa revista sobre lugares escondidos para comer bem. Isso, somado ao Instagram, fez explodir a demanda”, diz. “Era uma cozinha artesanal, sem talher, sem prato. Pegava e saía comendo.”
Com esse formato, a Nanica chegou à pandemia pronta.
“Enquanto muita gente corria atrás de embalagem e delivery, a gente já estava no delivery. Nosso modelo sempre foi de pegue e leve. Foi ali que a empresa realmente virou um negócio”, diz.
A rede abriu 14 lojas próprias entre 2019 e 2021, até a chegada de um novo capítulo. Com o empurrão de Xuxa Meneghel — amiga pessoal de José Carlos Semenzato, dono da holding SMZTO, um dos principais nomes de franquias no Brasil — a Nanica foi apresentada ao grupo, que acabou entrando na sociedade.
“Vendemos todas as lojas próprias e montamos a franqueadora do zero. Hoje não temos nenhuma loja própria. A operação é 100% via franquias”, afirma Thais.
A profissionalização veio com estrutura, processos e metas ambiciosas — mas também com mudanças no modelo de negócio.
O nome Nanica ajuda no reconhecimento, mas também impõe barreiras.
“Muita gente ainda acha que só vendemos torta de banana. Mas a Monoffee, com morango, representa 20% das vendas. E cresce todo mês”, afirma Thais.
O cardápio evoluiu. Além da banoffee tradicional, a rede oferece tortas com uva, variações sem frutas, copos de sobremesa, salgado e um cardápio de bebidas com 16 opções — do chocolate quente à pink lemonade.
“Cada cidade pede uma coisa diferente. Em São Paulo, um mix enxuto funciona. Mas não adianta vender cappuccino em Manaus. Lá, pink lemonade vende horrores.”
A empresa também percebeu que, fora das capitais, o cliente espera uma cafeteria mais completa. Isso impactou a estratégia.
“Passamos os últimos dois anos freando a expansão para entender o consumidor e adaptar o mix. Agora estamos prontos para acelerar de novo.”
Manter o padrão exige uma operação detalhista. As tortas são feitas frescas todos os dias, dentro de cada unidade.
“Nada é congelado. Tudo é feito na hora", diz. "Quando um franqueado tem alta rotatividade ou dúvidas, mandamos treinador de novo. A loja só abre se estiver tudo certo.”
A diferença aparece até na forma de pensar o modelo de franquia.
“A franqueadora não lucra com venda de insumos. O franqueado compra direto do fornecedor. Isso protege a margem dele. A gente só ganha com royalty”, diz.
Para escalar sem comprometer o caixa dos franqueados, a Nanica redesenhou seu modelo de loja. As novas unidades variam entre 40 e 50 metros quadrados, com investimento a partir de 280.000 reais e previsão de payback entre 18 e 30 meses.
“Antes, uma loja podia custar até 400.000 reais. Agora conseguimos implantar por 280.000. Isso abre espaço para mais gente empreender”, diz Thais.
A rede já testou quiosques e carrinhos, mas decidiu manter o foco em loja física tradicional. “A experiência muda completamente. A pessoa senta, prova uma bebida, experimenta outro produto. Isso aumenta o ticket médio e ajuda a divulgar o mix”, afirma.
O delivery segue como canal forte: 50% das vendas vêm de plataformas como iFood. Mas esse canal tem limites. “No delivery, o cliente vai direto no que já conhece. Ele não explora o cardápio. Por isso estamos lançando produtos visualmente chamativos, como o Copo da Felicidade, para incentivar a compra de balcão.”
A empresa também vê potencial em dark kitchens, ou cozinhas sem atendimento presencial, focadas só no delivery. “Estamos estudando um modelo com custo de implantação de 80.000 a 100.000 reais, só para cidades menores. Isso pode destravar uma nova fase de crescimento”, diz Thais.
Hoje, a rede está presente em capitais como Brasília, João Pessoa, Manaus e Porto Alegre. A empresa evita abrir franquias em cidades com menos de 300.000 habitantes.
Com a banoffee se popularizando em versões industriais — em panetones, ovos de Páscoa e trufas —, a Nanica passou a disputar não apenas mercado, mas também percepção de marca.
“Muita gente prova um produto industrializado com sabor banoffee e acha que aquilo é banoffee. Aí vem na nossa loja e estranha, porque aqui é fresco, é natural, não tem conservante”, diz Thais.
Por isso, a marca tem investido em colaborações estratégicas e edições sazonais. O Panetoffee, panetone recheado lançado no último Natal, teve investimento de 110.000 reais e rendeu 400.000 reais em faturamento, com 5.000 unidades vendidas. “Foi um sucesso, e mostrou que podemos explorar mais datas comemorativas.”
A parceria com a marca de sorvetes Los Los, que tem distribuição em mais de 7.000 pontos de venda, também ajudou a levar a banoffee para outros formatos. “Tudo que tem a ver com banoffee, a gente quer estar junto. A ideia é associar o sabor à nossa marca.”
Agora, a Nanica prepara uma nova colaboração inusitada: uma linha de maquiagem com fragrâncias inspiradas nos sabores da casa.
“Imagina um batom com gostinho de banana com doce de leite, ou um body splash com cheiro de morango com leite condensado. A gente quer estar no dia a dia das pessoas — mesmo quando elas não estão comendo.”
Além disso, com o modelo nacional consolidado, a Nanica começa a olhar para fora do Brasil. A empresa já tem conversas avançadas com dois franqueados interessados em levar a marca para o exterior. Mas a estratégia será diferente da usual.
“Muita marca brasileira vai para o exterior para vender para brasileiro. A gente quer o contrário. Queremos conquistar o público local. Ir para uma Califórnia, por exemplo, e não só para Orlando”, diz Thais. “Quando a marca depende só do público brasileiro lá fora, ela não se sustenta.”
A internacionalização ainda não tem data fechada, mas os estudos estão em andamento. Em paralelo, o foco segue em abrir novas lojas no Brasil. “Temos 50 unidades ativas, e queremos dobrar esse número até 2027”, afirma.
A ambição da marca é clara: ser lembrada pelo sabor da banoffee, mas não depender apenas dele.