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Grandes viradas moldarão o mercado de franquias nos próximos cinco anos, diz Marcelo Cherto

Em seu artigo, o consultor Marcelo Cherto aponta cinco pontos de mudanças para franqueadoras e franqueados

Marcelo Cherto
Marcelo Cherto

Consultor de Franquias

Publicado em 25 de junho de 2025 às 06h06.

Vivemos num cenário no qual as mudanças são e continuarão a ser cada vez mais frequentes, inesperadas e profundas. Como todos os demais segmentos, o mercado de franquias, tradicionalmente vistas como um modelo de negócio sólido e previsível, não está imune a essas transformações.

Ainda que eu não disponha de uma bola de cristal, estou convencido de que, ao longo dos próximos cinco anos, haverá cinco grandes "viradas" que poderão redefinir – ou ao menos alterar de maneira significativa - a maneira como franqueadores e franqueados atuam. Entender essas tendências é fundamental para que empresas e empreendedores possam se antecipar, inovar e prosperar.

Virada digital: redes totalmente conectadas

Há tempos a integração tecnológica das franquias vem se mostrando cada vez mais relevante e, daqui para a frente, deixa de ser um diferencial para se tornar imprescindível. Redes que não incorporarem ferramentas digitais robustas serão ultrapassadas muito rapidamente pelas que o fizerem. Aplicativos, inteligência artificial e automação de tarefas (com o uso dos chamados IAgents) se tornarão lugar comum, não apenas com o objetivo de aprimorar, agilizar e tornar mais barata a gestão de franqueadoras e de franquias, mas também para melhorar a experiência dos consumidores.
Como tirar proveito dessa virada:

  • Franqueadoras: Devem investir em IAgents e outras plataformas tecnológicas que lhes permitam atuar com mais eficiência e com menos custos, além de oferecer suporte constante aos franqueados, permitindo gestão em tempo real, decisões mais rápidas e melhor controle de tudo o que acontece no dia a dia do negócio, tanto no nível da franqueadora, como no das franquias.
  • Franqueados: Precisam investir na mudança de suas próprias mentalidades e na própria capacitação digital, de modo a se colocarem em condições de utilizar as tecnologias às quais sua franqueadora lhes dará acesso (em tudo aquilo que essas tecnologias possibilitam) para, assim, melhor gerir suas unidades, elevar a produtividade de suas equipes, otimizar suas operações, personalizar ofertas e fidelizar seus clientes.

Mais consumidores darão valor à sustentabilidade

Seja por convicção pessoal, seja por pressão da mídia e de certos influenciadores, seja porque isso é “politicamente correto”, seja pelo que for, consumidores das mais diversas camadas vêm, à medida que o tempo passa, se tornando mais exigentes com relação às práticas sustentáveis. Empresas que adotarem os princípios ESG (Ambiental, Social e Governança) tendem a ganhar vantagem competitiva sobre seus concorrentes.
Como tirar proveito dessa virada:

  • Franqueadoras: Muitas precisarão redesenhar suas cadeias produtivas, com o objetivo de torná-las mais sustentáveis. E deverão comunicar claramente seus esforços nesse sentido, para fortalecer a imagem das respectivas marcas. Mas é importante fazer isso para valer e não apenas “para inglês ver”, pois, do contrário, o tiro pode sair pela culatra.
  • Franqueados: Devem implementar práticas sustentáveis em suas unidades e também nas regiões onde atuam, destacando-se na comunidade e fortalecendo os vínculos emocionais com os clientes que sejam preocupados com a sustentabilidade.

