Juarez, vendedor da TekPix, ficou conhecido pelo bordão da marca (Captura de tela)
Repórter
Publicado em 5 de junho de 2025 às 11h09.
Última atualização em 5 de junho de 2025 às 12h51.
É sexta-feira à noite, e a era dos smartphones e dos serviços de streaming ainda está longe de chegar. No início dos anos 2000, o entretenimento em casa era marcado pela simples rotina de ligar a TV e se acomodar no sofá. E foi justamente nessa cena cotidiana que, em meio aos comerciais, surgiu um anúncio que chamaria a atenção de milhões: um vendedor carismático, com sorriso largo e um bordão que se tornaria icônico, anunciava um produto revolucionário: a TekPix.
"Vamos falar de coisa boa, vamos falar de TekPix!" – a frase se torna um jargão, e, com ela, a promessa de um dispositivo tecnológico "9 em 1" capaz de substituir câmeras, filmadoras, MP3 players e mais. O preço era acessível, o parcelamento facilitado, e a proposta parecia imbatível. O que ninguém imaginava era que, em poucos anos, essa câmera se tornaria um fenômeno comercial e cultural, mas também desapareceria tão rapidamente quanto surgiu, levando consigo o sonho de ser a revolução da tecnologia no Brasil.
No auge da popularidade, a TekPix não era apenas uma câmera, era quase um estilo de vida para uma parte significativa da população brasileira. Lançada pela empresa Tecnomania no início dos anos 2000, ela se tornou o "queridinho" das famílias brasileiras, principalmente nas cidades do interior, onde a marca encontrou um nicho único de consumidores.
Com um marketing agressivo, a TekPix foi comercializada em programas de TV, durante o horário nobre, e a promessa de um produto multifuncional atraiu milhões de compradores. O que parecia ser um produto simples, fabricado na China, se transformou em um sucesso de vendas. O bordão proferido pelo vendedor Juarez se espalhou por todos os cantos do Brasil.
Mas como a câmera foi capaz de alcançar números tão altos de vendas? E, o mais importante, como ela conseguiu atingir a marca de faturamento de 1 milhão de reais por dia?
A resposta está na estratégia de marketing e no modelo de vendas diretamente para o consumidor, através de call centers e condições de pagamento facilitadas. A TekPix rapidamente conquistou a confiança de milhares de brasileiros, que viam nela a oportunidade de ter um produto multifuncional de alta qualidade por um preço aparentemente acessível.
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Embora a TekPix fosse fabricada na China por preços baixos, ela foi vendida no Brasil com margens de lucro extremamente altas. O preço médio da câmera variava de R$ 958 a R$ 3.516, dependendo do modelo. Isso gerava um lucro considerável, já que o custo de produção estimado para a unidade era de cerca de R$ 300. Durante os picos de vendas, a empresa chegou a vender cerca de 1.300 câmeras por dia, o que resultava em um faturamento diário entre R$ 2,9 milhões a R$ 4,5 milhões.
O segredo para o sucesso foi a habilidade da Tecnomania de criar uma percepção de valor. A proposta de ter "9 produtos em um só" parecia irresistível, especialmente para um público que não tinha acesso fácil às tecnologias mais avançadas disponíveis no mercado. Mesmo que a qualidade do produto ficasse aquém do esperado, a estratégia de marketing conseguiu mascarar as falhas técnicas e criar uma demanda que impulsionou as vendas a patamares surpreendentes.
Porém, como muitos fenômenos comerciais, o sucesso da TekPix foi efêmero. No início dos anos 2010, a popularização dos smartphones e a queda de preços das câmeras digitais acabaram tornando o modelo da Tecnomania obsoleto. Os smartphones começaram a integrar várias funcionalidades em um único dispositivo, oferecendo câmeras de maior qualidade, áudio melhor e integração com a internet, algo que a TekPix não tinha.
A falta de inovação foi o principal fator para o declínio. Em 2013, as críticas sobre a baixa qualidade do produto começaram a se espalhar. Sites especializados publicaram análises comparativas que mostravam como, pelo preço da TekPix, era possível adquirir câmeras com muito mais qualidade. O marketing, que antes havia sido um sucesso, agora não conseguia mais sustentar a marca.
O sucesso da TekPix rapidamente se transformou em um declínio vertiginoso.
A linha de câmeras multifuncionais da Tecnomania se tornou um símbolo de uma era onde promessas de "multiplicidade" e "inovação" ainda eram capazes de conquistar o mercado, mesmo sem corresponder à realidade. Hoje, a marca é lembrada com nostalgia por muitos brasileiros, especialmente por seu bordão e pela figura de Juarez da TekPix, que se tornou um personagem popular da televisão brasileira.
Apesar do fim das vendas em 2013, o legado da TekPix persiste como um estudo de caso sobre como o marketing agressivo pode gerar sucesso temporário, mas também como a falta de qualidade e a falta de adaptação ao mercado podem levar ao colapso rápido de um produto.