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Lembra deles? Calçados Bamba voltam ao jogo e querem ganhar as ruas (e as lojas) do Brasil

Depois de décadas fora do mercado, marca aposta na nostalgia e na produção artesanal para voltar às vitrines em 2026, com distribuição nacional e tiragens limitadas

Stefano Hawilla, Adriano Iodice e Júlia Maringoni, os sócios da Bamba: “Nossa estratégia não é por idade ou classe social, é por autenticidade. A pessoa está de Bamba no pé tendo 18 ou 60 anos” (Thalles Leamari / Bamba/Divulgação)

Stefano Hawilla, Adriano Iodice e Júlia Maringoni, os sócios da Bamba: “Nossa estratégia não é por idade ou classe social, é por autenticidade. A pessoa está de Bamba no pé tendo 18 ou 60 anos” (Thalles Leamari / Bamba/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 13 de agosto de 2025 às 10h08.

Última atualização em 13 de agosto de 2025 às 12h05.

Nos anos 1980 e 1990, era difícil entrar numa quadra de escola ou num campinho sem ver um par de calçados Bamba no pé de alguém. Popular entre estudantes e no dia a dia, o tênis virou peça obrigatória no uniforme não oficial de muita gente.

Para alguns, a lembrança vem acompanhada de histórias de “chulé” e bolhas. Para outros, é sinônimo de um calçado barato, prático e com cara de infância.

Décadas depois, o modelo icônico está de volta – e agora vai acelerar sua presença em pontos físicos, chegando nos pontos de venda multimarcas a partir de fevereiro de 2026.

A retomada tem nome e sobrenome: Julia Maringoni, veterana do mercado calçadista há 20 anos. Ao lado de dois sócios, Adriano Iodice e Stefano Hawilla, ela licenciou a marca da Alpargatas e assumiu o desafio de equilibrar nostalgia com uma proposta moderna de conforto, sustentabilidade e tiragens limitadas.

A operação foi retomada no fim de 2023 apenas no e-commerce, mas a demanda presencial levou à abertura de uma loja conceito em Pinheiros, São Paulo, no fim de 2024.

Agora, com representantes comerciais espalhados pelo país, a marca se prepara para encarar a concorrência nas prateleiras físicas.

“Nosso objetivo sempre foi democratizar o acesso e expandir com propósito. O Brasil é gigantesco, e tem cidades que nunca teriam a chance de conhecer a marca se não fosse pela capilaridade que o atacado oferece”, diz Julia.

O plano inclui manter a essência artesanal: cada par passa pelas mãos de cerca de 60 profissionais. A produção será feita sob demanda, para evitar estoques encalhados e permitir que lojistas menores comprem em entregas fracionadas. A expectativa é ampliar o alcance sem inflar a operação: “Queremos estar nos pontos mais legais do Brasil inteiro”, afirma.

A volta de um ícone popular

A Bamba fez parte do cotidiano brasileiro por décadas, mas acabou desaparecendo do mercado e da memória das novas gerações.

Inspirando nos All Star, o tênis nacional era de lona e solado de borracha. Assim como o norte-americano All Star, o Bamba tinha várias cores e podia ser usado por meninos e meninas.

O produto foi descontinuado no início dos anos 1990. À época, os preços dos calçados estrangeiros caíram ou começaram a ser produzidos por aqui mesmo, o que aumentou a concorrência e dificultou a vida dos tênis brasileiros, como o Bamba e o Conga.

“O Stefano, meu sócio, achava um desperdício a Bamba estar perdida por aí. Quanto mais tempo passasse, mais esquecido ficaria”, lembra Julia.

O movimento de retomada começou com o licenciamento junto à Alpargatas, e a entrada de Julia no projeto trouxe experiência de quem já trabalhou com marcas internacionais e conhece as particularidades do calçado.

“Eles me chamaram achando que eu faria uma consultoria, mas disseram: ‘Não, precisamos de uma sócia. Quem vai tocar isso vai ser você’.”

A marca voltou oficialmente no fim de 2023, com vendas apenas online. A ideia era manter essa estratégia direta ao consumidor, mas a procura física mudou o rumo.

“A gente recebia gente batendo no escritório da Vila Leopoldina para provar tênis. Não tinha nem cadeira para a pessoa sentar”, conta. Foi assim que nasceu a loja conceito.

Aberta em outubro de 2024, a loja concentra estoque, área de desenvolvimento e até uma cozinha para receber clientes com café e bolo. É também um showroom vivo da marca, com uma seringueira no centro do espaço – referência à borracha certificada da Amazônia usada nos solados.

Qual é o plano para conquistar o varejo

A partir de fevereiro de 2026, a Bamba volta ao canal multimarca, com distribuição nacional. Serão dez representantes comerciais, alguns com dois pontos de atuação por região, equipados com showrooms para apresentar os modelos aos lojistas.

“Não é malinha de vendedor, é uma estrutura mais parruda”, afirma Julia.

As vendas seguirão um calendário: pedidos abertos entre setembro e outubro de 2025 e entregas em três lotes, para facilitar a entrada de lojistas pequenos. “A gente vai produzir exatamente o que for pedido. Não vamos ter sobra de estoque”, diz. É uma forma de controlar custos e manter a proposta de exclusividade.

O teste já começou: algumas multimarcas receberam pedidos pontuais, inclusive em cidades sem histórico de vendas da Bamba. Em uma delas, no interior, a chegada do produto virou “assunto da cidade”. “A lojista comprou para trazer a fofoca para dentro de casa. Foi muito legal”, conta Julia.

O objetivo é capilarizar, chegando a capitais e interiores. No Nordeste, por exemplo, Fortaleza já se destacou como mercado promissor. A ideia é diversificar canais sem perder o controle da operação e sem transformar o produto em um item de produção massiva.

O relançamento equilibra dois alvos: quem viveu a Bamba no passado e jovens que nunca ouviram falar da marca.

O preço de entrada, 458 reais, é pensado para atrair uma faixa ampla de consumidores, enquanto modelos especiais podem chegar a 888 reais.

“Nossa estratégia não é por idade ou classe social, é por autenticidade. A pessoa está de Bamba no pé tendo 18 ou 60 anos”, afirma Julia.

Essa autenticidade é reforçada na criação dos modelos. Julia assina 100% dos desenhos e lança produtos em “conta-gotas” – alguns para ficar, outros em edições limitadas de até 40 pares. “Não é que a gente sai produzindo sem medida. É uma produção coerente.”

Parte do trabalho é revisar a memória afetiva.

“Tem gente que fala: ‘Eu amava meu Bamba, mas dava muito chulé’. Isso era tecnologia de 40 anos atrás. Hoje evoluímos muito em conforto e materiais.” O mesmo vale para bolhas e desconforto – problemas que a marca quer deixar no passado.

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