Modelos de unidade franqueada flexíveis e enxutos

Modelos de unidade franqueada compactos, híbridos e "satélites" vão se multiplicar, com o objetivo de acelerar a expansão, aumentar a capilaridade da rede e, ao mesmo tempo, reduzir o volume de investimentos iniciais necessários para se implantar uma franquia e também seus custos operacionais. Isso deverá propiciar a muitas redes uma expansão mais ágil, menos custosa e mais adaptável às variações de mercado.
Como tirar proveito dessa virada:

  • Franqueadoras: Podem explorar modelos como lojas menores, dark kitchens, dark stores, store-in-store e unidades móveis, o que lhes permitirá testar novos mercados com menos risco e ampliar sua capilaridade sem altos custos
  • Franqueados: Devem considerar a possibilidade de implantar modelos híbridos e satélites para dotar suas franquias de maior escalabilidade com menor necessidade de capital e mais rentabilidade.

Personalização da experiência de cada consumidor

Franquias de negócios que atendem diretamente consumidores ou usuários finais precisarão entregar a estes uma experiência altamente personalizada, sem deixarem de observar os padrões da marca cuja rede integram. Para isso, precisarão entender profundamente as necessidades locais, regionais e individuais dos clientes. Coisas que muitas das ferramentas tecnológicas já disponíveis no mercado (e outras que continuarão surgindo todos os dias) permitem fazer sem grande esforço e a custos razoavelmente reduzidos, desde que o empresário se organize e se capacite para usá-las da forma como devem ser usadas.

Como tirar proveito dessa virada:

  • Franqueadoras: Devem estabelecer diretrizes claras sobre como as franquias que integram as respectivas redes podem adaptar seus produtos e serviços para atender as peculiaridades e necessidades dos respectivos clientes, sem que se perca o DNA da marca. Além, é claro, de fornecer ou recomendar ferramentas tecnológicas que facilitem o trabalho dos franqueados nesse sentido.
  • Franqueados: Devem coletar e analisar dados e, com isso, entender profundamente seus consumidores ou usuários locais, de modo a lhes proporcionar experiências customizadas que os encantem e fidelizem. E que encantem também os formadores de opinião da região.

Fortalecimento da cultura de parceria entre franqueadora e franqueado

A despeito do ambiente de individualismo e de farinha-pouca-meu-pirão-primeiro em que vivemos, quem quiser sobreviver vai ter que aprender a ter, com sua franqueadora ou com seus franqueados, relações colaborativas e transparentes. Franqueadores precisarão estar mais próximos de seus franqueados, compreendendo-os como parceiros estratégicos e não apenas como operadores comerciais. E franqueados precisarão parar com essa bobagem de achar que seus franqueadores são “exploradores”, “carrascos” e outros adjetivos piores. Se você escolheu uma franquia que não serve para você, a culpa provavelmente é sua, que não investigou o suficiente antes de assinar o contrato.

Como tirar proveito:

  • Franqueadoras: Devem intensificar a comunicação, o feedback e o suporte contínuo, criando, nos franqueados, um senso de comunidade forte e de colaboração ativa. Entendendo (e fazendo com que os franqueados entendam) que estão todos no mesmo barco e, por isso, é melhor que todos remem. E remem para o mesmo lado.
  • Franqueados: Precisam participar ativamente dessa relação, compartilhando feedbacks construtivos, propondo inovações, aproveitando ao máximo o suporte oferecido e deixando de lado as rusguinhas e reclamações. Os que não estiverem felizes, que saiam da rede em que estão e vão procurar sua felicidade em algum outro lugar.

E você, está preparado para cada uma dessas viradas?

Cada uma dessas tendências apresenta desafios significativos, mas, como é comum acontecer, também oportunidades incríveis para quem estiver disposto a abraçar a mudança com agilidade e com inteligência estratégica. O mercado de franquias continuará sendo terreno fértil para crescimento, desde que franqueadores e franqueados estejam alinhados.

Convido você, leitor, a refletir profundamente sobre essas "viradas", além de outras que certamente acontecerão. E a se preparar desde já. O futuro costuma ser promissor para quem entende que a melhor estratégia para lidar com as mudanças não é resistir a elas, mas sim antecipar-se a elas.
Sim, todos nós precisamos evoluir continuamente. O mundo, o consumidor, o mercado e o Franchising estão mudando — e nós podemos estar entre os líderes dessa transformação. Basta agirmos nesse sentido.

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