Negócios

Fundo japonês chega ao Brasil com US$ 50 milhões — e apetite por blockchain

O fundo Onigiri foi lançado pela Saison Capital, braço de venture capital da Credit Saison, e quer ser "ponte" entre América Latina e Ásia

Hans de Back (esquerda) e Qin En Looi (direita), Managing Partners da Onigiri Capital (Onigiri Capital/Divulgação)

Hans de Back (esquerda) e Qin En Looi (direita), Managing Partners da Onigiri Capital (Onigiri Capital/Divulgação)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 15 de setembro de 2025 às 09h00.

Tudo sobreStartups
Saiba mais

A Saison Capital, braço de venture capital da japonesa Credit Saison, instituição financeira listada na Bolsa de Tóquio, acaba de lançar o fundo Onigiri Capital no Brasil.

A gestora nasce com US$ 50 milhões (R$ 270 milhões) para investir em startups de blockchain voltadas ao setor financeiro — e tem um recorte claro: projetos que desenvolvam soluções reais em pagamentos, stablecoins, ativos tokenizados e finanças descentralizadas, as chamadas DeFi.

Ao menos US$ 35 milhões (R$ 190 milhões) já foram comprometidos por instituições da Ásia e dos Estados Unidos, incluindo a Stellar Development Foundation — reconhecida por seu trabalho com infraestrutura blockchain e parceira de grandes gestoras como a Franklin Templeton.

Do lado dos investidores, o fundo busca posicionar a América Latina como fonte de inovação aplicada em blockchain. Instituições financeiras da Ásia e dos EUA que aportarem recursos terão acesso privilegiado ao pipeline de startups latino-americanas, em áreas como pagamentos e ativos tokenizados.

A chegada do fundo ao Brasil não é pontual. A Saison Capital já investe há três anos em blockchain na Ásia e soma 40 startups no portfólio.

“Vimos uma oportunidade de fazer algo maior e mais colaborativo. Por isso, criamos a Onigiri Capital com capital externo e com o objetivo de unir instituições financeiras da Ásia a fundadores do Sul global”, disse Qin En Looi, sócio da Saison Capital e managing partner do novo fundo, com exclusividade a EXAME.

Por que o Brasil?

Segundo Looi, a decisão de lançar o fundo a partir do Brasil tem relação com a maturidade do ecossistema local. “O Brasil é um dos países mais avançados em infraestrutura de pagamentos no mundo”, disse ele, ao citar o sucesso do Pix e o protagonismo do Banco Central com o Drex, projeto de real digital com uso de blockchain.

Esse ambiente regulatório mais claro e a crescente sofisticação de fintechs brasileiras tornaram o país uma peça-chave para a estratégia da Saison. Além disso, há uma lógica geopolítica que fortalece a tese do fundo: com mais da metade dos usuários de blockchain concentrados na Ásia, o continente é o próximo passo natural para startups da América Latina em expansão.

“O que estamos oferecendo vai além do capital. Acreditamos que o nosso maior valor está em três coisas: acesso institucional, porta de entrada para a Ásia e validação e visibilidade”, afirmou o executivo.

Do Japão para o mundo (via blockchain)

Criada como um braço independente, mas em total sinergia com a Saison Capital, a Onigiri Capital se posiciona como uma gestora de venture capital especializada no setor financeiro. O nome remete ao onigiri, bolinho de arroz japonês triangular, e representa os três pilares centrais do fundo: foco em uso prático da tecnologia, escala internacional e credibilidade institucional.

“Queremos que o uso de blockchain seja percebido pelo usuário final mesmo que ele não saiba que está usando blockchain”, explicou Looi. Para ele, a maturação do setor veio com a entrada de instituições financeiras tradicionais, que hoje estão interessadas em entender, apoiar e construir soluções reais com a tecnologia — especialmente na esteira de uma nova fase de crescimento.

De fato, os dados apontam para isso: em 2019, havia apenas US$ 5 bilhões movimentados em stablecoins no mercado. Em 2025, o valor já ultrapassou US$ 270 bilhões — um crescimento de 50 vezes em seis anos.

Uma ponte em tempo real

Apesar de ferramentas domésticas avançadas como o Pix, a movimentação internacional de recursos continua sendo uma dor.

“Hoje, enviar dinheiro do Brasil para fora ou vice-versa ainda é um processo lento, caro e ineficiente. É aí que entra o blockchain”, disse Looi, que cita a demanda crescente por soluções de pagamentos internacionais como uma das principais alavancas do fundo.

Além do capital, a Onigiri Capital busca oferecer suporte regulatório — especialmente em mercados como Cingapura, Hong Kong, Japão e Indonésia —, regiões onde a Credit Saison já tem operações estruturadas. A meta é investir em startups que, mesmo nascidas na América Latina, possam atingir escala e relevância global.

“Acreditamos que o próximo capítulo das finanças será escrito com a colaboração entre continentes. E queremos estar na linha de frente desse movimento”, diz Looi.

Acompanhe tudo sobre:StartupsBlockchainFundos de investimento

Mais de Negócios

'Choque de Gestão': primeiro reality da EXAME leva grandes empresários para dentro de PMEs

Império de games: com moeda própria e jovens desenvolvedores, Roblox movimentou US$ 1 bi em 2024

Fundada em cidade com 8 mil habitantes em SC, Rudnik ganha o mundo e fatura R$ 100 milhões

Por que um dos cientistas de IA mais brilhantes do mundo abandonou os EUA para viver na China?