Radar da FAB, importante parceira comercial da Thales (Divulgação FAB)
Repórter
Publicado em 18 de setembro de 2025 às 05h36.
Você acorda, checa algumas mensagens no celular, compra alguma coisa no cartão e, horas depois, se prepara para embarcar num avião. Para muitos, algo corriqueiro. Talvez o que não se saiba é que uma empresa tem produtos e serviços para todos esses momentos.
Numa rua sem saída em São Bernardo do Campo, São Paulo, está localizada a sede da multinacional francesa Thales. A companhia desenvolve trabalhos em três frentes: Defesa e Segurança, Aeronáutica e Espaço, e Cibersegurança e Identidade Digital.
Além de São Paulo, o grupo tem escritórios comerciais em São Paulo, São José dos Campos, Rio de Janeiro e Brasília.E três fábricas: São Bernardo (unidade dedicada às atividades de Defesa e Aviação), Pinhais (produção de cartões bancários, SIM Cards e documentos eletrônicos) e Barueri (unidade de cartões inteligentes e centro de pesquisa para segurança cibernética e identidade digital).
Em comum, todas as unidades primam pela discrição. Por ter braços em setores sensíveis como defesa e cibersegurança, a empresa também abre poucos números, sempre globais.
Por ano, a Thales investe cerca de 4 bilhões de euros (R$ 25 bilhões) em pesquisa e desenvolvimento, sobretudo em IA e tecnologia em nuvem. As vendas no ano passado foram de 20,6 bilhões de euros (R$ 129,4 bi). O objetivo é aumentar o investimento em P&D para 5 bilhões de euros até 2028.
A multinacional está no Brasil há mais de 50 anos, tendo forte parceria com as Forças Armadas, principalmente na parte de radares (opera mais de 130 deles) e sensores. Por aqui são 1.300 funcionários.
Também é responsável pelo fornecimento de sistemas de comunicação para a Embraer, como o do cargueiro militar KC-390, além de estar no projeto do eVTOL, o chamado "carro voador" da companhia, que tem o primeiro voo de teste programado para 2026.
"Não existe outro país no mundo com mais radares de controle de espaço aéreo da Thales do que o Brasil. Aqui você tem capacidade e competitividade. Estamos conseguindo entregar", diz Luciano Macaferri, VP Latam e Diretor-Geral da Thales no Brasil.
Radar de rastreio, equipamento também produzido pela multinacional francesa (Divulgação)
Ele lembra que, recentemente, a diretoria da empresa no país fez uma reunião sobre estratégias e que, de 2018 para cá, o único ano em que não conseguiram entregar o que prometeram foi o de 2020, da pandemia.
Desde 2016 o grupo investiu R$ 100 milhões no Brasil por meio da Omnisys, empresa brasileira comprada pela Thales desde 2005 e que virou uma subsidiária do conglomerado francês no país. Entre 2025 e 2027 devem ser investidos no Brasil mais R$ 30 milhões.
Um dos grandes projetos é a ampliação da fábrica de 2 mil m² e a reforma de outros 1 mil m² da unidade de São Bernardo.
Macaferri diz que a expansão não vai parar por aí. "Queremos aproveitar esse círculo virtuoso. O Brasil transporta mais ou menos 100 milhões de pessoas por ano por avião. E a população do Brasil é 210 milhões. A França tem 60 milhões de pessoas e transporta 120 milhões por ano. Claro, eles têm uma boa infraestrutura terrestre com trens, estradas, tudo. Mas facilmente podemos pensar num potencial de mercado aqui quatro vezes maior."
Mesmo com todo esse mercado interno para explorar, os olhos da empresa também estão no exterior. O centro de radares da Thales no Brasil atende países da América, Europa, Oriente Médio e Europa.
A multinacional francesa não fica apenas na segurança e rastreabilidade da aviação. Seus negócios também estão na fabricação de cartões de crédito, tendo produzido mais de 30 milhões de cartões ecológicos para o mercado brasileiro
"O Brasil, hoje, está entre os top 3 do mundo no mercado de sistema de pagamento. Tem muito cartão de crédito. Em termos de conectividade, porém, ainda tem uma carência enorme", explica Macaferri.
Para o executivo, o conceito de cartão de banco vem mudando ao longo dos anos e ainda enxerga que a peça continuará sendo importante. "Até uns 10 anos atrás, o cartão era basicamente uma comodidade para fazer uma transação. Com o crescimento das fintechs, sem agências, o único contato físico que o cliente tem é de pegar o cartão. E aí ele começou a deixar de ser commodity, passou a ser um acessório", diz o diretor-geral da empresa no Brasil.
Em 2024, as transações por aproximação cresceram 48,3%, movimentando R$ 1,5 trilhão, enquanto as compras com cartões em sites e aplicativos somaram R$ 979,4 bilhões – uma alta de 17,9% em relação ao ano anterior, segundo a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços). Para este ano, a entidade projeta um crescimento de até 11% no volume total de transações, que pode atingir R$ 4,6 trilhões. Segundo dados fornecidos pela empresa, ela é responsável pela segurança de 80% dos pagamentos do mundo.
A empresa também é parceira na área de biometria e identidade de órgãos como a Polícia Civil de São Paulo, governo do Distrito Federal e a Polícia Federal.
Quando se fala em defesa, segurança, espaço etc, a associação com conflitos e guerras é quase imediata. E da maneira que a situação geopolítica se desenha, o mercado da Thales só tende a crescer. "Quando olhamos o mundo todo, esse cenário geopolítico, ele deve perdurar por mais uns 10 anos", diz Macaferri.
Muitos equipamentos lembram cenários de filmes de espionagem
O executivo calcula que o mundo tem hoje entre 9 a 11 conflitos, citando os "estranhamentos" entre Índia e Paquistão, Camboja e Tailândia, mas sendo os dois principais em Gaza e na Ucrânia. O grupo tem uma fábrica de radares em Israel.
Sobre o conflito na Europa, a empresa, cujo controle do governo francês é da ordem de 26%, disse que encerrou suas operações na Rússia logo no início da guerra, em 2022.
Puxando para o Brasil, a situação é diferente. "Não temos a preocupação de sermos invadidos pela Argentina. O nosso problema aqui é a chamada guerra irregular. Nosso inimigo em comum é o tráfico", explica.