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Globo vs. HBO Max: como 'Vale Tudo' e 'Beleza Fatal' reacenderam a disputa pelas novelas em 2025

Remake de clássico na TV aberta, vilã criada para viralizar no TikTok e milhões em publicidade: os bastidores da nova guerra das novelas entre Globo e HBO Max

Lola Argento e Odete Roitman, as vilãs de 'Beleza Fatal' e 'Vale Tudo': a novela brasileira voltou ao centro da cultura pop — dentro e fora das telas (Montagem sobre fotos de divulgação)

Lola Argento e Odete Roitman, as vilãs de 'Beleza Fatal' e 'Vale Tudo': a novela brasileira voltou ao centro da cultura pop — dentro e fora das telas (Montagem sobre fotos de divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 16 de outubro de 2025 às 15h08.

Não precisaram nem 10 minutos de Upfront, o evento realizado pela Globo para apresentar novidades da programação para o mercado publicitário, para que a emissora citasse - mesmo que indiretamente - Beleza Fatal, a novela do streaming HBO Max que teve alta repercussão nas redes sociais no início do ano.

“A média de Vale Tudo é de 29 milhões de espectadores por capítulo, sem contar quem vê pelo Globoplay. O daquela ‘beleza’ de novela, com a Bebel da 25 de Março, teve menos de 2 milhões no seu recorde", disse o ator e apresentador Eduardo Sterblich.

A fala comparou a vilã Lola (Camila Pitanga) com Bebel, personagem da atriz em Paraíso Tropical (2007). A resposta da HBO Max veio com ironia no X: “Tá difícil superar o novelão do ano, né, lolovers?”

A bem da verdade, em 2025, a novela brasileira voltou ao centro da cultura pop — dentro e fora das telas.

De um lado, a Globo apostou na força do clássico e no apelo da nostalgia, com uma estratégia integrada que ia do horário nobre a redes sociais dos personagens.

Do outro, a HBO Max estreou sua primeira novela brasileira tentando subverter o modelo tradicional com uma linguagem mais direta, edição acelerada e uma vilã construída para viralizar.

Uma batalha em que ambas saíram vitoriosas. A Globo faturou 200 milhões de reais com a novela, de acordo com estimativas do mercado.

Beleza Fatal também contou com publicidades contextualizadas com marcas como Mercado Livre, e garantiu reconhecimento de marca para o streaming, que tem um modelo de negócio diferente: conta com assinaturas para se pagar.

Uma máquina que ainda funciona (e fatura)

Na Globo, a resposta veio com números.

Vale Tudo se tornou o maior sucesso comercial da história da emissora: 87 ações de merchandising, 23 anunciantes de peso — incluindo Coca-Cola, Vivo e Amazon — e mais de 200 milhões de reais em faturamento publicitário.

Foi também um caso de distribuição multiplataforma com lógica integrada: conteúdo derivado, clipes para redes e o chamado “break contextualizado”, em que marcas são inseridas diretamente no intervalo com conexões ao enredo.

Não se tratava apenas de fazer um remake, mas de provar que a novela ainda podia ser uma engrenagem central no modelo de negócios da Globo — conectando dramaturgia, audiência e publicidade.

Em audiência, Vale Tudo sustentou média de 23 pontos na Grande São Paulo, ou 4,5 milhões de espectadores diários.

No digital, a presença também foi relevante: mais de 287 milhões de interações nas redes e 100 milhões de visualizações para a hashtag #ValeTudo no TikTok e Instagram.

O caso Beleza Fatal — sucesso nas redes, silêncio no Ibope

Beleza Fatal, escrita por Raphael Montes, chegou primeiro ao streaming — e com uma proposta oposta à da Globo.

A novela foi construída para o digital, com ritmo ágil, núcleos reduzidos, estética inspirada em thrillers. Foram apenas 40 capítulos, contra quase 180 de Vale Tudo.

A vilã Lola virou ícone nas redes, especialmente no TikTok, onde suas falas e looks ajudaram a novela a virar trend. A base de fãs — apelidada de “lolovers” — manteve a produção entre os assuntos mais comentados durante semanas.

Mas a tentativa de estender o sucesso para a TV aberta mostrou os limites do buzz.

Quando estreou na Band, em abril, como parte de uma estratégia de parceria com a HBO Max, Beleza Fatal marcou apenas 1,5 ponto de audiência em São Paulo.

O horário nobre da emissora, que esperava atrair um novo público, não respondeu.

A performance revelou um desafio real para as plataformas: o conteúdo criado para viralizar nem sempre traduz engajamento em audiência linear.

Por que a novela voltou a importar

Nos dois casos, o que está em jogo é menos a forma e mais a função da novela.

Para a HBO Max, a novela é um veículo de aproximação cultural com o público brasileiro, um diferencial local num portfólio global de conteúdos.

Para a Globo, é um ativo histórico que está sendo reposicionado — tanto em linguagem quanto em formato.

“A gente vai inovar no formato e na linguagem”, afirmou Manzar Feres, diretora de negócios integrados da Globo. “A ideia é alcançar públicos que estão consumindo conteúdo de outra forma, sem abrir mão da qualidade.”

Além das grandes novelas, a emissora começou a experimentar novos formatos, como os microdramas verticais.

A primeira experiência será Tudo Por Uma Segunda Chance, estrelada por Jade Picon. A obra será lançada diretamente nas redes com episódios de até 3 minutos.

E Lola deve voltar às telas da HBO em breve - a segunda temporada de Beleza Fatal está confirmada.

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