Fudadores da Aiqfome: “Ter mais de um player ajuda a reduzir as taxas para os restaurantes e melhora a qualidade do serviço para o consumidor" (Edição EXAME/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 1 de julho de 2025 às 14h03.
Última atualização em 1 de julho de 2025 às 16h30.
O mercado de delivery nunca esteve tão movimentado. Rappi, 99Food e Meituan estão investindo bilhões de reais para disputar o domínio das capitais com o iFood. Enquanto eles olham para os grandes centros urbanos, o Aiqfome, segunda maior plataforma de delivery do país, tem olhado para o interior.
“A nossa ideia foi comer pelas beiradas. Começamos nas cidades menores, onde a concorrência ainda não era tão forte. A demanda por delivery no interior é crescente e o mercado ainda não está saturado”, diz o CEO Igor Remigio.
Para Igor, o cenário atual do mercado de delivery no Brasil é competitivo, mas também saudável. “Ter mais de um player ajuda a reduzir as taxas para os restaurantes e melhora a qualidade do serviço para o consumidor. Em um mercado tão grande quanto o Brasil, vemos que há espaço para todos crescerem”, comenta.
Mesmo com a chegada de novos players como a Meituan, ele acredita que o Aiqfome mantém um diferencial competitivo nas cidades menores, onde já consolidou sua liderança.
Com uma trajetória sólida, o Aiqfome projeta R$ 2 bilhões em vendas até 2025. A expansão para novas cidades e a diversificação de categorias, como supermercados, farmácias e pet shops, são os motores que impulsionam esse crescimento.
A empresa tem se concentrado nas cidades menores, onde a concorrência ainda é mais branda, mas com grande potencial de demanda. Além disso, o Aiqfome está investindo fortemente em canais próprios de vendas, como WhatsApp, QR Code na mesa e autosserviço, garantindo que seus parceiros não dependam exclusivamente dos grandes marketplaces para gerar vendas.
O Aiqfome quer chegar a 1000 cidades, com foco em localidades de até 500 mil habitantes, onde a demanda por delivery segue em crescimento, mas a concorrência ainda é mais baixa.
Para entrar nas grandes cidades nos próximos anos, a estratégia da empresa envolve a utilização da força da marca Magalu, que adquiriu o Aiqfome em 2020.
“A nossa ideia é usar a força da marca Magalu para acelerar nossa entrada nas capitais, onde a competição é mais acirrada. Com a sinergia da Magalu, vamos poder utilizar sua infraestrutura e sua base de clientes para conquistar as grandes cidades”, diz Remigio.
Steph Gomides e Igor Remigio, fundadores do Aiqfome (Aiqfome/Divulgação)
O AiQFome teve um começo modesto. Fundada por Steph Gomides e Igor Remigio, a plataforma nasceu da necessidade de transformar a experiência de pedidos de restaurantes. Com um investimento inicial de apenas R$ 600, o casal começou a operar em 2007, num Brasil onde a internet ainda era discada e muitos restaurantes sequer possuíam computadores.
O primeiro site foi lançado com o objetivo inicial de criar um "guia gastronômico" online, onde os consumidores podiam acessar cardápios e fazer pedidos. “A digitalização demorou um pouco para chegar, mas sabíamos que ela viria rápido”, diz Igor.
Nos primeiros anos, a adesão foi lenta. “Tínhamos que convencer os donos dos restaurantes de que aquilo ia funcionar, mas muitos achavam que a internet era uma moda passageira”, lembra Igor.
Apesar das dificuldades iniciais, o casal persistiu. A virada aconteceu em 2012, quando, com a popularização da internet banda larga, eles criaram o modelo de licenciamento, o que permitiu o aplicativo crescer de forma eficaz e sustentável.
Uma das grandes inovações foi o modelo de expansão baseado em licenciamento local. Em vez de focar nas grandes capitais, como outras plataformas, o AiQFome se consolidou no interior do Brasil, com a ajuda de empreendedores locais que atuavam como “embaixadores” da marca.
“Decidimos que as pequenas cidades tinham mais a ver com o nosso perfil”, diz Remigio. “É um mercado mais familiar, e ninguém conhece melhor as necessidades de um restaurante local do que um empreendedor que mora na cidade”, completa.
Esse modelo foi decisivo para o sucesso do AiQFome. Ao contratar parceiros locais como licenciados, a empresa conseguiu criar uma rede de embaixadores que entendem a realidade de cada cidade.
"Estamos criando canais próprios para que nossos parceiros possam ter mais controle sobre suas operações e, assim, aumentar a rentabilidade, sem ter que arcar com taxas altas", diz o CEO.
A venda do Aiqfome para o Magazine Luiza em 2020 permitiu a empresa escalar de forma mais rápida. A plataforma, que inicialmente focava em pedidos de comida, já oferece entregas de farmácias, supermercados e pet shops, e quer se consolidar como um super aplicativo.
“Nossa proposta sempre foi criar um modelo ganha-ganha. Enquanto outras plataformas cobram até 30% de comissão, nossa taxa é muito mais baixa, porque acreditamos que todo mundo precisa lucrar para o negócio ser sustentável”, explica.
O AiQFome conta com 30 mil restaurantes parceiros em 700 cidades em sua base.
Desses, aproximadamente 5 mil restaurantes utilizam a plataforma completa da empresa, que oferece uma gama de ferramentas para a gestão do negócio, incluindo controle de estoque, precificação e integração com diversos canais de venda, como WhatsApp e QR Code na mesa.
Esses parceiros que adotam a plataforma completa podem otimizar suas operações e ampliar suas margens, ao mesmo tempo em que têm maior autonomia em relação ao marketplace.
O restante da base de restaurantes utiliza o AiQFome de forma mais básica, apenas para pedidos e delivery, sem acessar todos os recursos integrados disponíveis para quem adota a solução completa.
O mercado de delivery no Brasil segue em expansão, com novos investimentos e movimentos estratégicos.
A Rappi anunciou R$ 1,4 bilhão de investimentos nos próximos três anos, para dobrar o número de restaurantes cadastrados e isentar os parceiros de comissões até 2025.
A 99Food, após encerrar suas atividades em 2023, está planejando um relançamento com R$ 1 bilhão em investimento.
Além disso, uma grande parceria estratégica entre o iFood e o Uber Eats, com a integração de seus serviços no Brasil. A partir do segundo semestre de 2025, os usuários do iFood poderão solicitar corridas através do app, e a Uber passará a oferecer pedidos de comida, farmácias e mercados diretamente em seu aplicativo.
A Meituan, gigante chinesa de delivery, também está entrando com força no Brasil. Com um investimento de R$ 5,6 bilhões nos próximos cinco anos, a Meituan chegou com a marca Keeta para disputar as capitais e promete agitar o setor. A empresa, conhecida por ser um superapp, tem uma estratégia focada em taxas mais baixas para restaurantes e consumidores.
Para Igor Remigio, a competição nas capitais representa um desafio, mas também uma oportunidade de crescimento nas cidades menores.
“A competição é boa para o mercado. Ter mais de um player só melhora as condições para os restaurantes e consumidores. No momento, nosso foco é continuar fortalecendo nossa posição nas cidades do interior, onde já temos uma presença consolidada e as taxas são muito mais atrativas para os parceiros”, afirma o CEO.
Com essas movimentações, o mercado de delivery no Brasil segue em expansão, com novos entrantes e alianças estratégicas moldando a dinâmica do setor.
Enquanto as grandes plataformas se concentram nas capitais, o Aiqfome segue apostando na força do interior, onde sua estratégia de licenciamento local e taxas mais baixas tem sido o diferencial que garante sua liderança.