Negócios

Por 30 anos, ele cuidou da comida na Aeronáutica. Agora, quer fazer o Brasil comer mais mel

O ex-aeronauta Daniel Cavalcante é dono da Baldoni e dobrou o faturamento em um ano colocando mel no cardápio dos brasileiros

Daniel Augusto Cavalcante, fundador da Baldoni Agroindústria: empresa planeja diversificar mais a linha de produtos (Baldoni/Divulgação)

Daniel Augusto Cavalcante, fundador da Baldoni Agroindústria: empresa planeja diversificar mais a linha de produtos (Baldoni/Divulgação)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 14 de junho de 2025 às 07h03.

Daniel Cavalcante, fundador da Baldoni Agroindústria, não imaginava que a entrada no mercado de alimentos aconteceria por meio de um produto como o mel. Isso porque, no Brasil, o alimento é visto mais como um remédio para gripe pela população. Nos mercados, nenhuma marca se destacava nas prateleiras e o mais comum era vê-los dentro de potes de "ursinho", algo desconectado da cultura brasileira.

Após 30 anos na Aeronáutica, Cavalcante decidiu, em 2017, dar um giro radical na carreira e empreender. Motivado pelo desejo de aplicar o conhecimento acadêmico em segurança alimentar, o empreendedor viu no mel um grande potencial inexplorado: transformar um produto visto de forma antiquada em uma marca com forte apelo e inovação.

Antes de fundar a Baldoni, Cavalcante atuou em diversos setores da Aeronáutica e se especializou em alimentos, com doutorado em engenharia de alimentos. Ao longo da carreira, teve liberdade para aplicar conceitos acadêmicos na melhoria da alimentação das Forças Armadas, antes de se aventurar no mercado privado.

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"Nosso foco sempre foi tornar o mel em um produto de qualidade superior, reconhecido não apenas como um adoçante, mas como um alimento funcional", explica Cavalcante. O primeiro ano de operação teve faturamento de R$ 1 milhão. Em 2024, a empresa viu seu faturamento saltar de R$ 27,4 milhões em 2023 para R$ 56 milhões. No ano passado, ocupou a 123ª posição no ranking EXAME Negócios em Expansão, na categoria de empresas com receita entre 5 a 30 milhões de reais.

Por que o mel?

Cavalcante decidiu focar no mel após uma série de experiências e reflexões sobre produtos de origem animal não perecíveis. Em sua trajetória, ele estudou inicialmente o bicho-da-seda, mas o produto não se mostrou viável. Em seguida, ele considerou o ovo pasteurizado, mas percebeu que, para o brasileiro, a mudança de hábitos seria difícil. Foi então que, ao andar por sua propriedade, ele se deparou com uma colmeia de abelhas, e a ideia de trabalhar com mel surgiu de forma quase acidental.

O empreendedor observou que o mel, embora fosse um produto com grande potencial, não era visto de maneira profissional no Brasil, sendo tradicionalmente encarado como um remédio. Ele identificou uma oportunidade de transformar o mel de um produto de nicho para um alimento mais acessível, com uma abordagem de marca diferenciada, focada na qualidade e na diversificação de tipos.

Fármaco ou alimento?

A jornada de Cavalcante no mercado de mel foi marcada por desafios, especialmente quando o assunto era mudar a percepção do produto. Tradicionalmente visto como um remédio, o mel é frequentemente encontrado em farmácias, associado ao alívio de gripes e resfriados. Para Cavalcante, essa visão antiquada representava um obstáculo. "O mel não é só um remédio. Ele é um alimento funcional e deve ser tratado como tal", afirma o fundador.

Em um momento decisivo, o empreendedor ouviu de uma profissional que vender 8 mil toneladas de mel por mês seria um volume grande demais para o mercado interno. "Ela me disse que seria necessário começar a exportar", relembra. Hoje, a Baldoni superou essa expectativa, alcançando 100 a 120 toneladas de mel por mês. A marca tem três fábricas e um centro de distribuição espalhados pelo estado de São Paulo.

Em vez de seguir a fórmula tradicional de venda, com embalagens comuns e sem diferenciação, a Baldoni apostou na inovação. A empresa criou linhas de mel com diferentes floradas e investiu em embalagens modernas. Além disso, firmou parcerias estratégicas com grandes marcas, como Panco e Turma da Mônica, para posicionar o mel como um produto premium.

Outro grande desafio foi educar o mercado. O setor de mel no Brasil é altamente fragmentado, com mais de 500 marcas registradas só em São Paulo. A estratégia da Baldoni foi criar uma marca forte, que foge do "pote de ursinho" comumente visto em mercados e atrai o consumidor ligado à saúde.

Projeções para o futuro

A meta agora é dobrar a receita até 2025, impulsionada pela diversificação de produtos, como geleias, doces cremosos com mel (como doce de leite com mel, coco com mel e abóbora com mel) e barras de cereal adoçadas com mel.

"Nossa ideia é aproveitar a confiança que o consumidor tem na nossa marca para entrar em novos segmentos de mercado e continuar a oferecer produtos naturais e saudáveis", conclui Cavalcante.

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