Patrícia Fernanda Muniz de Lima, fundadora da Gamezônia: "A nova solução funciona como um escudo protetor para empresas, democratizando o acesso a contratos essenciais, ajudando na construção de compliance e prevenindo erros jurídicos que poderiam comprometer a continuidade dos negócios”
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 10 de julho de 2025 às 14h30.
Segundo o Relatório Anual de Desmatamento do Brasil (RAD), 76% das florestas amazônicas localizadas no Maranhão já foram devastadas, o que evidencia a gravidade da crise ambiental na região, com consequências diretas na biodiversidade e no equilíbrio climático. Diante desse cenário, a maranhense Patrícia Fernanda Muniz de Lima decidiu agir e viu nos games e na tecnologia uma forma de colaborar. Ao lado dos amigos Ádani Robson, Juliana Nogueira e Vinicius Sirino, fundou o Gamezônia, um videogame imersivo voltado à educação ambiental. “Esse dado representa uma perda irreparável, com áreas que se transformaram em outros biomas, como cerrado e posteriormente caatinga. Percebi que apenas lamentar esses danos não era suficiente, precisávamos agir e criar soluções reais”, diz
O jogo, estruturado em 3D, tem como público-alvo escolas e empresas que desejam trabalhar a conscientização e implementar a agenda ESG (Ambiental, Social e Governança), além de interessados em conhecer a história da Amazônia por meio da perspectiva dos povos e comunidades tradicionais da região. Mais de 20 instituições de grande porte já utilizam a solução – finalizada em 2024 –, e apesar de não abrir o faturamento, os resultados são satisfatórios.
Os próximos planos incluem lançar uma fase dedicada aos manguezais maranhenses, expandir a presença nacional e estabelecer parcerias estratégicas com grandes empresas do setor. “Também queremos manter nossa participação ativa nas discussões da COP30 em Belém [que será realizada em novembro deste ano]”, afirma a empresária. “Meu sonho transcende resultados financeiros. Acredito profundamente que negócios podem e devem ser instrumentos de transformação, e trabalho diariamente para isso”.
A trajetória de Patrícia até aqui foi marcada por caminhos diversos, mas sempre conectados à educação e à inovação. Formada em Letras, ela já atuou como modelo plus size, revisora, redatora e designer. “Sempre tive a criatividade como característica marcante, o que me levou a estudar design visual e gráfico por conta própria. Iniciei apoiando projetos educativos e negócios virtuais de amigos”, conta.
O ponto de virada veio em 2019 com o engajamento em uma página no Instagram dedicada a conteúdos educativos – de disciplinas escolares tradicionais a temas como preservação ambiental e curiosidades sobre a natureza. “A experiência ganhou ainda mais força durante a covid-19, quando percebi o efeito educativo que estava gerando, especialmente com o público adulto”. Em paralelo, revisou um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre os Marcos Legais das Startups, o que abriu as portas para o ecossistema de inovação e empreendedorismo.
“Desde então sigo determinada a resolver problemas reais do cotidiano, combinando minha experiência como educadora com minha paixão por tecnologia para enfrentar desafios como as mudanças climáticas, e promover justiça ambiental”, afirma.
Segundo a empreendedora, os diferenciais da startup estão nos recursos pedagógicos criados. “Não somos apenas uma plataforma de entretenimento, mas uma solução educacional completa com quizzes, dashboards personalizáveis, sistema de acompanhamento de desempenho dos alunos e rankings que estimulam uma competição saudável. Proporcionamos tanto um caminho divertido para a conscientização ambiental quanto uma ferramenta valiosa para educadores”, afirma.
Transformar a Gamezônia em um negócio de impacto socioambiental exigiu mais do que uma boa ideia: a captação de profissionais especializados e os recursos para o desenvolvimento da tecnologia exigiram networking e persistência. “Um ponto crucial foi o processo de validação junto aos povos e comunidades amazônidas, buscando permissão e colaboração para recontar suas histórias e vivências de forma autêntica e respeitosa”, conta Patrícia. Construir reputação e estabelecer a startup como autoridade na área também foram pontos desafiadores.
Durante esse percurso, a empresária ressalta que passou por momentos de dúvidas e que seria desonesto dizer que nunca pensou em desistir. “Os desafios são imensos, especialmente quando estamos lidando com uma causa tão profunda quanto a preservação da Amazônia. Para ela, o que manteve o negócio de pé foi encontrar pessoas que compartilhavam do mesmo propósito e visão.
O Inova Amazônia, realizado pelo Sebrae em 2022, foi a alavanca para desenvolver um negócio estruturado. Ao participar do programa gratuitamente, os sócios passaram por mentorias e capacitações, além de momentos de conexão. “A instituição nos proporcionou oportunidades de validar nossa solução em eventos locais, regionais, nacionais e até internacionais, permitindo construir uma rede de contatos abrangente e consistente”.
O propósito de criar negócios que promovam mudanças positivas pauta as decisões de Patrícia, que recentemente cofundou a Compliance Shield. A startup surgiu a partir da estatística de que aproximadamente 80% dos negócios fracassam por problemas jurídicos e de compliance. “A nova solução funciona como um escudo protetor para empresas, democratizando o acesso a contratos essenciais, ajudando na construção de compliance e prevenindo erros jurídicos que poderiam comprometer a continuidade dos negócios”, afirma. A meta é escalar a solução por todo o Nordeste nos próximos meses”.
Como conselho para as mulheres que desejam empreender, ela recomenda que o primeiro passo seja ressignificar o medo, que não deve ser visto como um inimigo, mas como um trampolim para a coragem. “A responsabilidade de abrir caminhos para as próximas gerações me dá força para persistir. Precisei ser minha própria referência, mas entender o impacto desse movimento me mantém determinada”, finaliza.