Repórter
Publicado em 11 de setembro de 2025 às 10h00.
Última atualização em 11 de setembro de 2025 às 10h05.
Lá atrás, quando a internet estava apenas começando a se expandir, jogos online eram acessados por navegadores tipo Internet Explorer. O PlayStation existia, claro, mas páginas como a ClickJogos ofereciam uma infinidade de títulos que entretinham por horas, sem a necessidade de downloads pesados. Era o início de uma revolução na forma como consumíamos jogos, e virou uma indústria bilionária: hoje, a receita global do setor de games está projetada para alcançar US$ 188,8 bilhões em 2025.
A loja digital de games Nuuvem está prestes a dar o próximo passo nesse legado da internet. Com o investimento da Square Enix, publicadora japonesa por trás do jogo Final Fantasy, a plataforma brasileira se prepara para criar um novo espaço de jogos online — mais moderno, fluido e, acima de tudo, mais acessível.
A partir desta quinta-feira, 11, qualquer pessoa pode acessar o Spawnd. Não precisa de console ou um hardware de alto desempenho, só um computador e acesso à internet.
Criado pela Nuuvem e agora investido pela Square Enix, o site permite que os jogadores experimentem demos de jogos diretamente na web, sem a necessidade de instalações. É como entrar na página do ClickJogos, mas se deparar com a interface de um Xbox, Nintendo Switch ou PlayStation.
Também é possível incorporar ("embedar") os jogos em outras páginas da web, como em conversas no Discord ou até nessa matéria. "Igual o YouTube faz com vídeos", resume Thiago Diniz, fundador da Nuuvem, em entrevista exclusiva a EXAME.
"Gameplays descentralizados podem ser muito revolucionários. Imagina que um dia, você vai poder jogar The Sims não só dentro da EA, mas em outros locais também, de qualquer página da internet [com o embed]", diz Diniz.
No futuro, estão previstas funções sociais para que os jogadores possam interagir durante e fora dos jogos. Partidas multiplayer também chegam até o final deste ano.
Não há cobrança para jogar. A empresa prevê, no futuro, oferecer versões pagas dos jogos completos, mas o foco inicial é permitir que mais pessoas descubram e experimentem o Spawnd.
A plataforma também quer ser um espaço de oportunidade para desenvolvedores. Com a gratuidade e fácil acesso aos jogos, é uma oportunidade para publicadoras menores divulgarem as próprias criações sem grandes investimentos. "Queremos ser uma porta de entrada", diz Diniz.
Dados da consultoria Newzoo, que todo ano divulga um relatório do setor de games, indicam que é o momento ideal para criar um site como a Spawnd. Publicado nesta quarta-feira, 9, a pesquisa fala sobre um "momentum renovado" para os PCs.
A base global de jogadores deve atingir 3,6 bilhões em 2025, sendo os jogadores de mobile a maior fatia (83%). Já os jogadores de PC representam 26% do total, cerca de 936 milhões de jogadores. Por último, os consoles representam os outros 18%. Os valores excedem 100% porque muitos costumam usar mais de um.
A indústria enfrenta um problema crescente de “discoverability”, ou seja, uma dificuldade em encontrar jogos menores ao pesquisar em lojas como a Steam. É justamente isso que a Spawnd busca resolver, apostando num mercado de US$ 39,9 bilhões.
Foi o interesse no Spawnd que levou a Square Enix a investir pela primeira vez em uma empresa brasileira. A publicadora nasceu da fusão entre duas gigantes do entretenimento japonês: a Square Co. e a Enix Corporation, unidas em 2003 após anos de sucesso individual no mercado de jogos. A Square era conhecida por franquias como Final Fantasy, enquanto a Enix se destacou com Dragon Quest. Unidas, o grupo virou referência global em RPGs.
A expansão internacional veio logo depois. Em 2005, a empresa abriu subsidiárias na China e América do Norte. No mesmo ano, adquiriu a Taito Corporation, tradicional no mercado de arcades. Em 2009, comprou a britânica Eidos PLC, trazendo para o portfólio franquias como Tomb Raider e Hitman. Hoje, a empresa opera com foco renovado em IPs próprias, tecnologia e distribuição global, com sede no Japão e presença na América, Europa e Ásia.
No ano fiscal encerrado em março de 2024, a Square Enix teve receita de US$ 2,53 bilhões (R$ 13,66 bilhões), mas viu o lucro líquido recuar para US$ 98,5 milhões (R$ 532 milhões) — uma queda de quase 70% em relação ao ano anterior. Apesar disso, a companhia terminou o período com US$ 2,71 bilhões (R$ 14,63 bilhões) em ativos totais, sinalizando uma posição de caixa robusta para novos investimentos.
Hoje, a Square Enix é conhecida no Brasil pelos jogos mais clássicos, mas tem outros 100 que são menos conhecidos (e agora, estão disponíveis na Nuuvem, parte do acordo feito no investimento). Apostar na América Latina faz sentido: a receita total do mercado de games na região está projetada para alcançar US$ 8,3 bilhões em 2025, com um aumento de 6,4% ano a ano.
O Spawnd foi desenvolvido ao longo de dez anos pela Nuuvem. A loja digital de games começou há cerca de quinze anos, oferecendo jogos para PC a preços regionais e em português. "Quando começamos, muita gente achava que estávamos malucos. Quem compraria jogos online no Brasil? Mas vi ali uma oportunidade imensa", diz Diniz que, na época, havia trabalhado por um período na área comercial da Tramontina.
Sempre fã de games, Diniz também era campeão mundial de "Battle of the Earth" e sonhava em trabalhar no setor. Parecia distante, mas foi a vitória no campeonato que chamou a atenção da Electronic Arts. A empresa por trás de jogos como Fifa, The Sims e Battlefield chamou o carioca para ser desenvolvedor de jogos. Foi trabalhando em uma das maiores 'bibliotecas virtuais' de games que Diniz percebeu a falta de uma versão brasileira.
Hoje diretor de operações, o carioca abriu a Nuuvem com Fernando Campos (CEO), Andrey Beserra, Fabio Girotto e Paulo Schilling, sem qualquer investimento externo. Na época, versões físicas estavam limitadas a lojas como Saraiva e Fnac. Online, somente a americana Steam oferecia instalações diretamente no computador e, portanto, a pirataria dominava.
Atualmente, a Nuuvem oferece desde clássicos como GTA e Mario Kart até lançamentos mais recentes. "Levou um tempo até conseguirmos fazer tudo isso, ter um catálogo tão grande assim", diz Diniz. São mais de 11 mil jogos disponíveis.
Agora, a empresa de faturamento de R$ 200 milhões quer contribuir para a comunidade gamer global com o Spawnd. A Nuuvem atingir 500 mil jogadores na primeira semana do Spawnd e ter mais de 100 jogos disponíveis até o final de 2025. Por enquanto, doze títulos estão disponíveis para teste imediato.
"Uma ideia que saiu daqui do Brasil, que começou no meu quarto, agora está com as maiores empresas de games do mundo", afirma Diniz. "Espero que abra muitas portas para outras empresas daqui da região".