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Amigas de infância trocam cargos corporativos por galeria de arte — e miram R$ 5 milhões em 1 ano

Natasha Szaniecki e Ariela Mansur trocaram décadas de experiências em setores tradicionais para criar o próprio negócio

Natasha Szaniecki e Ariela Mansur, da NATA Art&Design: amigas de colégio estão juntas em nova empreitada há cerca de um ano

Natasha Szaniecki e Ariela Mansur, da NATA Art&Design: amigas de colégio estão juntas em nova empreitada há cerca de um ano

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 15 de julho de 2025 às 06h00.

Da vida corporativa para a arte. Da segurança das grandes empresas para o incerto mundo dos negócios independentes. Essa é a trajetória de duas amigas que, após anos no mercado tradicional, decidiram investir suas energias na criação de uma galeria de arte. Em menos de um ano de operação, a NATA Art&Design e seu braço de 'lojinha', a La Petite Nata, já conquistaram um faturamento 75% superior ao valor investido inicialmente, e projetam alcançar R$ 5 milhões em 2025.

“Não é fácil abandonar uma carreira consolidada e arriscar tudo por algo que você realmente ama. Mas quando você acredita no que está fazendo, os resultados começam a aparecer”, afirma uma das fundadoras, Natasha Szaniecki. Criada com a amiga de adolescência, Ariela Mansur, a galeria e a loja nasceram do desejo de criar algo acessível e diferente do que os consumidores estão acostumados.

A Nata Arte tem como foco a curadoria de artistas emergentes e consagrados, enquanto a La Petite Nata oferece peças de design mais acessíveis, mas igualmente exclusivas. “A ideia é conectar o público de maneira orgânica e sem as barreiras que muitas galerias impõem”, diz Mansur.

Galeria de arte NATA, no bairro de Pinheiros, em São Paulo

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Como tudo começou?

Ambas vêm de trajetórias profissionais distintas, mas com um ponto em comum — paixão pela arte. As amigas se conheceram na adolescência, por volta dos 15, quando eram colegas de colégio.

Natasha Szaniecki cresceu em meio a exposições e artistas renomados: seu pai, Valdemar Szaniecki, foi um dos principais marchands do país e inaugurou, ainda nos anos 1950, uma galeria em São Paulo com nomes como Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral e Alfredo Volpi. “Eu chegava da escola e, às vezes, o Tom Zé estava sentado no sofá da minha casa tocando violão”, relembra. “Meu pai é personagem de um dos livros do Jorge Amado”.

Mesmo convivendo com artistas a vida toda, Natasha decidiu estudar Jornalismo e passou quase duas décadas em comunicação corporativa antes de voltar às raízes. Foram 16 anos na Viacom/Paramount (dirigindo a comunicação de canais como Nickelodeon e MTV) e, em seguida, três anos como diretora de comunicação da Endemol Shine, gigante global de reality shows.

Ariela Mansur, por sua vez, construiu carreira no mercado financeiro. Depois de mais de 20 anos entre bancos e gestoras de investimento — e motivada pela chegada aos 50 anos —, decidiu que era hora de transformar o hobby de visitar museus em profissão.

“Sempre fomos fascinadas por arte, mas queríamos criar um espaço que derrubasse a ideia de que galeria é lugar frio e inacessível”, diz Mansur.

Qual o diferencial da Nata?

Da união das duas nasceu, em 2024, a NATA Art&Design, com a missão declarada de oferecer curadoria contemporânea sem a rigidez das galerias tradicionais.

Hoje, os valores das obras variam de R$ 30 mil a R$ 200 mil. O acervo conta com nomes como Ai Wei Wei, Damien Hirst, Gustavo Prado, Hércules Barsotti, Leda Catunda, Manabu Mabe e Maxwell Alexandre.

A de maior valor é "Mulher Reclinada", de Mário Cravo Jr.: a peça de dois metros de altura, feita em madeira policromada, é avaliada em R$ 1 milhão.

Para as fundadoras, o espaço da Nata — um cubo de vidro amarelo localizado no coração de Pinheiros — reflete essa proposta. A galeria é acolhedora, com uma curadoria cuidadosamente selecionada que visa atrair tanto colecionadores experientes quanto aqueles que estão começando a se interessar pelo universo da arte contemporânea.

O espaço remete à ideia de uma casa, e permite aos visitantes interagir com as obras de forma descontraída. “Colocamos sofá, mesa, iluminação aconchegante”, diz Mansur. “Assim, o visitante pode imaginar como aquilo ficaria em cima do próprio sofá”.

Galeria de arte NATA, no bairro de Pinheiros, em São Paulo

Por dentro da Nata: ideia do espaço é já mostrar a peça de arte inserida no ambiente

Arte pode ser acessível?

A La Petite Nata, por sua vez, é inspirada nas lojinhas de museus como o americano MoMA. Com peças a partir de R$ 2 mil, tem se tornado uma opção interessante para quem deseja começar a coleção sem precisar fazer grandes investimentos.

As 'galerias' que vendem por valores menores ao da Petite Nata costumam ser sites, com milhares de prints disponíveis. Em São Paulo, a galeria Zipper, por exemplo, apresentou obras de artistas fora do eixo paulista em uma exposição e, assim, conseguiu oferecer peças num preço mais acessível: de menos de mil até 12 mil reais.

São poucos os exemplos no mercado. Ao mesmo tempo, um estudo global recente indica um aumento do volume de transações de obras acessíveis. Em 2024, o mercado global de arte enfrentou uma queda de 12% no valor total das vendas, totalizando US$ 57,5 bilhões, segundo o Art Basel & UBS Global Art Market Report 2025.

No entanto, o número de transações aumentou 3%, impulsionado pela demanda por obras abaixo de US$ 5.000. Esse segmento, em especial, atraiu novos compradores, incluindo jovens colecionadores: 44% dos compradores em 2024 foram novos no mercado.

O desafio de conectar-se com um público jovem na era digital não é pequeno. Como aponta Szaniecki, a geração Z é digitalmente engajada, mas, ao mesmo tempo, ainda vê a arte como algo distante e difícil de acessar.

A experiência do consumidor no mercado de arte precisa ser repensada para quebrar essa barreira. Mas, para as fundadoras, a combinação de curadoria afiada, preço justo e a experiência de consumo tem sido a chave do sucesso.

“Fizemos exposições que, mesmo em dias de chuva, atraíram mais de 200 pessoas, o que é um ótimo sinal de que estamos no caminho certo”, diz Mansur. Apesar de não revelar quanto investiram para abrir a galeria, a dupla afirma que já faturou 75% do valor investido. A expectativa é alcançar R$ 5 milhões em faturamento até o final do ano.

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