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Festival de Cinema leva 400 mil pessoas a Gramado — e gera receita de R$ 2,1 mi em rede de hotéis

Rede Gramado Parks destaca bastidores da operação de três hotéis da cidade para atender celebridades, turistas e entidades do governo

Festival de Cinema de Gramado: cidade recebe mais de 400 mil turistas nas duas semanas do evento (Edison Vara/Ag.Pressphoto)

Festival de Cinema de Gramado: cidade recebe mais de 400 mil turistas nas duas semanas do evento (Edison Vara/Ag.Pressphoto)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de POP

Publicado em 26 de agosto de 2025 às 17h34.

Última atualização em 26 de agosto de 2025 às 17h52.

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Gramado (RS)* — Luzes, câmeras, tapete vermelho e uma quantidade quase incontável de Kikitos são a marca registrada do Festival de Cinema de Gramado. Celebridades brasileiras e filmes à parte, na edição de 2025, outro setor além do audiovisual saiu fortalecido: o de hotelaria.

Mais de 400 mil pessoas visitaram Gramado entre os dias 13 e 23 de agosto para acompanhar o festival — e pelo menos 40 mil delas assistiram aos filmes concorrentes à premiação nas duas salas de cinema da cidade, segundo a Gramadotur. O impacto foi nítido: restaurantes tiveram fluxo dobrado, museus e parques receberam mais famílias e os hotéis ficaram lotados com turistas, celebridades e entidades do governo.

"A ocupação foi de 100%", diz Ronaldo Beber, CEO da Gramado Parks, dona de três hotéis na cidade, três restaurantes e dois parques temáticos, em entrevista à EXAME. "São duas semanas quase que mudam completamente a quantidade de hóspedes que recebemos. Pegando mais ou menos um comparativo, um final de semana normal de agosto gera em torno de 60% de ocupação. No Festival de Cinema, os nossos três hotéis ficaram com 100% de ocupação".

A rede é controladora dos hotéis Buona Vitta, Bella e Exclusive, todos em Gramado, que tiveram juntos receita de R$ 2,1 milhões só no período do festival deste ano. O Buona Vitta, o maior da cidade, com 583 leitos e capacidade para quase 2 mil pessoas, faturou sozinho R$ 514,6 mil.

"É o nosso segundo melhor momento para a hotelaria, fica atrás só do Natal Luz, em dezembro. Fora a hospedagem de turistas e celebridades, o último fim de semana do festival tem uma programação intensa, porque as produtoras encomendam festas. Uma delas, inclusive, fechou um hotel inteiro nosso: foram 176 quartos alugados só para quem veio nesse evento", disse Beber.

O bom resultado da temporada é resultado de uma parceria de longa data entre a Gramado Parks e a Gramadotur, que faz parte da organização do festival de cinema da cidade. A empresa de Beber é apoiadora oficial do evento e, além de hospedagens para algumas celebridades e entidades do governo — em 2025, a rede hospedou o ator Edson Celulari, a influenciadora Victoria Strada e o presidente da Embratur, Marcelo Freixo —, foi o espaço da famosa "Feijoada das Estrelas", que reúne os artistas do festival e o grande público, a partir da venda de ingressos.

Em conjunto com o pacote de parcerias, a Gramado Parks também é concessionária do Palácio do Kikito, o Museu do Festival do Cinema, aberto ao público durante o ano todo — mesmo fora do período do festival.

O ponto de virada da dívida?

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Para além dos hotéis, a empresa também é dona de dois parques temáticos. O Snowland, que oferece neve artificial para simular o ambiente polar, e o Acquamotion, único parque aquático indoor e temático do Brasil, disponível para todas as datas do ano, independentemente do frio. Este segundo têm sido o maior atrativo, pelo diferencial de ser resistente às temperaturas da cidade.

Embora a rede hoteleira tenha um bom funcionamento, a Gramado Parks passa por uma crise financeira que culminou numa recuperação judicial de cerca de R$ 452 milhões em dívidas. O processo é do início de 2023, e o montante pode ultrapassar R$ 1,3 bilhão, mas o processo de reestruturação só abraça algumas verticais do grupo — os hotéis, por exemplo, não entraram na recuperação judicial

Beber assumiu a gestão em maio de 2023 para tentar reverter o cenário. Tem apostado em aumentar a qualidade dos serviços prestados pela rede hoteleira, em conjunto com a incorporação imobiliária, para gerar cada vez mais receita e tentar afastar a dívida. "Acreditamos muito que, para que a gente tenha sucesso na incorporadora, precisamos entregar uma hotelaria forte. Temos batalhado muito em um atendimento de excelência nos hotéis e na gastronomia de ponta, e também investimos em chefes renomados", explicou.

Os hotéis da Gramado Parks atuam, além da hospedagem, com segmento de multipropriedade — a divisão de frações de uso de cada apartamento do hotel. O modelo é regulamentado Lei nº 13.777, de 2018, que introduziu o regime jurídico para esse tipo de propriedade compartilhada em imóveis, como hotéis e resorts. A empresa oferece cotas que dão direito a uso de quatro, uma ou duas semanas por ano para os proprietários, e o valor varia entre alta, média e baixa temporadas.

A estratégia garante mais uma margem maior de receita para a empresa, e é válida para os três hotéis de Gramado. Existe um condomínio, cujas despesas são rateadas pelos condôminos — a pessoa paga proporcionalmente pelo período que comprou —, e a rede hoteleira, enquanto gestora dos hotéis, cobra uma taxa para fazer a gestão.

Se o condômino não quiser ou puder utilizar a hospedagem comprada naquele ano, há a possibilidade de colocar o apartamento em um "pull de hospedagem". Uma vez depositada a semana que o condômino comprou e não irá utilizar, a rede hoteleira coloca as diárias para locação no mercado. É cobrado um percentual sobre a receita dessa hospedagem e, depois de apurados os custos comerciais e descontada a taxa cobrada pela administração do hotel, esses valores são rateados entre os pulistas (cotistas).

"Esse produto é majoritariamente feito para uso, e não exatamente investimento. Buscamos famílias que queiram ter uma segunda residência por um período", disse Beber à EXAME. "É uma compra inteligente: em vez de ter um imóvel parado por um longo período do ano para uso só em algumas datas, a pessoa paga exatamente pelo período que ela vai utilizar. Nossa grande diferença é que, diferentemente de alguns outros concorrentes, que são só uma incorporadora e depois a operação hoteleira é terceirizada ou é feita pró-forma, a gente realmente quer colocar nossos hotéis em um padrão de excelência de atendimento, porque aí, a propriedade não desvaloriza". 

Em conjunto com os hotéis e os parques temáticos, a empresa também é dona dos restaurantes Don Milo, Opiano, Signature e DonaLira.

*A repórter viajou a convite da Gramado Parks para a cobertura do 53º Festival de Cinema de Gramado

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