Mercados-chave: saúde, educação e sustentabilidade são áreas que chamam a atenção dos investidores-anjo (IStockPhoto)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 28 de agosto de 2025 às 14h00.
Homem, entre 40 e 50 anos, dono de empresa e com aportes de até 250 mil reais para cada empresa.
Esse é o perfil típico do investidor-anjo no Brasil, de acordo com uma pesquisa inédita lançada nesta quinta-feira, 28, durante o Startup Summit, evento de inovação e tecnologia realizado nesta semana em Florianópolis.
A pesquisa realizada pelo Observatório Sebrae Startups, em parceria com a associação Anjos do Brasil, traça um panorama inédito sobre o perfil dos investidores-anjo no Brasil, suas motivações, além dos desafios no acesso a capital e na avaliação correta das startups.
A pesquisa foi realizada com base em dados coletados entre junho e julho de 2025, com uma amostra de 315 participantes de diversos setores e perfis. Os dados foram obtidos por meio de questionário online com perguntas abertas e fechadas.
O estudo mostrou que o perfil dos investidores-anjo no Brasil é majoritariamente masculino, com 81,5% dos respondentes do sexo masculino.A faixa etária predominante é de 41 a 50 anos, representando 32,4% dos investidores.
Além disso, a pesquisa apontou que a maioria dos investidores já possui experiência em empreendedorismo, sendo 34,8% empreendedores tradicionais e 26,4% executivos.
A pesquisa revelou que 49% dos investidores aplicam menos de 250 mil reais em startups. Já 14,5% dos investidores costumam aportar mais de 1 milhão de reais em cada negócio.Em termos de portfólio, 59,3% dos investidores optam por investir em até cinco startups, enquanto 12,7% têm portfólios com mais de 20 empresas, sinalizando uma estratégia focada em acompanhamento próximo e análise criteriosa.
A pesquisa também levantou dados sobre o retorno dos investimentos. Entre os 300 entrevistados, a maioria deles integrantes da Anjos do Brasil, 47% dos investidores afirmam não saber avaliar o retorno sobre o investimento (ROI).
O resultado indica dificuldades de mensurar o retorno no curto prazo, de acordo com os envolvidos no estudo. Contudo, 40,7% dos que mensuram o ROI obtiveram retornos positivos, com 6,8% relatando ganhos superiores a 5 vezes o capital investido.
A pesquisa identificou três perfis predominantes entre os investidores-anjo brasileiros:
A pesquisa também quis saber como está a adoção da inteligência artificial (IA) pelos investidores-anjo no Brasil.
Apenas 13,5% dos investidores utilizam IA em suas análises, uma diferença significativa em comparação aos 72% de adoção global, segundo a McKinsey em 2024.O estudo identificou que 92% dos investidores têm dificuldades em encontrar startups qualificadas. Além disso, 41,46% dos participantes mencionaram a falta de incentivos fiscais como um dos maiores desafios enfrentados pelo setor.
Outros obstáculos incluem a insegurança jurídica, a burocracia e a tributação sobre ganho de capital, fatores que dificultam o fluxo de investimentos.
“Com base nesses dados, é possível orientar políticas públicas, programas de formação e estratégias de conexão mais eficazes entre startups e investidores”, diz Décio Lima, presidente do Sebrae.
“O investimento-anjo precisa deixar de ser exceção e se tornar regra em um país com vocação para inovação.”
Num cenário de juros elevados como o do Brasil atual, como incentivar a expansão do investimento-anjo — seja para abarcar mais mulheres, ou quantias mais elevadas e em mais segmentos da economia?
Para Cássio Spina, embora o momento de juros altos seja desafiador porque aumenta a atratividade de opções mais seguras, como a renda fixa, no longo prazo o cenário não é tão ruim assim.
“Em períodos de juros elevados, o capital torna-se menos abundante, o que pode resultar em valuations mais atrativos para quem quer investir numa startup”, diz ele.
“O momento atual, com taxas de juros elevadas, representa uma oportunidade favorável para investir, especialmente para aqueles que têm uma visão de médio a longo prazo.”
A pesquisa ainda sugere a adoção de incentivos fiscais para estimular o investimento-anjo no Brasil.
A proposta de isenção tributária sobre ganho de capital é vista como uma medida importante para fomentar o mercado de investimentos em startups.
Países como a África do Sul, China e Índia adotaram políticas semelhantes, oferecendo benefícios fiscais para investidores em startups.
“Esses incentivos não significam perda de arrecadação, mas sim ganho, pois fortalecem o empreendedorismo inovador, aumentam a competitividade e geram desenvolvimento econômico e social”, diz Spina.